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Governo destina mais testes a SP e RJ, estados com mais óbitos confirmados

Profissional de saúde realiza teste para o novo coronavírus em Brasília - UESLEI MARCELINO
Profissional de saúde realiza teste para o novo coronavírus em Brasília Imagem: UESLEI MARCELINO

Gabriela Sá Pessoa

Do UOL, em São Paulo

08/05/2020 21h03

Estados e regiões com maiores números de óbitos confirmados por covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, receberam proporcionalmente mais testes distribuídos pelo Ministério da Saúde, de acordo com os dados mais recentes divulgados, referentes a ontem.

São Paulo, onde há mais mortes registradas (34,52%) no país, vai receber 1,1 milhão dos dos 6 milhões de exames prometidos pelo governo federal. Essa quantidade representa 18,47% de todo o material a ser distribuído pelo Ministério da Saúde. Até agora, o estado já recebeu 695,9 mil testes rápidos, segundo a secretaria paulista de Saúde.

Na sequência, o Rio de Janeiro, onde aconteceram 15,19% das mortes, recebeu 12,17% dos testes.

O critério do governo federal para a distribuição desses testes leva em conta o número de profissionais de saúde vinculados ao SUS, os da segurança pública e a população idosa de cada município.

Os exames são reservados apenas para profissionais de saúde ativos, profissionais de segurança e familiares e idosos com sintomas de doenças respiratórias, como febre acompanhada por tosse, dor de garganta, coriza ou dificuldade para respirar.

A falta de exames em quantidades suficientes para checar a prevalência de coronavírus na população impede os gestores de lidar com um cenário preciso da epidemia no país e fragiliza a elaboração de planos seguros para o fim da quarentena.

O ministro da Saúde, Nelson Teich, chegou a afirmar em uma audiência pública no Senado, em 29 de abril, que não tem como prever o fim da pandemia e que não é possível saber com exatidão qual o percentual da população comprometida pelo novo coronavírus. Ele também afirmou que testagens em massa pode ser ineficiente porque usam tipos de exame que não são tão confiáveis.

"No mundo inteiro, não existia condição de testar quase nenhuma população além da que já tinha sido feita [a testagem]. Os Estados Unidos há dez dias conseguiram testar 4,2 milhões de pessoas. É a população da zona leste de São Paulo", afirmou Paulo Lotufo, epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em edição do UOL Debate sobre subnotificação de covid-19, transmitido na última quarta-feira (6).

A fala de Lotufo ilustra bem as limitações de recursos para realizar testagens em massa, adotadas por países como a Coreia do Sul. Epidemiologistas também descartam a efetividade de exames colhidos em farmácias, autorizados no fim de abril pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Segundo Raquel Stucchi, infectologista e professora da Unicamp, esses exames podem apresentar diagnósticos ainda mais falhos do que os testes rápidos e servem apenas para satisfazer curiosidade pessoal. Estudos populacionais, ela afirma, devem levar em conta modelos estatísticos.

A professora cita o exemplo do trabalho desenvolvido pela UFPel (Universidade Federal de Pelotas), no Rio Grande do Sul. Os pesquisadores já identificaram que, para cada caso confirmado entre os gaúchos, há pelo menos 12 que não foram notificados.

Pedro Hallal, reitor e professor do Centro de Epidemiologia da UFPel, disse, também no Debate UOL, que esses 12 casos subnotificados são preocupantes pois, muitas vezes, são pacientes assintomáticos, que deveriam ter cumprido isolamento e acabaram contribuindo para a disseminação do novo coronavírus.

Os cientistas gaúchos desenvolveram um protocolo que é repetido a cada duas semanas. Em cada fase, os pesquisadores vão até a casa de 4.500 pessoas em nove cidades para colher amostras. Na próxima semana, em parceria com o governo federal, a universidade vai reproduzir o método nacionalmente, percorrendo 133 municípios para realizar 33,2 mil testes em casa.