Como está o uso de máscara pelo mundo (e o que as pessoas acham disso)
Eliana dos Santos tenta não coçar o nariz enquanto trabalha preparando sorvetes e milk shakes no centro de São Paulo. Com a máscara no rosto o tempo todo, ela diz que esta é a única forma de encarar a multidão que lota diariamente as ruas da República.
"É muita gente, né? Por isso passo bastante álcool gel e estou com a máscara sempre", conta a sorveteira. "Se o cliente está sem máscara, eu peço que ele fique um pouco longe. Dá um pouco de nervoso, né?"
No centro de São Paulo, na tarde em que a reportagem do UOL esteve por lá, a maioria das pessoas faziam como ela e usavam a máscara corretamente. Mas não é difícil encontrar um desavisado com o equipamento no queixo ou sem o protetor.
Por causa da pandemia do novo coronavírus, o uso da máscara em locais públicos é obrigatório no estado de São Paulo desde maio e no Brasil, desde julho. A imposição dos equipamentos de proteção foi adotada em muitos países do mundo, com algumas exceções —como na Suécia.
Ao UOL, brasileiros que moram aqui e fora narram experiências semelhantes: as pessoas usam por imposição, mas não gostam. Especialistas e estudos reforçam a medida como maneira não só de diminuir a transmissão do vírus como de torná-lo menos nocivo.
Em São Paulo, as pessoas reclamam, mas usam
Geralda Franco, 49, que trabalha entregando panfletos em diferentes pontos da capital paulista, diz que já não tem mais medo de se infectar, mas segue a lei. "Uso o tempo todo porque é obrigatório. No frio até que não atrapalha muito, o ruim é no calor, você sua muito mais", diz. A máscara é a única medida sanitária que ele continua a usar.
Sheila Aparecida, 22, também passa o dia em contato direto com a multidão. Ela é responsável por chamar pessoas para um consultório de dentista no centro. Mesmo assim, passa parte do tempo com a máscara abaixada. "Eu já perdi o medo. Uso a máscara por ser obrigatório, mas incomoda bastante. É ruim de falar", afirma a jovem, que colocou o protetor para tirar a foto.
A multa de R$ 524,59, instituída pelo governo estadual há quase quatro meses, não parece ser um problema.
O uso público da máscara, no entanto, não só ajuda a diminuir a transmissão do vírus como também reduz a carga viral e a gravidade da covid-19 em quem for contagiado, segundo um estudo das universidades da Califórnia e John Hopkins divulgado em agosto.
Na Europa demorou, mas pegou
Como aqui, os europeus também não acham confortável usar máscara, mas respeitam a legislação. Por lá, muitos países demoraram, mas acabaram aderindo à obrigatoriedade do item de proteção.
Daniela Ortega, 39, mudou-se para Barcelona, na Espanha, há um ano para fazer doutorado. Saindo de casa apenas para aulas de catalão, exercício e compras, ela diz que a obrigatoriedade, decretada em junho, demorou a pegar no país.
No começo era bem difícil. Mesmo no transporte público, as pessoas estavam sempre com a máscara no queixo. Tanto que antes o aviso era 'é obrigatório uso de máscara no transporte', agora tem 'usar a máscara corretamente' porque usavam com o nariz descoberto."
Daniela Ortega
Quem desrespeitar pode pagar multa de até 100 euros (R$ 664). Esta é só uma das medidas para tentar conter a segunda onda da pandemia que o continente enfrenta. A Catalunha voltou a fechar bares e estuda retomar o confinamento aos fins de semana. No domingo (25), o governo espanhol decretou estado de alerta e impôs um toque de recolher em todo o país, menos nas Ilhas Canárias.
O Reino Unido, que também vê uma segunda onda com mais casos confirmados do que a primeira —entre março e abril—, instituiu o fechamento dos bares às 22h e tornou obrigatório o uso de máscara.
Lourival Abreu, 51, que mora em Hastings, no sul da Inglaterra, desde 1996, afirma que por lá o uso pegou. "Todo mundo está de máscara. É muito raro ver uma pessoa sem", diz. A multa pode chegar a 100 libras (R$ 730).
Carolina Torres, 39, tem a mesma percepção na França. No país, o uso do protetor só é obrigatório em algumas regiões, mas a população tem respeitado —em especial pela multa, que, em Paris, onde mora há 13 anos, é de 135 euros (R$ 900).
No começo da pandemia não era obrigatório o uso de máscara no ambiente de trabalho. Agora, está sendo usado o tempo todo por todo mundo. Menos em reuniões familiares e nos restaurantes e bares para comer."
Carolina Torres
A França voltou a apresentar índices alarmantes de ocupação nos hospitais e o governo estuda um novo lockdown. Embora não se diga com medo da segunda onda, Torres afirma que sente que "o cerco fechou mais".
Para o pesquisador Domingos Alves, da FMUSP-Ribeirão (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto), a adoção da máscara é um dos motivos para a segunda onda na Europa ter mais casos, mas ser menos letal.
"A primeira onda foi tipicamente uma epidemia para velhos. Agora, você vê pelos dados que ela está se espalhando entre os jovens. Além disso, há estudos que mostram, hoje, que o uso de máscara pela população só não diminui a propagação do vírus, como o dano. Com o uso em massa, quem pega, pega com sintomas mais leves", afirma o professor da USP.
Menos na Suécia
A obrigatoriedade não é um consenso. Na Europa, a Suécia se comporta de forma oposta aos vizinhos de continente e não só não impôs a utilização do protetor como seu uso é visto com maus olhos nas ruas.
"A máscara não é somente não obrigatória como também seu uso em massa não recomendado pelas autoridades de saúde. Eles argumentam que não existe evidência científica que comprove a eficácia das máscaras", conta Carolina da Silva, 33, que mora em Estocolmo.
No dia a dia, eu vejo bem poucas pessoas usando máscara. Talvez algo como uma a cada 100. O que dá para observar também é que muitas vezes as pessoas que usam máscara não são suecos e no início da pandemia aconteceu o absurdo de pessoas receberem agressões racistas por usarem."
Carolina da Silva
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