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Nordeste concentra quase 80% dos 23 mil testes à espera de resultado

Lucas Ninno/Getty Images
Imagem: Lucas Ninno/Getty Images

Carlos Madeiro e Rodrigo Mattos

Do UOL, em Maceió e no Rio

24/04/2020 04h00

O Brasil tem hoje 23.152 testes de coronavírus ainda sem resultado, segundo levantamento feito pelo UOL nos estados (veja mapa abaixo). Desse total, o Nordeste concentra 79% dos exames que aguardam diagnóstico —a região registra mais casos em investigação por coronavírus do que o total de infectados confirmados.

O número é mais um indício de subnotificação no país, que registrava até ontem 3.313 mortes e 49.492 casos confirmados. O UOL levantou os dados com base em boletins diários dos estados e complementou as informações com secretarias de Saúde. Das 27 unidades da federação, 26 forneceram dados sobre os exames, com exceção do Espírito Santo.

Só foram incluídos no levantamento casos em investigação para o coronavírus nos quais foram realizados testes —há uma lista ainda maior de casos suspeitos sem exame e que foram internados por problemas respiratórios. Os dados foram coletados até a última quarta-feira (22).

Segundo o Ministério da Saúde, até a última quarta, o Nordeste tinha 11.969 de infectados confirmados. Nesta data, no entanto, outras 18.286 pessoas aguardavam o resultado de testes para coronavírus nos estados da região.

Estados como o Rio de Janeiro e São Paulo, epicentros do surto de covid-19 no Brasil, informaram ter zerado suas filas de testes. Apesar do uso do termo "zerar a fila", os testes demoram entre 24 a 48 horas para terem resultados —esse é considerado um padrão de tempo aceitável para esse tipo de exame. O governo de Minas Gerais, por exemplo, informou ter 900 testes pendentes, mas pretende concluí-los em dois dias.

Nesses estados, o desafio é ampliar a capacidade de laboratórios para conseguir aumentar a testagem da população para o coronavírus, já que atualmente as verificações são feitas apenas em hospitalizados e equipes médicas. No Nordeste, a tarefa ainda é mais árdua já que os estados não têm conseguido processar nem o volume inicial de exames para analisar a propagação da epidemia.

O estado com mais testes em aberto é o Maranhão, com 4.115 casos à espera de um diagnóstico. Ele é seguido pela Bahia, Ceará e Paraíba. O Piauí é o único estado nordestino que informa não ter fila de exames em aberto.

"Creio que podem ter alguns fatores como a própria logística para entrega dos testes, o aumento de casos em alguns estados, além das dificuldades de execução dos testes que tem de ser ampliada em todo o pais", diz Marco Krieger, vice-presidente de Produção e Inovação da Fiocruz, que cuida da operação de expansão testes pela entidade.

Desde o início da epidemia, o Brasil tem expandido sua rede de processamento de testes para coronavírus. Inicialmente, o país só conseguia analisar 3.000 exames por dia, número que já saltou para 10 mil. O plano nacional é chegar à marca de 30 mil testes por dia nos laboratórios públicos em maio, segundo a Fiocruz. Além disso, os laboratórios particulares do grupo privado Dasa pretendem processar outros 3 milhões de exames em seis meses em parceria com o Ministério da Saúde.

Testes represados indicam subnotificação no NE

Os números de testes represados no Nordeste indicam que a subnotificação de casos de coronavírus é maior do que em outras regiões do país. Segundo o Ministério da Saúde, os nordestinos respondem por 26% dos casos confirmados de covid-19 no país, um total de 11.969.

Alguns dos estados apresentam índice de letalidade acima da média nacional (6,7%), como Alagoas (8,2%), Paraíba (13%), Pernambuco (8,6%) e Piauí (7,3%). O maior número de mortes em relação a casos confirmados é outro indicador de subnotificação de infectados pelo novo vírus.

Fora o Nordeste, outra região com acúmulo de testes não finalizados é a Norte. O Amazonas soma 752 exames em aberto e o Amapá, 957.

Os testes em aberto não são o único indício de que há subnotificação de coronavírus em larga escala no país. O Ministério da Saúde registra o aumento de casos de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) desde março, momento em que a covid-19 se alastrou pelo país.

Foram 55 mil internações neste período no ano contra 8.000 em 2019. Pelos dados do governo, desse total, 26.796 hospitalizações por problemas respiratórios sem diagnósticos estão atualmente em investigação. Ou seja, são considerados casos suspeitos de coronavírus.