Governador do RS critica Bolsonaro 'radical' e defende novo distanciamento
O governador Eduardo Leite (PSDB-RS) voltou a fazer críticas à forma como o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem lidado com a crise do coronavírus. Com o Rio Grande do Sul entrando em um novo modelo de distanciamento social, iniciado ontem, Leite apontou que a postura "radical" do presidente tem dificultado a coordenação das ações de combate à pandemia.
"O que eu vejo, infelizmente, no governo federal é que a opção pelo confronto, de forma radical, rompe as pontes todas que são fundamentais nesse momento de uma conciliação com a sociedade, com o parlamento, com outros poderes, para que nós possamos coordenar ações de uma forma mais efetiva", opinou hoje o governador gaúcho em entrevista à Globonews.
Leite lembrou que, diante da falta de liderança do governo federal, os estados precisaram se conversar e tentar coordenar as ações sem a participação de Bolsonaro.
"Houve muita contestação à ciência, à gravidade da crise da pandemia, e isso tirou de certa forma a autoridade e a legitimidade do próprio governo federal para exercer um papel que é seu e que é indelegável, que é de liderança e coordenação desse processo", explicou.
A troca no comando do Ministério da Saúde, com a saída de Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) e a entrada de Nelson Teich, também prejudicou as federações na visão do governador gaúcho.
"Uma nova equipe entrou, as normas técnicas pararam de ser emitidas, o ministério teve que tomar pé com a nova equipe da situação, e aí ficamos nesse período com especial dificuldade de interlocução", relatou Leite.
Distanciamento controlado começa
O governador gaúcho aproveitou para defender seu novo modelo de combate à covid-19 no estado. Chamado de distanciamento controlado, a medida dividiu o estado em 20 regiões e vai dar classificações a elas baseadas em quatro bandeiras possíveis: amarela, laranja, vermelha e preta. Essa classificação determinará quais ações cada região terá que adotar.
"No distanciamento que estamos promovendo, chamado distanciamento controlado, não se confunda com flexibilização. Não é uma abertura feita de forma aleatória, é simplesmente um sistema em que buscamos tirar a subjetividade na decisão de distanciamento e deixarmos mais objetiva, a partir de um modelo que considera 11 indicadores: internações por síndromes respiratórias, internações por covid, casos confirmados de covid, número de óbitos, entre outros", explicou Leite.
O governador esclareceu que o modelo foi adotado agora porque o estado já tem dados referentes à doença dos últimos dois meses, o que permite a análise dessas estatísticas e a comparação constante com os períodos anteriores.
Ajuda "injusta" aos estados
O projeto que prevê o auxílio financeiro de até R$ 125 bilhões aos estados foi aprovado no Congresso na semana passada e deve ser sancionado por Bolsonaro. A ajuda, porém, não seguiu critérios justos segundo o governador gaúcho.
"Acho que os critérios foram injustos na divisão entre os estados, mas isso está superado. Está dado e merece a sanção do presidente, embora façamos esse protesto que nos critérios de divisão que alguns estados terão até 80% de cobertura do que vierem a perder de ICMS e outros, como nós, vamos ter 23%", disse Leite.
O governador gaúcho alega que as perdas estaduais com a queda na arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços foram maiores que os 23% de ajuda do governo federal. "Esse desequilíbrio é ruim do ponto de vista do pacto federativo, mas o que importa é que agora vamos ter sobre o que trabalhar", concluiu Leite.
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