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Gabbardo: Programa de vacinação de SP tirou governo federal do conforto

João Gabbardo é secretário-executivo do Centro de Contingência do coronavírus em São Paulo - ROGÉRIO GALASSE/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
João Gabbardo é secretário-executivo do Centro de Contingência do coronavírus em São Paulo Imagem: ROGÉRIO GALASSE/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Do UOL, em São Paulo

09/12/2020 17h45

O secretário-executivo do Centro de Contingência do coronavírus em São Paulo, João Gabbardo, disse hoje que o programa estadual de vacinação contra a covid-19, anunciado anteontem, tirou "da zona de conforto" o governo federal. O plano paulista prevê começar a imunização em 25 de janeiro com a CoronaVac, vacina desenvolvida e testada pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac.

O Butantan é ligado ao governo de São Paulo e é historicamente um dos principais fornecedores de vacinas para o Ministério da Saúde. A pasta federal não se compromete ainda a adquirir doses da CoronaVac, mas hoje o ministro Eduardo Pazuello sinalizou que pode considerar a vacina produzida pelo Butantan caso ela seja aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Após o anúncio do plano estadual feito pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o Ministério da Saúde tem dado mais detalhes sobre o desenho do programa nacional de vacinação contra a covid-19.

"Tenho convicção que essa antecipação que ocorreu na organização nacional da vacinação é decorrente de São Paulo ter colocado na rua o seu programa estadual de imunização. No momento que São Paulo lança o programa estadual, ele tira todo mundo da zona de conforto, do governo federal e até mesmo da própria secretaria de Saúde", disse Gabbardo em entrevista à CNN Brasil.

O integrante do Centro de Contingência paulista respondia sobre declarações de hoje de Pazuello, que chegou a considerar a possibilidade de início da vacinação ainda em dezembro, em caso de uma aprovação de uso emergencial de uma vacina, e também voltou a considerar a aquisição da CoronaVac para distribuição pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

"Vejo com muita satisfação essa mudança de postura do Ministério da Saúde de, pela primeira vez, publicamente, aceitar a participação da CoronaVac, garantir a sua aquisição, colocar no PNI [Programa Nacional de Imunização], isso é o que todo mundo espera", acrescentou Gabbardo.

Indefinição sobre vacinas

O impasse sobre a aquisição da CoronaVac pelo governo federal começou em meados de outubro, quando Pazuello demonstrou um compromisso de compra de 46 milhões de doses do imunizante, mas foi desautorizado no dia seguinte pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Desde então, o governo manteve sua aposta na vacina de Oxford, que receberá um investimento de quase R$ 2 bilhões e será produzida no Brasil pelo Bio-Manguinhos, instituição federal ligada à Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). O imunizante é desenvolvido pela Universidade de Oxford e pelo laboratório AstraZeneca.

No entanto, nem a vacina de Oxford nem a CoronaVac submeteram ainda o resultado dos estudos de fase três, que visam comprovar a eficácia do imunizante, para a avaliação da Anvisa. Essa análise dá a oportunidade de receber a aprovação de registro, que é diferente da autorização de uso emergencial. O Butantan deve tentar ambos os processos.

Nos últimos dias, o governo federal anunciou que tenta um acordo com o laboratório Pfizer/Biontech, responsável por fornecer o imunizante que ganhou uma autorização emergencial no Reino Unido e já iniciou a campanha de vacinação no país ontem. Para que o Brasil também tenha doses aplicadas do imunizante ainda em dezembro ou janeiro, a vacina precisaria de uma autorização emergencial da Anvisa.

Recuo do governo

Após Bolsonaro dar diversas declarações se colocando contra a aquisição da CoronaVac, as declarações de Pazuello hoje demonstram um recuo do governo em relação à disputa com Doria, que tem a vacina do Butantan como sua bandeira. O ministro deixou claro que ainda considera a incorporação da CoronaVac no programa nacional de vacinação contra a covid-19.

"Continuamos falando com o Butantan naturalmente, é o nosso fornecedor de vacina para o SUS, 75% do que se vacina no Brasil vem do Butantan. Então não há nenhum tipo de atrito com Butantan. Pelo contrário, estamos trabalhando juntos com o Butantan no reforço do seu parque fabril", disse Pazuello.

"Assim que tivermos as vacinas produzidas, registradas e em segurança será feito o contrato de compra", concluiu o ministro.