Corpos mostram agressividade impressionante da covid-19, diz médico da USP
"Agressividade avassaladora". É assim que o médico Paulo Saldiva, professor titular do departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP, descreve o efeito da covid-19 nos corpos das pessoas que morreram em decorrência da doença.
O médico lidera um grupo de estudos do qual também fazem parte as médicas e pesquisadoras da USP Marisa Dolhnikoff e Renata Monteiro.
Em entrevista ao jornal O Globo, Saldiva comentou que, apesar de o estudo estar em fase inicial, as autópsias mostraram "enorme destruição" e que "o coronavírus ataca com enorme agressividade".
"Vimos muito comprometimento dos músculos, muita inflamação muscular. Isso pode explicar por que alguns doentes reclamam tanto de dores musculares", disse.
"Estudamos vários órgãos, como o pulmão, o fígado, os rins e o baço. Vimos uma agressividade impressionante do coronavírus. E sinais da resposta imunológica. Mas não sabemos como o coronavírus ilude a resposta imunológica. Queremos descobrir por que o coronavírus ataca com tanta avidez o sistema respiratório. Observamos que 80% das vítimas fatais sofreram microtrombos, principalmente nos pulmões", completou o médico.
Até agora foram realizadas 15 autópsias. A meta é chegar a 60. Os resultados de dez autópsias já foram analisados. Entre os procedimentos já feitos, eles são de vítimas entre 33 e 83 anos, sendo cinco homens e cinco mulheres.
Saldiva ressaltou que o estudo quer entender por que alguns casos evoluem tão depressa e outros se prolongam tanto até levar à morte. "Uma pessoa que passou 15 ou 20 dias internada e faleceu ficou 20 dias doente ou a infecção a afetou por muito mais tempo? Não sabemos", completou o médico.
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