Saída de Teich mostra falta de norte do governo, diz presidente do Einstein
O pedido de demissão do agora ex-ministro da Saúde Nelson Teich mostra uma falta de norte do governo federal em relação ao combate à pandemia do novo coronavírus. E seu substituto, dadas as posições negacionistas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), provavelmente não será alguém que se ampara na ciência para tomar decisões.
Essa é a posição do médico cirurgião Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. Ela participa da administração de mais de 20 unidades de saúde em São Paulo e é responsável pelo hospital homônimo na zona sul da capital.
Klajner, que já conhecia o trabalho de Teich, afirmou que o ex-ministro sempre foi pautado por evidências científicas e que havia poucas diferenças em relação ao seu antecessor, Luiz Henrique Mandetta (DEM), que foi demitido pelo governo em abril.
"No momento em que existe uma sinalização clara [por parte do governo federal] de que a evidência científica não é o mais importante para o governo, eu vejo uma total falta de capacidade de atuar, quando o que está em jogo não é a ciência, e sim um outro interesse, seja político ou econômico", diz Klajner ao UOL.
Teich deixou o governo após defender publicamente posições contrárias às do presidente Jair Bolsonaro. Além de afirmar que o distanciamento social deve ser tratado como ferramenta de combate à pandemia da covid-19, Teich publicou em suas redes sociais nesta semana que o uso da cloroquina no tratamento contra o novo coronavírus deve ser feito com restrições, já que a substância pode desencadear efeitos colaterais. Bolsonaro, por sua vez, defendeu reiteradas vezes o uso da substância, mesmo sem a devida comprovação científica.
Situação ficou insustentável
Klajner cita que a situação ficou insustentável depois do episódio em que Teich descobriu por meio da imprensa que o presidente havia incluído academias de ginástica, salões de beleza e barbearias entre os serviços considerados essenciais e que, por isso, podem funcionar.
O decreto foi feito sem o ministro saber. Naquele momento eu já achei que não dava para seguir [no ministério]. Hoje a saída selou o fato de que ele deve estar se sentindo desconfortável. Não é nem falar ou deixar de falar de remédio. Estamos vivendo uma situação de calamidade, até por conta da própria organização do SUS. [A demissão de Teich] é ruim, porque mostra a falta de um norte."
Falas de Bolsonaro atrapalharam estudo
O hospital Albert Einstein informa que está realizando um grande estudo clínico randomizado (quando os participantes da pesquisa são aleatórios), para testar os efeitos da cloroquina em pacientes com covid-19.
Klajner pontua que não há qualquer comprovação científica sobre os efeitos da substância e que as falas de Bolsonaro no começo da pandemia, quando houve uma corrida às farmácias em busca do remédio, atrapalharam a pesquisa do hospital.
"Tivemos um prejuízo nos estudos porque muitos pacientes estavam tomando em casa. Não conseguimos concluir ainda por conta da falta de dados", comenta o médico cirurgião.
Ele diz que o uso não prescrito da cloroquina impactou a pesquisa. "O paciente que poderia ser alvo do estudo já teve contato com a substância, e isso nos atrapalhou." Os ensaios devem ser concluídos em três semanas.
Sobre a entrada de uma pessoa alheia à saúde pública no cargo (o general de divisão Eduardo Pazuello é o um dos cotados para o ministério), Klajner pondera que não há necessidade de o próximo ministro ser profissional da área, desde que seja pautado por questões técnicas e científicas.
Eu não digo que que esse cargo deva ser preenchido, obrigatoriamente, por alguém que esteja voltado à saúde. Mas tem de haver uma equipe para sustentar. No momento, dificilmente teremos um ministro que será pautado pela ciência."
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