Brasil inclui testes rápidos, ineficazes, em estatísticas de covid-19
Resumo da notícia
- Testagem rápida é considerada pouco confiável para dimensionar o tamanho da epidemia no Brasil
- "É útil para dar sinal de alarme da doença, mas o padrão-ouro é o exame RT-PCR", diz infectologista
- Com a inclusão de testes rápidos, em menos de uma semana, país dobrou a taxa de exames de coronavírus
- Ainda assim, entre os países mais atingidos pela doença, Brasil tem um dos piores índices de testagem
Em menos de uma semana, o Brasil dobrou a taxa de testes de covid-19, segundo os números divulgados pelo Ministério da Saúde. De sexta-feira (29) até quinta-feira (4), o país foi de de 4.428 exames/milhão de habitantes para 8.737 exames/milhão de habitantes. Os números, porém, só aumentaram porque o governo federal passou a incluir na conta os testes rápidos, considerados ineficazes para dimensionar o tamanho da epidemia no Brasil.
A pasta não informou em entrevista coletiva quantos desses testes rápidos resultaram em diagnósticos positivos ou negativos. Também não respondeu aos pedidos de esclarecimento do UOL até a publicação deste texto.
Greice Madeleine, diretora substituta do Departamento de Articulação e Estratégica de Vigilância em Saúde, deu a entender na entrevista coletiva de quinta que o ministério desconhece os resultados desses diagnósticos. Ela fez um apelo para que estados e municípios os registrem nos sistemas de informação oficiais. "Caso contrário, não temos como fazer contabilidade desses testes", afirmou.
Os testes rápidos, no entanto, são pouco confiáveis e podem chegar a muitos resultados falsos. Tome-se como exemplo um grupo de 100 pessoas que têm coronavírus: as estatísticas mostram que o teste rápido acertaria o diagnóstico de 60 delas, mas não identificaria a presença do vírus em outras 40.
"A utilidade do teste rápido é para dar um sinal de alarme. Um exame alterado pode indicar a possibilidade de que a pessoa esteja infectada, mas o padrão-ouro é o exame RT-PCR, que vai indicar a presença da partícula viral", diz o infectologista Natanael Adiwardana, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo. Em muitos casos, afirma Adiwardana, a equipe médica associa a análise de sintomas do paciente para concluir se um caso é ou não de covid-19.
Mesmo contabilizando os testes rápidos, a taxa de exames realizados por milhão de habitantes do Brasil está entre as piores do mundo entre os países mais impactados pela pandemia. Nós só testamos mais do que Índia, Paquistão, México e Bangladesh.
Nos Estados Unidos, o índice é de 59.154 testes por milhão de habitantes. Na Itália, 66.970. Peru e Chile superam 30 mil testes por milhão de habitantes. "Nós focamos mais em testar casos mais graves e os outros países têm feito testagem em massa, mesmo dos assintomáticos", diz Adiwardana.
No final de abril, o ex-ministro da Saúde Nelson Teich questionou a adoção de testagem em massa no país, dizendo ser complicada e possivelmente ineficiente por utilizar exames rápidos, não tão confiáveis.
O médico Evaldo Stanislau, um dos diretores da Sociedade Paulista de Infectologia, diz que não há ganho para as medidas de controle da epidemia ao considerar testes rápidos nas estatísticas.
"Os testes rápidos são muito ruins. Podem, inclusive, induzir ao erro, por razões técnicas que podem levar a falso negativo. O Ministério da Saúde investiu em teste rápido e distribui aos estados, agora quer que usem, essa deve ser a razão. Mas, na prática, o que precisamos mesmo, é RT-PCR de boa qualidade, acessível e, principalmente, com o resultado chegando rápido", afirma Stanislau.
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