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SP começa programa de testagem de covid-19 em comunidades vulneráveis

Moradores da Vila Jacuí, em São Paulo, fazem testes para covid-19 - Felipe Pereira/UOL
Moradores da Vila Jacuí, em São Paulo, fazem testes para covid-19 Imagem: Felipe Pereira/UOL

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

14/07/2020 12h26

O governo do Estado começou hoje na Vila Jacuí, zona Leste de São Paulo, um programa de testes de covid-19 em moradores de comunidades de vulnerabilidade social. Estão sendo realizados exames em 3,5 mil pessoas, uma amostra estatística que reflete a realidade da pandemia no local, que possui 26 mil habitantes. Com base nos resultados, serão montadas estratégias de combate à pandemia, explicou o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas.

A identificação das áreas de vulnerabilidade social foi feita pela Secretaria estadual de Habitação e o programa está à disposição dos 645 municípios do Estado. São duas etapas e na primeira é coletado sangue para exames de sorologia, que tem o resultado em até 48 horas. Os pacientes que tiverem diagnóstico positivo terão material recolhido para fazer o exame PCR, que é mais preciso e confiável.

Estes pacientes receberão orientações de tratamento, serão medicados e devem permanecer em isolamento social. O diretor do Instituto Butantan ressaltou que o programa é importante porque permite cortar a cadeia de transmissão do coronavírus.

"Estes testes são parte fundamental do combate. É agir para solucionar a pandemia e não ficar refém de seus efeitos".

Os participantes do programa foram escolhidos com base no cadastro da UBS que atende a Vila Jacuí. Houve prioridades para pessoas com mais de 60 anos e portadoras de comorbidades. Todas receberam um convite em casa constando uma senha e horário agendado, uma maneira de evitar aglomerações.

Quem foi convidado não escondeu que está curioso pelo resultado do exame. Gelson Araújo da Silva, 74 anos, aguarda com ansiedade porque veio da Bahia para São Paulo em março para acompanhar a mulher que faz um tratamento na perna. Com as linhas de ônibus interrompidas, não pode voltar.

A temporada na casa do filho é bem-vinda, mas ele sente falta de Guanambi, cidade baiana onde planta mandioca e cria 10 cabeças de gado. Para evitar uma estadia ainda maior em São Paulo, Gelson sai de casa apenas para fazer compras e ir ao posto de saúde pegar remédio para hipertensão, doença crônica que afeta ele a mulher.

"Eu quero ir embora, minha vida está lá. Aqui eu estou trancado. Não posso sair. Nem poderia porque não conheço a cidade".

Histórico de baixo desenvolvimento humano

A Vila Jacuí compõe o bairro União de Vila Nova, uma área de ocupação que começou na década de 1980. Ela é limitada pelo rio Tietê, a linha do trem e dois córregos. Esta proximidade com curso d'água e considerável parcela do solo encharcado fez o local ponto de enchentes.

As condições de moradia também eram ruins por se tratarem de casas com tijolo exposto, falta de saneamento básico e lixo espalhado em vários terrenos. A área fica no extremo da zona Leste e até hoje sinal de celular é um problema. A violência também preocupa os moradores, que não falam sobre o assunto.

O serviço de saúde fica a cargo de uma UBS que realiza 3,5 mil atendimentos médicos por mês. Há 1,5 mil consultas de enfermagem, como procedimentos de pré-natal feitos por profissionais do Programa Saúde da Família. Há duas equipes de dentistas além do trabalho de agentes comunitários de saúde que fazem 7,2 mil visitas no local a cada mês. Em 2002, o Estado começou um projeto de construção de moradias que durou até 2011.

Programa será apresentado a prefeitos

O secretário de Habitação, Flavio Amary, explica que a pasta tem o mapeamento de áreas vulneráveis em todas as cidades paulistas e o programa será apresentado aos prefeitos na reunião do conselho municipalista desta semana. Ele ressaltou que as ações sempre serão realizadas em parceria com as prefeituras.

O diretor do Instituto Butantan afirmou que o número de testes não é um limitador. Dimas Covas falou que será feito um estudo estatístico para descobrir a quantidade de pessoas que precisam ser examinadas e os testes necessários serão providenciados.

Quando esta logística está pronta, os pacientes são convidados e passam por uma consulta que começa com um questionário perguntando coisas como com quantas pessoas moram, se usam transporte público, têm de doenças crônicos e apresentaram sintomas de covid-19. Na sequência, é retirado o sangue para o teste rápido e, por último, há orientação sobre a pandemia e esclarecimento de dúvidas.

Elisabete Sousa de Melo, 64 anos, não tinha perguntas, mas saiu da consulta com uma interrogação: se esta ou esteve com covid-19. Ela conta que não aguenta mais ficar em casa e torce para que tudo acabe logo.

Mas idosa e hipertensa, afirmou que não vai atropelar o processo. Ficará em casa o tempo necessário. A grande preocupação é a saúde. E como muitos vizinhos não usam máscara, Elisabete disse que é mais um motivo para se cuidar.