Bolsonaro tira de contexto dado da OMS sobre assintomáticos e pede abertura
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou hoje que espera uma "reabertura mais rápida" das atividades econômicas e que o "pânico pregado por parte da grande mídia" vai acabar depois de a OMS (Organização Mundial de Saúde) ter divulgado ontem que a disseminação do coronavírus por pessoas assintomáticas é "muito rara".
A OMS, no entanto, alertou que há perigo de pessoas pré-sintomáticas transmitirem o vírus e avisou que os estudos sobre assintomáticos ainda não são muito abrangentes, informações omitidas pelo presidente.
As declarações do mandatário ocorreram na abertura da reunião periódica do chamado conselho de governo, que reúne os principais ministros e chefes de autarquias, bancos e outros órgãos importantes.
"Ontem a OMS também disse que a transmissão de pessoas assintomáticas é praticamente zero. Muitas lições serão tomadas. Isso pode sinalizar a uma abertura mais rápida e do comércio e a extinção de medidas mais rígidas autorizadas pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e por prefeitos e governos estaduais. O governo federal não participou disso. Vai ter muita discussão", disse Bolsonaro.
"Esse pânico que foi pregado lá atrás por parte da grande mídia começa talvez a se dissipar levando em conta o que a OMS falou por parte do contágio dos assintomáticos", completou.
A OMS, na verdade, informou que "parece haver" baixa transmissibilidade de assintomáticos e citou por enquanto apenas um estudo de pequeno porte feito pela China.
A chefe do programa de emergências da entidade, Maria van Kerkhove, ressaltou depois, em sua conta no Twitter, que há diferenças entre assintomáticos e pré-sintomáticos —pessoas que ainda não têm sintomas, mas vão desenvolvê-los. Essas pessoas transmitem mais intensamente no início da contaminação.
Bolsonaro passou a defender novamente o fim do isolamento social com mais vigor depois dessas informações. "Quem sabe poderemos voltar à normalidade que tínhamos no começo deste ano", disse Bolsonaro ao abrir a reunião.
Apesar do estudo citado, a OMS não reviu a necessidade de isolamento social para frear a disseminação do vírus. De acordo com Van Kerkhove, as ações dos governos devem se concentrar na detecção e isolamento de pessoas infectadas com sintomas e no rastreamento de qualquer pessoa que possa ter entrado em contato com elas.
Porém, ela declarou que são necessárias mais pesquisas e dados para "responder verdadeiramente" à questão se o coronavírus pode se espalhar amplamente por pessoas assintomáticas.
Reunião ministerial
Diferentemente das edições anteriores, a agenda de hoje foi transmitida ao vivo em rede nacional pela TV Brasil, emissora estatal. A novidade ocorre quase duas semanas depois de o STF divulgar o vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, pivô da polêmica e de uma briga judicial entre Bolsonaro e o ex-ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública).
Em 22 de abril, segundo Moro, Bolsonaro insinuou que poderia demiti-lo caso ele se opusesse a uma troca de comando na Polícia Federal. Na versão do ex-ministro, a imposição teria representado uma tentativa de interferência política, já que o mandatário queria nomear na PF um amigo pessoal, o delegado Alexandre Ramagem.
Hoje, na abertura da agenda, Bolsonaro afirmou que o governo "daria uma demonstração do que é uma reunião ministerial". A frase sintetizou a mudança de tom em relação ao encontro realizado em abril, quando ele próprio exclamou várias palavras de baixo calão —além disso, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, chamou os ministros da Corte de "vagabundos". "Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF."
*Com informações da Reuters
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