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Com menos isolamento e mais covid-19, áreas fora da capital preocupam em SP

Comércio fechado na região central de São Paulo - EPA / Marcelo Machado de Melo
Comércio fechado na região central de São Paulo Imagem: EPA / Marcelo Machado de Melo

Felipe Pereira e Gabriela Sá Pessoa

Do UOL, em São Paulo

06/05/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Estudo do governo de São Paulo mostrou que a diminuição no isolamento social no interior fez os casos saltarem 3.302%
  • As cidades com maior risco estão na Baixada Santista e região de Campinas, informou a Secretaria de Desenvolvimento Regional
  • O estudo sai na semana em que o governador anuncia as regras de flexibilização da quarentena, assunto que divide prefeitos
  • Grande São Paulo e Baixada Santista defendem manter o isolamento social; outras regiões pedem retomada de parte dos negócios

O isolamento social caiu, e a velocidade das infecções aumentou mais rápido: como causa e efeito, a mudança no comportamento dos moradores e a consequente aceleração da covid-19 nas cidades paulistas de fora da Grande São Paulo fazem o Palácio dos Bandeirantes olhar para litoral e interior com maior preocupação.

Do começo ao fim de abril, o número de casos confirmados explodiu 3.302% nas cidades de fora da Região Metropolitana de São Paulo, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Regional. O número expressivo se explica, em parte, pela base pequena de comparação — eram 129 pessoas contaminadas no início do mês passado, e o número chegou a 4.389 pacientes.

Mas ainda assim, a velocidade do crescimento chama atenção, principalmente se comparado com o aumento registrado na Grande São Paulo: 770%, um número expressivo, mas muito menor do que o verificado no restante do estado.

A preocupação com as cidades de fora da capital e seus arredores é ainda maior porque nessas regiões a taxa de isolamento social, 47%, está ainda mais distante dos 70% almejados pelas autoridades estaduais, e um pouco abaixo dos 51% verificados na Grande São Paulo, segundo o secretário de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi.

Baixada Santista e Campinas são foco

Segundo o secretário de Desenvolvimento Regional, os polos regionais mais preocupantes são a Baixada Santista e Campinas.

Pesquisa realizada pela pasta comparou os dados de 15 de abril com 30 de abril em vários municípios. Neste intervalo, em Santos, o isolamento social diminuiu quatro pontos percentuais. Ao mesmo tempo, a cidade viu aumento de 273% no número de contaminados e de 358% nos óbitos.

No segundo grupo de maior risco estão Sorocaba, Vale do Paraíba e Bauru. As cidades consideradas com "risco relevante" são Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Araçatuba e Piracicaba.

No começo da quarentena, o Centro de Contingência ao Coronavírus em São Paulo informava que o interior estava três semanas atrasado na disseminação da pandemia. No final de abril, este lapso temporal caiu para duas semanas e agora está ainda menor.

"A gente consegue verificar esta aceleração aguda do interior e com isso há uma aproximação, eles estão chegando no tempo da capital e Grande São Paulo. Estamos em um momento de alerta", afirmou Vinholi ao UOL.

Mensagens de Bolsonaro influenciaram, segundo secretário

A redução na adesão ao isolamento social foi consequência de uma percepção que a transmissão do coronavírus estava em queda, avalia o secretário de Desenvolvimento Regional. Mas Vinholi também disse que a ocorrência de picos da doença mudou a avaliação da população do interior.

"Estas taxas caíram nos últimos 15 dias porque houve uma percepção que estava em desaceleração não só em São Paulo, mas no Brasil e no mundo, há cerca de duas semanas. Esta percepção caiu por água abaixo quando a gente teve picos nos dias 25, 28 e 30 de abril estado - foram 2,1 mil casos, 2,3 mil e 2,5 mil casos respectivamente. E foi pico do Brasil nesta mesma semana", diz.

Vinholi também afirmou que as mensagens do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) minimizando a pandemia influenciaram. Mas o secretário de Desenvolvimento Regional disse que a verdade se impôs porque o problema começou a se aproximar da população.

Interior dividido

Enquanto a covid-19 acelera no interior paulista, a versão oficial do Palácio dos Bandeirantes é de que os prefeitos deixaram de pregar pela reabertura dos negócios e estão concentrados em garantir vagas de UTI e suas cidades. A declaração é verdadeira para alguns municípios, mas ainda existe um movimento de retomada do comércio.

A preocupação com a capacidade do sistema de saúde seria das cidades da Grande São Paulo e de Santos. Eles defendem o isolamento social por preocupação com a falta de vagas de UTI e para se prevenir da pressão que a flexibilização em outras regiões do estado traria. Já prefeitos de outras regiões do estado pedem que as regras de distanciamento sejam flexibilizadas para alguns setores da economia, levando em conta a incidência do coronavírus na população.

"Pedimos que o governador olhe para o estado com uma visão mais ampla, e não com a visão da capital da Grande São Paulo", diz Jonas Donizette (PSB), prefeito de Campinas e presidente da Frente Nacional dos Prefeitos.

Com 1,19 milhão de habitantes, Campinas registrou 403 casos confirmados e 21 mortes por covid-19. "Alguns outros dados são fundamentais: ontem eu tinha 45 pessoas internadas por covid-19 em Campinas. Hoje tenho 40. Amanhã eu abro um hospital com mais 100 leitos. Nunca diria que a situação é tranquila, mas administrável", afirma o prefeito.

Ele também questiona os dados de isolamento social, divulgados diariamente pelo governador. Cidades praianas apresentam índices mais altos que cidades com grande atividade industrial e, para Donizette, as taxas de locomoção são incomparáveis nesses casos.

Desde que mencionou a flexibilização da quarentena, o governo de São Paulo diz que adotará regras diferentes para realidades distintas. O secretário de Desenvolvimento Regional afirmou que o relaxamento da quarentena será faseado [por fase], regionalizado e setorizado.

Vinholi ainda citou experiências no exterior para pautar os próximos passos em São Paulo. A Nova Zelândia, exemplo dado pelo secretário, esperou 18 dias de queda no número de infectados para reabrir o comércio.

"A lei da oferta e demanda é impactada pela pandemia fundamentalmente, não pelo isolamento. Só vamos ter a situação resolvida, ou melhorada, quando a gente conseguir fazer declínio em torno da curva do coronavírus".

As regras de retomada serão divulgadas na sexta-feira, durante entrevista coletiva do governador João Doria. Na ocasião, será divulgada a lista das cidades que poderão reabrir parte dos negócios.