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Covid-19: SP quer iniciar vacinação por profissionais da saúde e idosos

Allan Brito, Lucas Borges Teixeira e Rafael Bragança

Do UOL, em São Paulo

07/12/2020 13h03Atualizada em 07/12/2020 19h56

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou hoje que o PEI (Plano Estadual de Imunização) contra a covid-19 começará pelos profissionais da saúde e pessoas acima de 60 anos. A expectativa é de que a campanha tenha início em 25 de janeiro, mas isso ainda depende da aprovação da vacina CoronaVac pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Em coletiva no Palácio dos Bandeirantes, Doria também informou que o governo paulista oferecerá 4 milhões de doses a outros estados —quantidade suficiente para vacinar 2 milhões de pessoas, já que serão necessárias duas doses por pessoa. Ele, porém, não revelou quais governadores solicitaram a vacina a seus estados —citou apenas dois prefeitos.

"No estado de São Paulo, a vacinação está programada para começar no dia 25 de janeiro. A fase 1 será destinada para profissionais de saúde e pessoas com mais de 60 anos. A escolha do público-alvo levou em conta a incidência de óbitos, um total de 77% das mortes por covid foi concentrado nas pessoas acima de 60 anos", afirmou Doria.

A CoronaVac é a vacina desenvolvida e testada pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo paulista. A fase 3, de testes clínicos, foi encerrada há duas semanas, mas a taxa de eficácia ainda não foi divulgada.

"[A vacina] será gratuita para todos. O governo de São Paulo também vai disponibilizar para outros estados o total de 4 milhões de doses da vacina CoronaVac a estados que solicitarem. O objetivo é que esses estados possam iniciar imunização dos seus profissionais de saúde, público prioritário no combate à covid-19, reconhecendo o sacrifício de quem arrisca a vida para salvar vidas", disse Doria.

O governo de São Paulo já firmou um acordo para ter 46 milhões de doses do imunizante —o que é suficiente para vacinar 23 milhões de pessoas, já que são necessárias duas doses.

A primeira fase da vacinação, anunciada hoje, deve contar com 18 milhões de doses (ou seja, para 9 milhões de pessoas). O tempo previsto entre a primeira e a segunda dose é de 21 dias.

Sobre a verba para a compra das vacinas e para a campanha de imunização, o governo informou apenas que os recursos sairão do "Tesouro do estado".

"A Secretaria de Saúde do estado, em parceria com municípios, vai ampliar de 5,2 mil para 10 mil postos de vacinação. Vamos quase que dobrar no programa de imunização. Para isso serão implantadas estratégias especiais de vacinação, incluindo farmácias, quartéis, escolas, terminais de ônibus e sistema especial de vacinação em forma de drive thru", disse Doria.

De acordo com o plano apresentado hoje, o horário de vacinação será:

  • De segunda a sexta-feira: das 7h às 22h
  • Sábados, domingos e feriados: das 7h às 17h

"A campanha terá grande estrutura logística e de segurança pública, com 54 mil agentes de saúde e 25 mil agentes de segurança, enquanto perdurar o período de vacinação", afirmou o governador paulista.

Para atender todo o estado, o governo conta com o funcionamento de 25 postos estratégicos de armazenamento da vacina, 30 caminhões refrigerados e 5.200 câmaras de refrigeração. Novamente sem dar detalhes, a administração estadual informou que o custo da logística deve ser em torno de R$ 100 milhões, sem contar os insumos.

CoronaVac em outros estados

Segundo Doria, as 4 milhões de doses destinadas a outras federações seriam voltadas aos profissionais de saúde.

"Temos oito estados que solicitaram a CoronaVac ao Instituto Butantan. Alguns vieram aqui pessoalmente. Para citar dois, entre muitos, o prefeito de Curitiba, que solicitou e anunciou que fará aquisição da vacina. O novo prefeito eleito do Rio, Eduardo Paes, me telefonou hoje dizendo que Rio não vai ficar aguardando o programa [federal] para março e deseja vacinar o mais breve possível, começando pelos profissionais de saúde. E assim dezenas de outros prefeitos", revelou Doria.

O governo não divulgou quais estados estão interessados —alegando que ainda não tem nenhum acordo oficialmente fechado—, mas falou que haverá colaboração entre as partes na questão logística.

"Enquanto os acordos não forem consolidados eles também não serão, na sua íntegra, revelados. Mas nós vamos ter uma distribuição, uma logística adequada para que ninguém deixe de receber lá na ponta", afirmou o secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn, à imprensa.

Também sem dar detalhes, Doria chegou a citar a possibilidade de exportar doses de CoronaVac para a Argentina.

Previsão para o dia 25 de janeiro depende da Anvisa

O plano estadual ainda depende, no entanto, da aprovação da Anvisa. De acordo com o Instituto Butantan, os documentos com a última fase de testes serão enviados ao órgão regulador na semana que vem, no dia 15 de dezembro. Esses documentos incluem, em especial, o resultado do teste da eficácia.

Não há garantia de que a vacina será aprovada, mas o governo paulista está confiante que isso vai acontecer até meados de janeiro. Segundo Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, o planejamento para o dia 25 inclui possíveis intercorrências com a agência.

Originalmente, Doria tinha anunciado o início da imunização para dezembro. "A alteração de 15 [de dezembro] a 25 [de janeiro] é porque a realidade impôs. Estamos no processo da produção da vacina e no procedimento de termina avaliação de eficácia do estudo clínico, bem como [a avaliação pelo órgão] da fábrica lá na China. São esses três elementos que vão compor registro. Essa data é compatível com esses três elementos. É uma data inicial e com grande probabilidade acontecer conforme previsto", afirmou Covas, na coletiva.

Horas depois, o diretor da agência regulatória, Antônio Barra Torres, no entanto, disse que prevê um prazo maior. "Antes de verificarmos estes protocolos de registro, precisamos acessar os documentos dos estudos clínicos referentes à fase 3 dos testes. No entanto, estes estudos ainda não se encerraram. Para efetuarmos o registro de vacina contra o coronavírus, demandamos no mínimo 60 dias para analisarmos os documentos", disse Barra Torres, durante entrevista à rádio Jovem Pan.

Oficialmente, a Anvisa divulgou nota afirmando que faltam etapas para liberar a CoronaVac.

Quatro vacinas contra a covid-19 estão em teste no Brasil, mas nenhuma foi registrada oficialmente pela Anvisa.

Mensagem e novo embate

Durante a coletiva, foi possível notar que o governo de São Paulo trocou a mensagem escrita nas peças usadas pelas autoridades como apoio. Agora, está escrito "Vacina já". Antes, os textos eram "#fiqueemcasa" e "Use Máscara".

Desde a semana passada, Doria vem criticando o plano de imunização contra a covid lançado pelo governo federal. A versão inicial diz que o início da vacinação deve ocorrer entre março e junho. Hoje, durante a coletiva, ele voltou a citar as datas e a atacar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) —que já deixou claro que desaprova a "vacina chinesa" e mandou, inclusive, cancelar a intenção de compra da CoronaVac, em outubro.

"Por que vacinar em março se podemos começar a vacinar em janeiro? Para atender a um capricho de alguém que, sentado no Palácio do Planalto, acha que tem que ser uma vacina só?", disse o governador. "Triste o Brasil que tem um presidente que não tem compaixão pelos brasileiros, que abandonou o Brasil e os brasileiros."