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Taxa de infecção da população por covid-19 varia de 10% no AM a 0,1% em MG

Coveiro caminha no cemitério Parque Taruma, em Manaus, durante o surto da doença causada pelo novo coronavírus - BRUNO KELLY/REUTERS
Coveiro caminha no cemitério Parque Taruma, em Manaus, durante o surto da doença causada pelo novo coronavírus Imagem: BRUNO KELLY/REUTERS

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

09/05/2020 04h00

Um estudo divulgado ontem pelo Imperial College de Londres — universidade inglesa com um dos mais reconhecidos centros de modelagem estatística de doenças infecciosas do mundo — aponta o percentual da população já infectada pela covid-19 apresenta distinções gritantes entre os estados brasileiros.

O documento traz uma análise feita nas 16 unidades da federação que apresentam um número superior a 50 mortes causadas pelo novo coronavírus. Os pesquisadores chamam a atenção para o fato de São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco e Amazonas responderem, juntos, por 81% dos óbitos, considerando esse grupo de estados.

"Nesses cinco estados, estimamos que a porcentagem de pessoas infectadas com SARS-CoV-2 varia de 3,3% em São Paulo a 10,6% no Amazonas", registra o estudo, que diz ter confiabilidade de 95% dos dados. Portanto, a cada mil pessoas, 33 estão infectadas em São Paulo e 106 no Amazonas.

Se ampliarmos essa taxa aos 16 estados analisados, a diferença percentual é ainda maior. Em Minas Gerais, por exemplo, apenas 0,13% da população teria sido infectada. Em Santa Catarina, essa taxa é de 0,23%.

"Apesar dessa heterogeneidade, os nossos resultados indicam que a imunidade do rebanho não está próxima de ser alcançada em nenhum estado", cita o texto. Imunidade de grupo ou efeito rebanho é a ideia de "gerenciar a disseminação" da doença para que a população ganhe imunidade.

"Estimamos que apenas uma pequena proporção de indivíduos em cada estado foi infectada até o momento. A parcela estimada da população infectada até o momento permanece muito aquém ao limiar de imunidade de rebanho de 70%, necessário para evitar o rápido ressurgimento do vírus se medidas de controle estiverem relaxados."

Os pesquisadores também destacam que o Brasil já tem o dobro de mortes por covid-19 registradas na China.

Fragilidade de dados

Os pesquisadores acreditam que, no Brasil, existe uma fragilidade nos dados oficiais, já que "pouco se sabe sobre a extensão e a natureza da subnotificação" no país. Para os cálculos de estimativa de população infectada, eles levaram em conta que 50% das mortes não foram registradas como covid-19.

Ainda segundo o estudo, no início da pandemia o número de reprodução — medida de intensidade de transmissão — indicava que um indivíduo infectado passava a doença em média a três ou mais pessoas.

"Após a implementação da aplicação de bloqueio de escolas e a redução da mobilidade da população, o número de reprodução caiu substancialmente nos estados. No entanto, nos 16 estados analisados mantém-se superior a um. O número de reprodução acima de um significa epidemia, e ainda não está sob controle e continua a crescer", avalia.

Os dados mostram que a maior taxa de contaminação está no Pará, com proporção de 1,9 infectado para cada pessoa com covid-19 (ou seja, dez infectados transmitem a doença para outras 19 pessoas). A menor está em Santa Catarina: 1,14.

O estudo destaca que a epidemia brasileira ainda é "relativamente inicial", o que leva os pesquisadores a sugerirem que "mais ações são necessárias para limitar a disseminação e prevenir o uso do sistema de saúde".

"Prevemos o crescimento contínuo da epidemia em todo o Brasil e aumentos no número associado de casos e mortes, a menos que outras ações sejam tomadas", afirma o documento.

Motivos para diferença

Para o presidente do Confap (Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa) e membro do Comitê Científico do Consórcio Nordeste, pesquisador Fábio Guedes, o documento da universidade inglesa revela que "estamos numa tendência inversa em relação a outros países da Europa e Ásia".

Guedes explica que a diferença de taxa de infecção entre os estados tem relação direta com o tempo de início do processo de contaminação. "Os estados com maior nível de pessoas infectadas mantinham intenso tráfego de pessoas com o exterior. No Nordeste, Fortaleza e Recife possuíam muito mais voos com destino à Europa do que Salvador. Manaus, com seu polo industrial e sua zona franca, tinha intensas relações com a Ásia", afirma.

Outro aspecto relevante, segundo o pesquisador, foi a antecipação de medidas de distanciamento social. "Quem saiu na frente com decretos que impunham regras de funcionamento das atividades econômicas e públicas está com menor índice de contaminação. No Nordeste, cidades como Recife já eram para estar sob fortes medidas de isolamento social. Se acompanhassem o mesmo que foi feito, por exemplo, na Itália, seria muito provável acontecer uma curva de inflexão no número de óbitos em Pernambuco, levando em conta o primeiro registro de pessoa que morreu por causa da covid-19 e o número de reprodução do vírus", finaliza.

Taxa de contaminação estimada da população (em %)

AM - 10,6
PA - 5,05
CE - 4,46
RJ - 3,35
SP - 3,3
PE - 3
ES - 2,24
MA - 2,07
AL - 1,2
PB - 0,64
RN - 0,56
RS - 0,42
BA - 0,4
PR - 0,25
SC - 0,23
MG - 0,13