Salão de beleza, cinema e comer fora; médicos dizem quando isso será seguro
Resumo da notícia
- Voltar a frequentar salão de beleza é uma atividade que a infectologista Joana D'Arc, de Brasília, não considera retomar agora
- O epidemiologista Paulo Lotufo, professor da USP, acredita que ir ao salão para atendimento rápido ou serviços de podologia já é algo possível
- Já o infectologista Natanael Adiwardana, que atua no Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, não vê esperança para esta geração
Voltar a frequentar salão de beleza é uma atividade que a infectologista Joana D'Arc, de Brasília, não considera retomar agora. Mas já a enxerga no horizonte dos próximos meses, desde que com ventilação, distanciamento social e uso de proteção para o rosto, além da máscara cirúrgica pelo profissional.
O epidemiologista Paulo Lotufo, professor da USP, acredita que ir ao salão para atendimento rápido ou serviços de podologia já é algo possível —desde que, claro, regras sanitárias para evitar contaminação sejam cumpridas. Já o infectologista Natanael Adiwardana, que atua no Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, não vê esperança para esta geração.
O UOL perguntou a oito médicos: eles se sentem pessoalmente seguros para voltar a frequentar restaurantes, academias, comércios, cinema? Tudo depende —do momento em que cada cidade está da epidemia, de quanto é possível manter distanciamento social em cada caso. Mesmo com protocolos para evitar contaminação, a maioria acredita que, enquanto números de novas mortes e casos não caírem abruptamente, é temeroso pensar em jantar fora ou ir a uma festa. E estamos falando de mais alguns meses —ou mesmo até o próximo ano.
Veja os médicos consultados
- Alexandre Rodrigues, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia no Espírito Santo
- Estêvão Urbano, infectologista e membro do comitê de enfrentamento ao covid-19 da Prefeitura de Belo Horizonte
- Evaldo Stanislau, diretor da Sociedade Paulista de Infectologia
- Joana D'Arc, infectologista, atua no Distrito Federal
- Natanael Adiwardana, infectologista, atua em São Paulo
- Paulo Lotufo, epidemiologista, professor da USP
- Rodrigo Molina, infectologista e professor da UFTM (Universidade Federal do Triângulo Mineiro)
- Tania Chaves, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia e pesquisadora do Ministério da Saúde, atua no Pará
Vigilância constante
Estêvão Urbano, infectologista e membro do comitê de enfrentamento à covid-19 na Prefeitura de Belo Horizonte, lembra que o Brasil é um país continental, em que a epidemia vive momentos distintos em cada estado —ainda sem controle da transmissão e do número de mortes. "Não estamos em um ambiente de tranquilidade, entre aspas, que alguns países afetados três meses antes da gente estão. Estamos no platô, alguns estados estão subindo a serra", afirma.
Para ele, não há protocolo de segurança que justifique reabrir um bar agora: "É uma ilusão. É uma forma de nós todos justificarmos determinados movimentos. Você se justifica falando 'vai ser tudo regrado, controlado, com distância, higiene'. Só que isso é teoria: a teoria serve para justificar uma prática que não vai acontecer, mas pelo menos você justificou, fez uma lei bonitinha, com parâmetros".
"Quem dera que seguir os padrões sanitários fosse suficiente, ainda mais em ambientes onde você vai ficar mais tempo. Quanto mais tempo você fica num local, mais tempo tem para cometer erros. Isso falando no melhor cenário, com todas as pessoas responsáveis o suficiente para cumprir os regramentos sanitários. Mas nós vimos vários exemplos no país: no primeiro dia que abriu, todo mundo desrespeitou", diz Urbano, sobre a perspectiva de poder se sentar à mesa de um restaurante.
Sem vacina não há segurança, porque o vírus continuará circulando, argumenta Evaldo Stanislau, diretor da Sociedade Paulista de Infectologia. Até lá, lidar com o coronavírus exigirá uma postura de redução de danos, semelhante ao enfrentamento de outras infecções. "O novo normal será sempre pensar no que estamos fazendo, senão haverá novos surtos."
"Nunca vai ser seguro. O que temos que fazer é minimização de risco, um conceito que vem da época do HIV. A pessoa não vai parar de usar drogas, então você faz redução de danos, dá um kit para ela. A mesma coisa para relação sexual: usa camisinha, faz o prep. O mundo é inseguro, as pessoas têm que entender isso", diz Stanislau.
Natanael Adiwardana, do Emílio Ribas, acha que a pandemia terá impactos em toda uma geração: "O mundo já sabia que a gente estava na vigência de uma nova pandemia. Ciclicamente, só no século 21, a gente já viveu SARs, MERS, Influenza. A gente já tinha vivido pandemias e parece que nunca aprende".
"Para qualquer situação, fica muito difícil a gente se sentir seguro. É quase uma situação de estresse pós-traumático, eu não sei como isso vai se resolver. Sinceramente, não acho que, nessa geração, isso vai se resolver tão facilmente. Espero que sirva para gerar uma mudança educacional para as próximas gerações, que não entendem ainda o que está acontecendo", diz o médico.
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