Bolsonaro volta a criticar OMS e questiona número de mortos por covid-19
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a criticar a OMS (Organização Mundial de Saúde) e questionou o número de mortos em decorrência da covid-19, durante transmissão de live realizada nas redes sociais, na noite de hoje.
"A OMS fica o tempo todo num vaivém: máscara protege, ou não protege; na quarentena, fica em casa, é bom, não é bom; a questão da hidroxicloroquina... 24 horas depois muda de ideia completamente. A nossa OMS está muito deixando a desejar", disse ele. "Fala-se tanto em foco na ciência, mas com todo o respeito: quem menos entende de ciência é a OMS", completou.
Desde o início da pandemia, que já resultou em mais de 45 mil mortos só no Brasil, Bolsonaro tem feito críticas não só a OMS, mas ao seu diretor-presidente, Tedros Ghebreyesus.
A OMS tem respondido às afirmações de Bolsonaro, mas evita citá-lo nominalmente. Questionado pelo UOL sobre os comentários do presidente, Ghebreyesus evitou citar o nome do país. Mas indicou que quem seguiu os conselhos da OMS está em uma melhor situação hoje, em comparação com aqueles que não escutaram.
Dúvidas sobre o número de mortos
Durante a transmissão de hoje, o presidente também colocou em dúvida o número de mortos por causa do novo coronavírus.
"Lamento a quantidade de mortes que estamos tendo. A questão dos números deixa muita gente em dúvida ainda: morreu de covid-19 ou com covid-19?! Temos declarações de diretores de hospitais dizendo que 40% dos que entraram no óbito como covid-19 não era covid-19. Os números não traduzem as políticas que governadores e prefeitos têm que adotar, são muitas informações desencontradas. Mudamos a forma de contar, ninguém tentou maquiar números. Queremos mostrar os números reais", afirmou.
A fala de Bolsonaro pode ser uma referência ao que disse o infectologista Roberto Badaró, diretor do maior centro de referência em tratamento de coronavírus no Estado da Bahia. Bardaró afirmou na semana passada que 40% dos óbitos registrados no Hospital Espanhol como covid-19 são decorrentes de outras enfermidades.
"Eu vou dar um exemplo simples: no Hospital Espanhol, 40% dos pacientes que eu recebo não têm covid. E morrem. E no atestado de óbito tá lá: covid. Porque tem três campos no atestado de óbito. Ele vem com suspeita de covid, então entra na estatística. É preciso que se veja isso com bastante critério", disse Bardaró.
Após a repercussão, a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) publicou nota oficial em seu site, na qual Badaró mudou sua versão e disse que a afirmação feita na rádio Metrópole não corresponde à realidade. "Venho a público dizer que a forma como expressei-me não reflete corretamente o que acontece no Hospital Espanhol", afirmou.
Até ontem, o Brasil havia registrado 960.309 casos e 46.665 mortes por covid-19, segundo levantamento feito por um consórcio de veículos de imprensa, do qual o UOL faz parte. Desta forma, o país acumula dez vezes mais óbitos registrados do que a China, país onde houve o primeiro surto do novo coronavírus.
Veículos se unem em prol da informação
Em resposta à decisão do governo Jair Bolsonaro (sem partido) de restringir o acesso a dados sobre a pandemia de Covid-19, os veículos de comunicação UOL, O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, O Globo, G1 e Extra formaram um consórcio para trabalhar de forma colaborativa desde a semana passada e assim buscar as informações necessárias diretamente nas secretarias estaduais de Saúde das 27 unidades da Federação.
O governo federal, por meio do Ministério da Saúde, deveria ser a fonte natural desses números, mas atitudes recentes de autoridades e do próprio presidente colocam em dúvida a disponibilidade dos dados e sua precisão.
Na live, Bolsonaro rebateu acusações e negou veementemente que o seu governo queira maquiar os números. "Ninguém tentou maquiar números, pelo contrário, queremos mostrar números reais para fazer o levantamento de cada região", afirmou.
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