'Não precisava ter dito algumas coisas', diz Mourão sobre Mandetta
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, disse hoje em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, se excedeu na entrevista que concedeu ao programa Fantástico, da TV Globo.
"No caso do Mandetta, o trabalho técnico da equipe está sendo considerado muito bom. As ações não são só do ministério da Saúde, são dos Direitos Humanos, da Cidadania, das Relações Exteriores, é setorial. Em relação à entrevista do meu amigo, que admiro muito, vou usar uma linguagem do polo: ele cruzou a linha da bola. Não precisava ter dito algumas coisas", disse.
Na entrevista exibida no domingo, Mandetta afirmou que espera "uma fala unificada e o fim da dubiedade" entre suas orientações e as do presidente Jair Bolsonaro a respeito das medidas de combate à expansão da pandemia do coronavírus. Ele ainda disse que o pico do contágio do novo coronavírus no Brasil deve ocorrer entre maio e junho.
"Isso leva para o brasileiro uma dubiedade, ele não sabe se ele escuta o ministro da saúde ou se escuta o presidente da República", afirmou Mandetta.
A declaração ocorreu horas depois de Bolsonaro dizer que "parece que está começando a ir embora a questão do vírus", em referência aos efeitos da pandemia da covid-19. Ontem, o presidente disse que "não assiste à TV Globo" ao evitar comentar a posição divergente do ministro.
Sobre a possibilidade de mudança na pasta em meio à pandemia Hamilton Mourão disse que a decisão é do presidente, embora ele acredite na permanência de Mandetta.
"O que ocorre é que isso é uma decisão pessoal do presidente. Os ministros são escolhidos por ele e permanecem até o momento que perdem a confiança do presidente, digamos assim. Existe muita especulação. Acho que o presidente não deve mudar neste momento. Não vai ser uma decisão favorável nesta hora. Ele avaliando o trabalho do Mandetta cabe mais uma conversa, chamar ele e dizer: 'vamos acertar a passada. Discutir intramuros e não na imprensa'. Não estava na conversa da semana passada, a gente só especula. A não ser que tenha um anão embaixo da mesa do presidente que vazou a informação", disse.
"Não houve entrevero, até porque tinha aquele problema das declarações do presidente no domingo, a reunião foi na segunda. O presidente abriu a reunião colocando as observações dele em relação ao trabalho de todo o ministério, da necessidade de uma centralização maior das ações, uma coordenação, dando respaldo ao trabalho do ministro Braga Netto. E óbvio, quando chegou a hora do Mandetta, ele apresentou as ponderações dele dele. Mas tudo, já vi reuniões de o pessoal subir na mesa e ficar bravo, rolou num nível de serenidade e lealdade. Não houve esse pé (briga) até porque ficaria muito ruim. Uma conversa dessa tem que ser particular e não na frente dos demais ministros que criaria um tumulto na reunião", completou.
Uso da hidroxocloroquina
Ao contrário do presidente Jair Bolsonaro, Mourão adotou um tom mais cauteloso ao falar do uso de hidroxocloroquina no tratamento da covid-19. O vice-presidente disse que prefere esperar mais para ver a efetividade do medicamento.
"A questão da hidroxocloroquina, que é ministrada com outros medicamentos, passei um ano em Angola, onde tomava uma variação da cloroquina para evitar malária. É uma discussão, existe parte do grupo médico que considera que tem resultado. Temos que olhar o grupo dos extremamente graves, que se você salvar a vida de 15% daqueles que infelizmente iriam falecer, tem uma certa validade. Tem uma discussão. Sei que o Macron (presidente da França) andou indo conversar com o cientista francês sobre o assunto. Tem hospitais usando, outros não. Prefiro esperar mais para ver até que ponto esse medicamento teria efetividade", comentou.
"Óbvio que algumas pessoas vão ter reações, como no sistema cardíacos. Voltando à minha experiência em Angola, tinha um pessoal que tomava e passava mal. Eu tomava com whisky e não sentia coisa alguma. Depende do organismo de cada um", completou.
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