Paciente rezou em parto de mãe com covid na UTI; bebê é menina e passa bem
O coronavírus passou a ameaçar duas vidas quando infectou o corpo de uma mulher de 28 anos. Ela estava grávida de uma menina. Elisa crescia na barriga da mãe havia 31 semanas e corria o risco de não conhecer o mundo. A mulher chegou numa UTI móvel ao Hospital das Clínicas, em São Paulo, por volta das 18h30 de domingo.
Um aparelho foi colocado na barriga da mãe e verificou que os batimentos cardíacos da bebê não estavam na frequência correta. A intenção era fazer o parto imediatamente, mas a mãe estava tão mal de saúde que não resistiria. Os intensivistas começaram a ajustar o respirador numa batalha para aumentar a oxigenação do sangue. Levou uma hora, mas conseguiram.
"Quando a mãe chegou, a bebê estava em sofrimento. A mãe estava em estado muito grave e refletia no bebê. A mãe começou a oxigenar melhor, e ela melhorou. Havia mais exames que poderiam ser feitos, mas não havia tempo de verificar artérias. A gente escutou que a bebê estava viva e decidimos agir", explica a médica Glenda Beozzo, que foi uma das 15 pessoas que trabalharam no parto.
Primeira etapa vencida, uma reunião foi improvisada. A possibilidade de a mulher morrer no caminho para o centro cirúrgico da obstetrícia era muito grande. Os médicos improvisaram um centro cirúrgico no corredor da UTI. O mutirão foi tão grande que a funcionária da limpeza ajudou a esterilizar a mesa onde seriam colocados os objetos da bebê.
O leito em que a mãe estava intubada desde que chegou no Hospital das Clínicas foi levado para o corredor da UTI e a médica que fez o parto fez praticamente um contorcionismo para poder trabalhar. Uma mesa cirúrgica é estreita e permite acesso a qualquer região do corpo. Mas a médica precisou se esticar sobre uma cama grande e com um bisturi na mão. A perícia impressionou o restante da equipe que tentava salvar as duas vidas.
A UTI do Hospital das Clínicas é feita com salas de vidro, e uma paciente que estava consciente e próxima e pôde ver a menina nascendo. Ficou tão emocionada que juntou as mãos e começou a rezar. A médica Glenda Beozzo conta que havia tanta intensidade na oração que fez sinal de positivo para a mulher, sinalizando que tudo corria bem.
Mas estar fora do ventre da mãe não significava que Elisa estivesse salva. Ela não chorou quando o parto terminou. Foi preciso muito medicamento para manter a mãe viva, e a menina precisou de cuidados. O coração de um recém-nascido bate 120 vezes por minuto. O dela estava com 80 batimentos por minuto. Foi realizado procedimento de reanimação e, conforme o tempo passava, a bebê respondia.
"Ela precisou de ajuda para respirar. Foi intubada e recuperando a frequência cardíaca, ficando corada. A UTI é um ambiente muito pesado, com muito paciente grave. O parto foi um pingo de esperança, um pingo de luz", afirma a médica.
Glenda conta que o nome da bebê deveria ser Elisa, mas a médica já viu muita mãe mudar de ideia depois do nascimento. A menina fez o teste para covid-19 e deu negativo. A garota tem 1,75 kg e deve ficar dois meses internada até sair com a saúde restabelecida. Há possibilidades de sequelas, mas Glenda tem esperanças que nada de pior aconteça. A parte triste é que o isolamento exigido pela pandemia impede o pai de se aproximar da criança.
A mãe continua internada e corre risco de morrer, mas o intensivista Bruno Besen lembra que a mãe está na idade das pessoas que conseguem se recuperar da covid-19.
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