OMS ameniza tom sobre 'bala de prata' contra covid-19 e pede equilíbrio
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, voltou a falar sobre a declaração do começo da semana, quando disse que é possível que nunca se encontre uma "bala de prata" contra o coronavírus, causador da covid-19. Desta vez, Thedros adotou tom mais ameno e afirmou que é preciso se equilibrar entre o otimismo pela chegada de uma vacina e as ações que podem ser realizadas neste momento, para controlar a disseminação da doença.
Na segunda-feira (3), Tedros afirmou: "Não existe uma bala de prata no momento e pode nunca haver".
Questionado para explicar mais aprofundadamente o tema, Tedros não foi tão enfático.
"Quando digo que não há bala de prata, também digo que não há bala de prata agora", destacou ele, em coletiva de imprensa. "A razão é que, como se sabe, estamos trabalhando em vacinas e diagnósticos. Tivemos os primeiros encontros com cientistas em fevereiro. Agora, temos mais de 200 candidatas a vacinas, com seis delas em boa posição nos testes. Há esperança, mas ao mesmo tempo, sem os resultados clínicos não podemos dizer que temos a vacina. Podemos ter ou não ter. Então, a razão pra eu dizer aquilo é que as pessoas estão esperançosas, o que são boas, mas muitas não estão utilizando as ferramentas que tem em mãos agora."
"Governos precisam testar, rastrear, fazer isolamento e quarentena. Ao mesmo tempo, as comunidades, todos os cidadãos, precisam fazer o que se espera deles: distanciamento social, lavar as mãos e usar máscara. Se fizermos isso, podemos controlar a pandemia. Muitos países mostraram isso. Então, minha mensagem é: vamos fazer o que podemos fazer agora para salvar vidas. Precisamos manter um balanço", completou Tedros.
Pobreza e racismo pioram situação indígena
Questionado sobre o avanço da covid-19 sobre povos indígenas, Mike Ryan, diretor-executivo do Programa de Emergências em Saúde da OMS, explicou que ainda não se sabe se etnias são mais suscetíveis a serem contaminadas ou desenvolverem casos graves da doença, mas afirmou que povos marginalizados na sociedade acabam tendo maiores prejuízos.
Para Ryan, a pobreza e até o racismo com indígenas, acabam contribuindo para números elevados de mortes neste grupo.
"O que vemos dessa doença em povos indígenas é que ela afeta etnicidades de forma diferente. Se a etnia faz grupos serem mais suscetíveis ou não ainda não se sabe, mas o que sabemos é que se por causa dela, se você é indígena e está na pobreza e tem pouco acesso à saúde, ou se tem problemas de saúde por conta de um estilo de vida, as consequências da doença podem ser muito piores", analisou Ryan.
"Há dois grupos de indígenas que observamos. Um são os que moram em seus estilos de vida tradicionais e o outro são os que moram em áreas pobres das cidades, que sofrem as mesmas vulnerabilidades que outras pessoas de classes desfavorecidas. E em muitos países, os indígenas vivem em situações de difícil acesso por pobreza, por falta de acesso e, francamente, por racismo.
Acho que o ponto é criar acesso para todos a serviços de saúde de qualidade, para que possamos reduzir essas defesas e desigualdades que temos em lugares pobres e que tem consequências terríveis em eventos como a pandemia", concluiu.
Vacinas: dividir descobertas
A OMS pediu para que os países que saírem na frente nas descobertas de vacinas dividam conhecimento. "Não é caridade", disse Tedros, que defendeu que os países só vão se recuperar, de fato, quando isso acontecer em todo o mundo, um puxando o outro.
"Temos dois objetivos: acelerar o descobrimento da vacina e ter uma distribuição justa. Para fazer acontecer, é preciso ter um consenso global, para fazer com que qualquer vacina seja um produto público. E isso é um comprometimento político. Queremos que os líderes mundiais decidam nesta direção. Nacionalismo não é bom para vacinas", defendeu Tedros.
"Não é dividir informações só por dividir. Há vantagens. Para o mundo se recuperar mais rapidamente, é preciso que seja junto. Dividir vacinas ajuda o mundo a se recuperar junto e a economia vai se recuperar mais rapidamente. Os países que estão à frente deste processo não estarão fazendo caridade. Estarão fazendo por eles mesmos. O mundo retomando os beneficia", completou.
Crianças são enigma; escolas devem reabrir?
Outra questão levantada na coletiva de imprensa foi a reabertura de escolas. A OMS afirmou que tem guias para instituições de todo o mundo analisarem e utilizarem conforme suas particularidades. Mas admitiu que ainda pouco se sabe sobre as consequências da covid-19 em crianças e como elas agem como agentes de contaminação.
"Temos de pensar em alguns aspectos, como os riscos dessa doença para crianças, o que sabemos disso, em termos de como funciona a contaminação nelas - sabemos que elas podem ser contaminadas, mas o que ela causa nesse grupo? O que vemos é que as crianças têm uma resposta mais amena e se recuperam bem. Mas isso não é universal. Algumas podem desenvolver casos graves e algumas morreram", alertou Maria van Kerkhove, liderança da entidade no combate à doença.
"Sabemos que elas podem transmitir o vírus. Ainda estamos entendendo a extensão disso, ainda é um grande enigma pra gente. Estamos vendo casos de transmissão em escolas e estamos aprendendo sobre isso. O que oferecemos sobre reabertura é lembrar que escolas não são um ambiente de isolamento. Elas estão em comunidades e, por isso, o vírus pode se espalhar nelas. O que preocupa são as pessoas que trabalham nelas. Se há casos na comunidade, precisamos reduzir os casos nessas comunidades antes de pensar na reabertura", completou.
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