Pazuello erra ao dizer que assintomáticos não transmitem a covid-19
O ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, se equivocou hoje ao dizer que os infectados pelo novo coronavírus que não apresentam sintomas também não são capazes de transmitir a doença. A própria OMS (Organização Mundial da Saúde), baseada em estudos, já afirmou estar "absolutamente convencida" de que os assintomáticos são, sim, capazes de infectar outras pessoas — só não se sabe em que proporção.
Pazuello participava de uma coletiva ao lado do governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), e do prefeito de Curitiba, Rafael Greca (DEM), quando deu a declaração. Ele falava sobre o processo de reabertura da economia e volta às atividades presenciais em algumas localidades do país.
"Sobre como o Ministério da Saúde sugere que funcione [a reabertura], nós já nos posicionamos à Casa Civil. Tem que ter triagem em qualquer lugar. Se o gestor [governador ou prefeito] definir pela abertura de uma área, tem que ter a estrutura de triagem e de acompanhamento médico dos primeiros sintomas. Se o caso é assintomático, ele [funcionário] está trabalhando, mas também não transmite. Se o caso é sintomático, ele tem que aparecer na primeira hora."
A questão dos assintomáticos já foi alvo de polêmica envolvendo a OMS e usada até pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como justificativa para uma reabertura mais rápida.
Em 8 de maio, Maria Van Kerkhove, chefe da unidade de doenças emergentes da entidade, afirmou que pacientes assintomáticos não estariam impulsionando a disseminação da covid-19. A fala, baseada em um pequeno estudo, repercutiu mal — e, no dia seguinte, ela se retratou, reforçando que as pessoas sem sintomas transmitem, sim, a doença; o que não se sabe é a proporção em que isso acontece.
Um estudo feito recentemente em Vò, comuna italiana na província de Pádua, reforça que pessoas assintomáticas representam cerca de 40% do total de infectados e são um fator importante na transmissão da covid-19.
Para descobrir exatamente em que grau a transmissão do coronavírus por assintomáticos está acontecendo, seria necessário um amplo programa de testagem e acompanhamento das pessoas infectadas e de todas aquelas com quem tiveram contato.
Entre os dez países com mais casos no mundo, o Brasil é apenas o oitavo em número de testes feitos por milhão de habitantes (23.095), segundo o Worldometers, à frente de Índia (10.918) e México (6.680). O Reino Unido, em primeiro neste ranking e em décimo no número de infectados, fez 205.782 testes por milhão de habitantes.
'Não adianta testar por testar'
Durante a coletiva, Pazuello comentou as estratégias de testagem adotadas pelo Brasil — e, mais especificamente, pelo Paraná — e sugeriu ser desnecessário testar todas as pessoas. O mais importante, na visão do ministro, é ter estratégia.
"As medidas que o Paraná tomou são medidas em que eu assino embaixo, que estão dando resultado. A testagem tem que estar dentro de uma estratégia, e o Beto [Preto, secretário estadual de Saúde] tem essa estratégia. Não adianta testar por testar. Tem que testar um grupo para uma estratégia", disse Pazuello.
Segundo o general, cada teste tem um propósito (como detectar anticorpos ou a presença do próprio vírus nos pacientes, por exemplo), cabendo aos governadores e prefeitos traçarem um plano para melhor utilizá-los.
"O que é mais importante? Que se comece a falar de estratégia, e nisso o Paraná já está na frente", elogiou. "Teste por teste, como estava sendo feito antes, acaba não te dando uma visão de gestão sobre aquele resultado."
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