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Gabbardo critica Anvisa após mudar aval para vacina: 'Perdemos muito tempo'

Lucas Borges Teixeira, Rafael Bragança e Allan Brito

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL

05/02/2021 13h56

O coordenador-executivo do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo, João Gabbardo, disse hoje que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) fez o Instituto Butantan perder "muito tempo" com a exigência de estudos clínicos de fase 3 no país para a aprovação do uso emergencial da CoronaVac. Nesta semana, a agência federal mudou as regras para dar o aval de aplicação de vacinas contra a covid-19 para grupos prioritários.

"Não dá para deixar de dizer que essa decisão [da Anvisa] é injusta com exigências feitas ao Butantan. Ao Butantan foram impostas regras que obrigaram um trabalho imenso. O custo da fase 3 no Brasil foi muito grande. E principalmente perdemos muito tempo nesta fase", disse Gabbardo durante entrevista coletiva do governo paulista sobre a pandemia no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo.

"Se isso não fosse exigido do Butantan, poderíamos ter começado a vacinação muito antes", completou Gabbardo, lembrando que o aval para a aplicação da CoronaVac foi dado em 17 de janeiro, quase um mês após o primeiro lote com doses prontas da vacina chegar a São Paulo vindo da China.

Gabbardo também disse que a decisão de não exigir a realização de testes no Brasil foi uma decisão correta "desde que a vacina tenha tido registro em um dos países que apresentam histórico de boa regularidade na produção de vacinas e medicamentos".

O Secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, seguiu o mesmo tom, ao comentar sobre o assunto. Ele afirmou que não vê problemas em fazer essa mudança, desde que a segurança da população não seja comprometida.

"O que fizemos em relação à CoronaVac foi seguir todos os rituais éticos, científicos e com lisura - o que faz com que hoje todo cidadão que receba vacina, receba garantia de segurança e eficácia. O que precisamos é que, se tivermos rediscutindo essas considerações, que garantam essa mesma segurança para nossa população", pediu Jean.

A mudança da Anvisa deve favorecer a aprovação das vacinas Sputnik V e Covaxin, que não tiveram testes da fase 3 realizados no Brasil, mas já mostraram intenção de fazer o pedido de uso emergencial no país. Além disso, o governo federal já demonstrou intenção de comprar doses desses imunizantes. As negociações estão em andamento.

Doses adicionais e 100 milhões até setembro

Durante a entrevista coletiva, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), reforçou o que já tinha afirmado recentemente, de que o governo paulista busca a aquisição de mais 20 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 além das que serão produzidas pelo Butantan. Doria explicou que o objetivo é garantir a imunização de toda a população do estado, já que o Butantan está comprometido com a entrega de um total de 100 milhões de doses da CoronaVac ao Ministério da Saúde.

"[A aquisição de mais doses] não interfere no contrato com o Ministério da Saúde. 100 milhões de doses serão entregues dentro do prazo. Determinamos em São Paulo, adicionalmente, a aquisição de 20 milhões de doses. Se houver dificuldade do Sinovac em encaminhar, determinei que pode ser outra vacina", disse Doria, citando o laboratório chinês que é parceiro do Butantan na produção da CoronaVac.

O receio da gestão paulista é de que o estado não tenha os mais de 90 milhões de doses suficientes para imunizar com duas aplicações toda a população estimada em 46 milhões de pessoas. Isso porque, apesar de fornecer 100 milhões doses ao governo federal, a distribuição segue os critérios populacionais e de urgência quanto à pandemia.

"Sobre poder ou não, a constituição permite, o pacto federativo permite, não só São Paulo, qualquer outro [estado], Distrito Federal e prefeituras municipais. Se quiserem comprar mais vacinas, poderão fazer. É uma decisão do Executivo", comentou Doria sobre a polêmica se a ação é legal ou não.

Já a respeito dos 100 milhões doses que o Butantan entregará ao Ministério da Saúde, o diretor da instituição, Dimas Covas, disse que a previsão é concluir todas as entregas até setembro. Hoje, foi liberado um novo lote com 1,1 milhão de doses da CoronaVac ao governo federal, sendo que 248 mil já ficaram em São Paulo para serem aplicadas no estado.

"Teremos mais vacinas em breve com o lote [de insumos] que chegou nesta semana. A partir do dia 23 queremos liberar 600 mil doses por dia", disse Covas.

O Butantan ainda aguarda a formalização do contrato que prevê o fornecimento de 54 milhões de doses adicionais da CoronaVac ao Ministério, totalizando os 100 milhões de doses. A expectativa é de que o contrato possa ser assinado ainda hoje.