Topo

Puxado pela covid, mês de junho fecha com média recorde de mortes diárias

10.jun.2020 - Movimentação no metrô da cidade de São Paulo durante a pandemia do novo coronavírus - Bruno Escolastico / Estadão Conteúdo
10.jun.2020 - Movimentação no metrô da cidade de São Paulo durante a pandemia do novo coronavírus Imagem: Bruno Escolastico / Estadão Conteúdo

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

19/07/2020 04h05

Resumo da notícia

  • Covid-19 é principal causa de mortes do mês de junho, apontam cartórios
  • Média diária de óbitos é a maior já registrada para um mês no Brasil desde 1979
  • Julho é regularmente mês com maior ocorrência de mortes, e números tendem a subir

Em meio à pandemia de coronavírus, junho teve a maior média de mortes diárias já registrada no país em um mês. Segundo registros de óbito, foram 125 mil mortes contabilizadas no mês passado, o que significa 4.190 a cada 24 horas, segundo dados disponíveis do Ministério da Saúde, em série iniciada em 1979.

Em números absolutos, o total só perde para maio, quando foram 127 mil mortes, segundo o portal da Transparência da Arpen (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais). O fato de junho ter um dia a menos do que o mês anterior contribui também para uma média maior.

Segundo Alcides Miranda, médico e professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) nos cursos de graduação e pós-graduação em Saúde Coletiva, mesmo levando em conta sazonalidade e fator regional das mortes em cada um dos estados, a alta no número de óbitos chama a atenção.

Para ele, além das mortes por covid-19 confirmadas, há ainda dois efeitos que devem ser levados em conta: um direto, outro indireto em relação à doença.

"Direto são os óbitos ocasionados pela covid-19 não diagnosticados por testagens e registrados como 'complicações respiratórias' (subnotificações) ou ocorridos em casa — houve incremento de óbitos domiciliares sem diagnóstico confirmado. O indireto foram os óbitos ocasionados por outras doenças ocorridos em casa e em hospitais, segundo o professor.

Os dados de junho, entretanto, ainda devem crescer, já que o portal da Arpen é atualizado com informações de cartórios que podem levar alguns dias para informar o óbito ao sistema nacional. Esse atraso tem sido superior a um mês em alguns casos.

Estados de Norte e Nordeste têm maiores médias

Na comparação a 2019, o número de mortes de junho deste ano foi 22% maior. Entre as 27 unidades da federação, 24 tiveram alta no número de mortes, sendo 15 estados com altas superiores a 30% em relação ao mesmo mês no ano passado.

Acre (217%), Amapá (186%) e Maranhão (181%) tiveram os maiores saltos, enquanto Mato Grosso, Minas Gerais e Rondônia tiveram menos mortes em junho de 2020 em comparação ao ano passado.

Quando examinadas as causas de morte no mês, a covid-19 é a principal. Foram 24 mil óbitos, mais que a soma de mortes por causas cardíacas e AVC (Acidente Vascular Cerebral), ou de todos os óbitos por causas externas, por exemplo.

Em relação ao primeiro semestre inteiro, o número de mortes no país é 9,7% maior este ano na comparação a 2019.

Se levarmos em conta o histórico do país, o número de mortes ainda deve continuar em alta, já que o mês de julho é o que registra mais óbitos no país devido à maior circulação de vírus respiratórios e ao frio.

Mortes em casa

O médico e professor da UFRGS afirma que o temor de contaminação pelo novo coronavírus pode ter levado pessoas doentes a evitarem serviços de saúde ou mesmo terem enfrentado dificuldades pela sobrecarga.

"No caso dos óbitos domiciliares, as pessoas podem ter evitado ou protelado a busca de assistência hospitalar em razão do temor pelo contágio da covid-19. No caso dos óbitos hospitalares, podem ocorrer pela demora das pessoas em buscar assistência, que faz chegarem em condições mais complicadas; ou pela dificuldade de acesso aos recursos mais críticos, como as UTIs [unidades de terapia intensiva]", explica.

Para ele, esse processo penaliza mais regiões com menos recursos assistenciais, e que demandam mais encaminhamentos dos pacientes para outros locais —como ocorreu muito no Norte do país, em especial no Amazonas.

"É o caso de municípios e regiões do interior dos estados, onde notadamente tem ocorrido maior incremento da mortalidade. Há uma migração dos circuitos de contágio, de áreas com maior adensamento populacional e recursivo para áreas menos densas", afirma, citando que ainda a flexibilização adotada em "momento errado" nas medidas de isolamento também pode ter influenciado no número de óbitos.