'Estava morta', diz idosa que ficou 40 dias internada; família fez vigília
Uma família fez vigília por 40 dias na frente de um hospital de Criciúma (SC) após Albertina Matiola Cechinel, 67 anos, ser internada por coronavírus. Por 30 dias, os parentes rezaram ao lado da parede externa da UTI e, nos últimos dez, fizeram as orações do estacionamento, de onde a idosa podia vê-los da janela do quarto e por transmissão pela internet.
"Eu estava morta, só a ventilação me ajudava. Coisa terrível. Tive alucinação e só pensava em coisa ruim, que meu filho tinha morrido e passei a chamar a minha mãe, que já morreu. Não foi fácil, foi desesperador. Não via mais a hora para ir embora. Entrava em pânico de ficar naquele quarto", conta Bete, como é chamada por amigos e parentes.
A idosa começou a sentir os sintomas após sair de casa, em Morro da Fumaça, e ir a Criciúma para fazer exames em um hospital e ir ao supermercado, em 16 de março. No dia seguinte, ela foi a Balneário Esplanada, no litoral catarinense, e passou a sentir dores no corpo, tendo febre por três dias seguidos. "Eu fui ao médico e ele disse que era para tomar remédio para baixar a febre, se não ficasse pior, era para ir ao hospital." Além dela, dois filhos e o marido também foram infectados pelo coronavírus. Entretanto, o companheiro, de 71 anos, ficou assintomático.
Em 30 de março, ela foi internada no Hospital de Criciúma, em um quarto próximo da UTI. "Tinha muita dor no corpo e de cabeça. E não me vinha ar, por isso, colocaram máscara de oxigênio. No outro dia me intubaram e não me lembro de mais nada", conta Albertina, que ficou por cerca de 15 dias em coma induzido.
Do lado de fora, a família e amigos começaram as orações, temendo pelo pior. Inicialmente, apenas pessoas próximas participaram, mas, logo após, até desconhecidos se juntaram na reza. "A gente fez uma tabelinha e até nas madrugadas tinha alguém orando pela mãe", conta a filha Tatiana Matiola Cechinel, 44 anos. Os parentes conseguiram ainda levar padres para abençoar os internados na UTI na Páscoa e em 3 de maio.
Albertina soube das orações ao ir para o quarto, no terceiro andar do hospital. Do alto, via parentes e amigos. "Meu filho encostava a cama na janela e eu via lá embaixo. Só abanava com a mão. Só tenho que agradecer todo mundo. Passei por tanta coisa. Muito disso se deve à fé que todo mundo teve, tanta oração. Só Deus mesmo", agradece a idosa.
Durante a internação, a idosa perdeu os movimentos dos braços e das pernas. Ela ganhou alta em 9 de maio, na véspera do Dia das Mães, e, graças à fisioterapia já conseguiu recuperar a força dos braços. "Perdi muita massa muscular. Agora estou com coragem para fazer os exercícios e tentar andar. Antes eu estava desanimada, chorava. Imagina só: antes era uma mulher viva e agora não posso nem andar!"
A filha acompanhou de perto a situação da mãe. Grávida de 36 semanas, Tatiana conta que entrou em desespero. "O sentimento de preocupação era o menor de todos. Na verdade, caiu meu chão, fiquei desesperada, sofri muito. Eu pensava: 'meu Deus, demorei para engravidar, estou na reta final, não posso perder minha mãe, não vou resistir'. Senti muito medo, desespero. Sofri muito. Eu nem dormia direito. Na noite que soube do positivo abri a janela do quarto e comecei a falar com Deus. Só Ele para dar força."
Para ela, a recuperação da mãe é mais um "milagre" na família. Em 2013, o pai dela teve complicações após passar por uma cirurgia de ponte de safena em Porto Alegre, mas conseguiu se recuperar após ficar internado por 30 dias. O outro "milagre" é a gravidez dela. "Eu estava havia quatro anos tentando, fiz quatro tratamentos de fertilização in vitro e na quinta vez eu consegui. Deus usa as pessoas para demonstrar o poder da fé, das orações", conta Tatiana, que pretende fazer a cesárea em 13 de junho, dia de Santo Antônio.
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