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Alívio, esperança, segurança: o que sentem médicos vacinados contra a covid

A infectologista Lourdes Borzacov, que atua em Porto Velho, fala em alívio após vacina - Arquivo pessoal
A infectologista Lourdes Borzacov, que atua em Porto Velho, fala em alívio após vacina Imagem: Arquivo pessoal

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

22/02/2021 04h00

As equipes de saúde que atuam na linha de frente de combate à covid-19 relatam alívio e uma jornada com mais segurança após terem sido vacinados. A tranquilidade ajuda na hora de encarar hospitais cheios no pior momento da pandemia.

"Alívio. Acho que essa palavra resume tudo", diz a infectologista Lourdes Borzacov, que atua em hospitais públicos e privados de Porto Velho e recebeu a segunda dose da Coronavac na quinta-feira (18).

"Estresse sempre vai existir, mas o estresse do pós-atendimento de plantão alivia, especialmente para quem é mãe de filho pequeno", completa.

)Na capital de Rondônia, há lotação de hospitais por conta de uma segunda onda —ainda mais forte do que a primeira.

Há um agradecimento por não ter sido contaminada e por ter dado tempo de tomar a segunda dose. Um colega nosso chegou a tomar a primeira dose, mas logo depois se contaminou. Está hoje intubado em São Paulo.
Lourdes Borzacov, infectologista

Roger - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Herlindo Roger é médico no Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) no interior de Rondônia
Imagem: Arquivo pessoal
O boliviano radicado no Brasil Herlindo Roger é médico no Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) no interior de Rondônia e também já tomou as duas doses da vacina.

"Hoje me sinto mais seguro, com mais ímpeto para ajudar os doentes. Estamos perdendo aqueles que não se vacinaram e é triste perder guerreiros sem armas", diz.

A técnica de enfermagem do centro cirúrgico do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, Janaína Campos Marçal afirma estar mais confiante para fazer o trabalho. "Minha expectativa é para que chegue logo o dia 23 de fevereiro, quando vou receber a segunda dose, para ter mais paz", completa.

Rachel - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A médica Rachel Teixeira toma vacina contra a covid
Imagem: Arquivo pessoal

A médica Rachel Teixeira, do Hospital Regional da Unimed e HGF (Hospital Geral de Fortaleza), ressalta o momento de chegada da, quando se enfrenta uma alta significativa no Ceará de internações e fila de espera por leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Olhando para um ano atrás, a doença era muito mais desconhecida. A vacina veio agora, em paralelo a uma ascensão dos casos. É um alento nessa hora difícil.
Rachel Teixeira, médica

Ela teve colegas que foram vítimas da covid-19 e espera que isso não se repita. "Perdi um colega que estava em São Paulo. Foi o primeiro médico de São Paulo a falecer por covid", conta.

"Eu me sinto aliviada e um tanto esperançosa para a gente passar por mais esse momento de aperto de cinto e acelerar o carro porque a doença está vindo logo atrás da gente, e os pacientes estão precisando dessa nossa força de novo."

O médico Bruno Ishigami - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
O médico Bruno Ishigami se vacina no Recife
Imagem: Arquivo pessoal
O médico Bruno Ishigami, coordenador de cuidados epidemiológicos e preventivos no Hospital Eduardo Campos da Pessoa Idosa, no Recife, conta que a vacinação causou um "sentimento misto" nas equipes.

"Há uma felicidade pela campanha de vacinação e uma frustração pela pequena quantidade de vacinas que conseguimos ofertar", diz o profissional, que também já tomou a segunda dose da Coronavac e atua como infectologista em mais dois hospitais da cidade.

Ishigami percebe o efeito psicológico da vacina. "A sensação de segurança que a imunização transmite diminui um pouco o receio de se contaminar e transmitir para nossos familiares. Durante esses 11 meses de pandemia dava para perceber essa aflição em mim e em alguns colegas", afirma.

Alguns profissionais de saúde escolheram se isolar de familiares para reduzir esse risco [de transmissão]. Com a imunização há uma certa flexibilização.
Bruno Ishigami, médico infectologista

Para ele, ainda há um "longo caminho a ser percorrido". "A circulação de novas variantes pode comprometer nosso esforço em imunizar a população. Como não temos vacinas para todos, precisamos conscientizar a população. É necessário seguir as recomendações sanitárias", diz.

Adailton Braga - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Adailton Braga, chefe da UTI do Hospital Leonardo da Vinci, em Fortaleza
Imagem: Arquivo pessoal
Um outro fator lembrado por Adailton Braga, chefe de UTI do Hospital Leonardo da Vinci, em Fortaleza, é que as equipes vão ficar menos desfalcadas por adoecimentos --o que é fundamental para enfrentar um período de unidades lotadas.

"O número de afastamentos no primeiro pico chegou a 30% dos profissionais de atividades na linha de frente. Com a imunização, esperamos manter uma assistência adequada com o número adequado de profissionais que não se afastem devido o segundo pico", afirma.