Cidades de SP sem covid são pequenas, sem hospital e começam a reabrir

O Estado de São Paulo registrava, na última sexta-feira (10), 359.110 casos de covid-19 e 17.442 mortes pela doença. Apesar disso, dos 645 municípios do estado, 13 foram "esquecidos" pelo novo coronavírus e não registravam nenhum caso até ontem.

Em comum, as 13 cidades têm menos de 6.000 habitantes, nenhuma delas tem hospital e 10 desses municípios (77%) estão localizados em regiões na fase laranja do Plano São Paulo, que permite apenas a reabertura parcial de comércio e serviços. Os outros três municípios estão na fase vermelha e só podem abrir o comércio e serviços essenciais.

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Das 13 cidades, 11 (85%) estão nos extremos do estado, na divisa ou muito perto dos quatro estados que fazem fronteira com São Paulo: Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

As cidades de São Paulo sem covid-19

• Jeriquara e Ribeirão Corrente, na área do DRS (Departamento Regional de Saúde), de Franca, próximas à divisa com Minas Gerais;
• Nova Canaã Paulista, na DRS de São José do Rio Preto, perto de Mato Grosso do Sul;
• Nova Independência, na DRS de Araçatuba, também perto do MS;
• Arco-Íris, Cruzália e Florínea, na DRS de Marília, a última na divisa com o Paraná;
• Balbinos, na DRS de Bauru;
• Monte Castelo e Santa Mercedes, na DRS de Presidente Prudente, também perto do MS;
• Bom Sucesso de Itararé, na DRS de Sorocaba e na divisa com o Paraná;
• Lagoinha e São José do Barreiro, na DRS de Taubaté, a última, na divisa com o Rio de Janeiro

Cidade ofereceu máscaras para metade da população livre

"Nova Independência procurou se antecipar à pandemia. A cidade não esperou o coronavírus chegar para tomar as medidas necessárias, medidas que foram consideradas exageradas a princípio, mas que surtiram efeito", afirmou ao UOL a assessoria de comunicação da cidade.

Entre as medidas apontadas pelo município, que tem 3.969 habitantes, estão o investimento rápido para a compra de álcool em gel e 1.500 máscaras, o suficiente para metade da população livre da cidade, que tem um centro de detenção provisória com cerca de 1.000 presos.

As máscaras foram distribuídas com prioridade para a população mais vulnerável, tanto economicamente quanto em relação à doença (idosos e diabéticos, por exemplo, foram priorizados). A prefeitura entrou em home office e pessoas com risco aumentado de contrair a doença foram imediatamente afastadas do trabalho.

Na reabertura do comércio, Nova Independência realizou barreiras sanitárias para dar informações e fazer a desinfecção dos veículos dos produtores rurais que vêm vender produtos na feira da cidade.

"Todos foram orientados a usar máscaras e ter álcool em gel nas barracas", afirma a prefeitura, que é gerida por uma profissional da saúde, a enfermeira Thauana Duarte (PSDB).

Ser pequena ajuda, diz governo de São Paulo

Para o médico Paulo Menezes, coordenador do Centro de Contingência de Covid-19 em São Paulo, uma das principais razões para haver cidades sem a covid-19 é que os municípios ainda sem a doença são muito pequenos, com população menor que a média do Estado, facilitando o monitoramento dos eventuais casos suspeitos e a disseminação de informações e, portanto, "há mais pessoas respeitando o distanciamento social e usando máscaras", afirmou.

"Aprendemos com situações como essas que podem ser educativas e inspiradoras", afirmou Menezes.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 28,2% dos 5.570 municípios brasileiros têm menos de 6.000 habitantes, como as 13 cidades de São Paulo ainda sem covid-19, que juntas somam pouco mais de 46 mil habitantes.

Ao todo, são 1.576 cidades do Brasil que têm menos de 6.000 habitantes, segundo a lista de municípios do Brasil por população, elaborada com base em dados populacionais estimados em 1 de julho de 2019.

Mas nem tudo é otimismo. Nova Independência lamenta seguir na fase vermelha do Plano São Paulo, pois está na região da DRS de Araçatuba, que ainda está na primeira fase do Plano São Paulo.

Pequenas e sem hospitais

As cidades sem covid convivem com a realidade de viver sem hospitais. Nenhuma das 13 tem um hospital, mas investem em Unidades Básicas de Saúde e no Plano de Saúde da Família e em convênios com cidades vizinhas para garantir as internações quando necessárias.

Os moradores de Nova Independência, por exemplo, são levados em caso de internação para Andradina e, em casos mais complexos, Araçatuba. Os doentes de Balbinos que precisam ser internados vão para Pirajuí. Os de Florínea, para Assis, e assim por diante.

Apesar de precisarem se deslocar para ir até um hospital, os moradores das 13 cidades podem respirar aliviados com posts no Instagram como esse abaixo, publicado por Lagoinha, no Vale do Paraíba.

Reabertura acelerou a presença da covid em pequenas cidades

Para Domingos Alves, professor de medicina social da USP Ribeirão Preto e um dos coordenadores da iniciativa Covid-19 Brasil, que reúne diversos acadêmicos de universidades brasileiras que monitoram a pandemia de forma regionalizada pelo país, a reabertura paulista acelerou a presença da doença em pequenas cidades.

Ele toma como exemplo a área de cobertura do Departamento Regional de Saúde de São José do Rio Preto, classificada na zona laranja do plano de reabertura desde 27 de maio pelo governo do Estado, que permite reabrir o comércio de rua e shoppings,

Das 102 cidades sob a tutela do departamento, apenas uma, Nova Canaã Paulista, ainda não registra casos de covid-19, mas 17 cidades da região registraram o primeiro caso nos últimos 30 dias, inclusive Santa Rita D'Oeste, que deixou a lista de cidades sem covid nesta sexta-feira (10).

Agentes penitenciários com covid, mas cidade não tem casos

Na área do Departamento Regional de Marília chama a atenção o caso de Florínea. Localizada na divisa de São Paulo com o Paraná, a cidade tem 2.676 habitantes, segundo estimativa do IBGE, de 2019, e uma penitenciária.

Segundo o Sifuspesp (Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo), três servidores do presídio da cidade tiveram covid-19, com um óbito, mas o município não tem nenhum caso da doença nos registros da Secretaria Estadual da Saúde.

A SAP (Secretaria de Administração Penitenciária), no balanço que publica sobre a covid-19 no sistema prisional, não informa em que presídios ocorreram os casos confirmados da doença entre servidores e presos, apenas o total geral, que hoje era de 355 funcionários com a doença e 19 mortes, e 304 presos com a doença e 15 mortes.

Segundo a secretaria de Saúde, os casos são registrados no município de domicílio da pessoa infectada. O sindicato não conseguiu checar a residência dos servidores doentes, nem o do funcionário que faleceu.