Doria: Saúde é incompetente e erra ao atribuir atraso de vacina ao Butantan
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), rebateu hoje as acusações do Ministério da Saúde, que atribuiu ao Instituto Butantan um atraso no cronograma de entrega de doses da CoronaVac.
Doria disse que a pasta chefiada pelo general Eduardo Pazuello tenta "atribuir ao Butantan a responsabilidade pela sua incompetência e incapacidade, que está acarretando na falta de vacinas".
"O Butantan entregou 9,8 milhões de doses da sua vacina para a imunização de brasileiros. De cada dez brasileiros, nove estão recebendo vacina do Butantan", afirmou o governador paulista durante entrevista coletiva hoje.
Doria fez referência à falta de doses de vacinas contra a covid-19 para o PNI (Plano Nacional de Imunização), conduzido pelo Ministério da Saúde, que já vem provocando a interrupção da vacinação em algumas cidades e a mudança no ritmo de imunização. O governador também lembrou a fala de ontem do secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco.
Em um vídeo gravado e divulgado pela pasta, Franco criticou o Butantan por entregar 30% a menos do previsto de doses da CoronaVac, a vacina produzida pela instituição ligada ao governo paulista.
O ministério afirmou que receberia apenas 2,7 milhões dos 9,3 milhões de doses previstas para entrega em fevereiro, o que deve atrasar o cronograma de imunização previsto pela pasta. "De saúde não entende, ele não tem competência nem habilitação para falar", disse Doria sobre o secretário-executivo do ministério.
Ofícios sem respostas
Na coletiva, o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou que o Ministério da Saúde não respondeu a cinco ofícios com propostas do Butantan para entrega de 60 milhões de doses da CoronaVac em 2020, e mais 100 milhões de doses em 2021.
De acordo com ele, os documentos foram enviados em 30 de julho de 2020, 16 de agosto de 2020, 7 de outubro de 2020, 16 de dezembro de 2020 e 17 de fevereiro de 2021. O UOL procurou o ministério, mas ainda não obteve resposta.
Dimas Covas lembrou que o contrato com o Butantan foi assinado em 7 de janeiro de 2021. "O ministério firmou dois contratos anteriores com Astrazeneca (que produz a vacina em parceria com a Universidade de Oxford e a Fundação Oswaldo Cruz) e com Covax (consórcio mundial gerido pela Organização Mundial de Saúde). Pagou adiantado para os dois e não recebeu uma única dose de vacina desses dois contratos. Existe falta de planejamento? Não só. Existe descompromisso, porque em julho estavam ofertadas vacinas. 60 milhões em 2020. E não tivemos (resposta)", disse.
Ele voltou a afirmar que o atraso na entrega das doses se deu por consequência das relações diplomáticas abaladas entre Brasil e China, por ações anteriores do governo brasileiro. Segundo o Butantan, o desgaste provocou o atraso na chegada de matéria-prima chinesa para a produção nacional.
Ao mesmo tempo, o presidente do Butantan classificou como "ficção" o plano do Ministério da Saúde, apresentado na quarta-feira (17), de aplicar 230,7 milhões de doses até julho.
"O Ministério da Saúde tem que assumir responsabilidade e não apresentar cronogramas irreais. É preciso jogar números reais e não ficção, não o que imaginamos que possa ser realidade", avaliou.
Dimas esperava agradecimento
Após a entrevista coletiva do governo paulista, Dimas Covas voltou a falar sobre a reclamação do Ministério da Saúde e afirmou que esperava "pelo menos um agradecimento ao Butantan" por fornecer a grande maioria das doses para o início da vacinação contra a covid-19 no país.
"O Ministério da Saúde deveria estar muito agradecido ao empenho do Butantan por que a vacina do Butantan começou o programa nacional de imunização e está mantendo esse programa", afirmou o diretor da instituição em entrevista à GloboNews.
"Portanto, esperávamos pelo menos um agradecimento ao Butantan, e não críticas nessa altura do acontecimento", completou.
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