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Covid-19: Com menos casos, SP diminuiu número de testes desde agosto

Teste de RT-PCR para diagnosticar coronavírus feito em sistema "drive-thru" - iStock
Teste de RT-PCR para diagnosticar coronavírus feito em sistema "drive-thru" Imagem: iStock

Gabriela Sá Pessoa

Do UOL, em São Paulo

25/11/2020 04h00

"Teste, teste, teste." Desde março, essa é a principal estratégia recomendada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para que os países possam enfrentar o coronavírus. Em São Paulo, assim que os casos e óbitos começaram a diminuir em agosto, também caiu significativamente o número de testes no estado.

Em agosto, foram registrados 42 mil exames e 1.114 casos a menos do que em julho. As estatísticas foram reduzindo progressivamente nos meses seguintes, setembro e outubro, de acordo com dados divulgados pelo governo de João Doria (PSDB).

Segundo a Secretaria de Saúde, só são examinados na rede pública os pacientes sintomáticos. "Os testes são realizados com base nas normas do Guia de Vigilância Epidemiológica para o coronavírus do Ministério da Saúde, que prevê diagnóstico de sintomáticos e isolamento para assintomáticos. Portanto, a demanda varia conforme o cenário epidemiológico", afirmou a pasta.

Placar de testes - Reprodução/SIMI - Reprodução/SIMI
Placar de testes de coronavírus do governo de São Paulo
Imagem: Reprodução/SIMI

A restrição, no entanto, atrapalha o controle efetivo da disseminação do vírus, em meio ao relaxamento da quarentena no estado. "Nesse cenário concreto de diminuição de testes e de subnotificação, praticado a partir de setembro, o que era de se esperar era a diminuição do número de óbitos e casos. Acontece que não, reverteu", diz o pesquisador Domingos Alves, do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto. Para ele, o aumento da taxa de transmissão do coronavírus nas últimas duas semanas para taxas acima de 1 já coloca o país em uma segunda onda da epidemia.

Neste momento, mais estratégica do que a oferta de leitos é a capacidade de testar, diz o infectologista Evaldo Stanislau, que integra a diretoria da Sociedade Paulista de Infectologia. "Se eu não testo casos suspeitos e os contactantes [dos diagnosticados], não percebo como a pandemia evolui", argumenta.

Sem diagnósticos, estratégias são como tiros no no escuro. "A gente não vê aquilo que a gente não pesquisa. A gente tem que aumentar sempre a oferta de testes. A única maneira de fazer diagnóstico é testando, sobretudo para uma doença que um grande número de infectados tem sintomas frustros ou são assintomáticos. Se não testo suspeitos ou contactantes, não percebo como a pandemia evolui", comenta Stanislau.

O médico atua na rede pública de saúde em unidades como o Hospital das Clínicas. Nos últimos meses, tem atendido pacientes que acabam sendo diagnosticados com covid-19 apenas em um segundo atendimento, após serem dispensados no pronto socorro por terem sintomas leves.

"Não tenho notícia de nada que dificulte o acesso a testes, então só posso imaginar que a diminuição só ocorreu porque diminuíram as solicitações. O que me preocupa é que diminuiu mesmo a circulação do vírus ou mudou o perfil do paciente? São mais jovens, menos doentes, e os médicos não associam que estamos numa pandemia e não pedem o exame?", indaga o infectologista.

Na rede pública, diz Stanislau, a solicitação do exame "é tão burocrática que tanto o médico quanto o paciente desistem".

"Quem sofre somos todos nós. Os números começam a aumentar e só vamos perceber que o vírus está circulando bastante quando encontramos números indiretos, como o aumento de internações e, daqui a pouco, o aumento do número de mortes", afirma.

Procurada pelo UOL, a Secretaria da Saúde do governo Doria diz que o órgão e o Instituto Butantan "aplicaram mais de R$ 200 milhões desde o início da pandemia para aquisição de testes de PCR e rápidos para diagnóstico de covid-19".

"O estado está abastecido. Além de garantir insumos, o governo de São Paulo também ampliou a rede de diagnósticos do novo coronavírus na rede pública por meio da criação da Plataforma de Diagnósticos de covid-19 coordenada pelo Instituto Butantan. A capacidade nominal de processamento é de mais de 13 mil amostras por dia, garantindo o cumprimento integral da demanda com a liberação de resultado após 72h da chegada da amostra em qualquer unidade da rede", afirmou a pasta.

A pasta afirmou que, conforme as diretrizes do Ministério da Saúde, os diagnósticos na rede pública são oferecidos a pacientes sintomáticos e a demanda por exames varia conforme o cenário epidemiológico.

"De outubro para novembro, já se verifica um crescimento na média diária de amostras recebidas, em torno de 30%. É compromisso da pasta realizar a testagem continuamente em consonância com a política estadual de enfrentamento da covid-19", respondeu a secretaria.