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Gabbardo reforça advertência contra cloroquina e critica pressão de médicos

Integrantes do Centro de Contingência do Coronavírus em SP lembraram: há protocolos para a substância, mas não há evidências científicas - ROGÉRIO GALASSE/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Integrantes do Centro de Contingência do Coronavírus em SP lembraram: há protocolos para a substância, mas não há evidências científicas Imagem: ROGÉRIO GALASSE/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Do UOL, em São Paulo

08/07/2020 14h10

O Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo voltou a colocar em xeque hoje o uso da cloroquina no combate à covid-19. A substância é defendida pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), que anunciou ontem ter sido diagnosticado com o vírus e estar se tratando com comprimidos da hidroxicloroquina.

O médico João Gabbardo, coordenador executivo do Centro de Contingência, lembrou hoje que a administração do medicamento não é proibida, desde que conte com prescrição médica e consentimento do paciente ou de um responsável. No entanto, em entrevista coletiva, criticou a pressão política de médicos pela mudança do protocolo.

"Estamos acompanhando um movimento que tem sido feito em todo o país, de determinados grupos de médicos que são favoráveis ao uso desses medicamentos, que são favoráveis à utilização precoce — muitas vezes de forma preventiva — desses medicamentos. Fazerem listas com 100, 150, 200 médicos, como se isso mostrasse uma prevalência significativa da categoria médica. Esses profissionais têm pressionado gestores, prefeitos, secretários municipais, secretários estaduais, para que implementem esse protocolo. E mais do que isso, que disponibilizem esses medicamentos nas redes de atenção primária", criticou Gabbardo.

"Esse é um movimento que temos acompanhado no país inteiro. O Centro de Contingência de São Paulo não vê evidências científicas que possam sustentar essas indicações. Nós não somos favoráveis à utilização desses protocolos, na forma como esta sendo preconizada, infelizmente, por alguns profissionais médicos. Esse assunto tem sido colocado de forma muito polarizada, politizada, e estamos afastando a discussão da ciência, de evidências científicas, para uma discussão de posicionamento político. Neste caso, o Centro de Contingência de São Paulo não aprova, não concorda, com essas indicações na forma como estão sendo feitas", acrescentou.

O posicionamento foi semelhante ao de Paulo Menezes, coordenador do Centro do Contingências. Ontem, o médico já havia lembrado não haver evidências favoráveis à cloroquina no combate à covid-19. Hoje, reforçou o discurso.

"A questão da cloroquina continua dando muito o que falar. O Centro de Contingência, a Secretaria de Saúde e os municípios têm sido muito claros em relação a isso: nós temos notas técnicas. A última nota técnica contraindica o uso de cloroquina em casos leves, porque não há nenhuma evidência sobre a eficácia desse medicamento, e há risco de efeitos colaterais que podem ser sérios", alertou o médico.

"A cloroquina está disponível nos hospitais da rede estadual, principalmente para uso excepcional em casos graves, quando há indicação do médico e concordância do paciente ou do responsável. Nossa posição no Centro de Contingência é enfática: não há evidência de que seja um medicamento que traz benefícios no tratamento de casos leves, e há o risco de efeitos colaterais que podem ser maléficos à saúde."