Mandetta critica Bolsonaro por fala sobre 'mimimi': 'Não dá valor à vida'
Ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta criticou hoje o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por uma declaração feita pela manhã, em que classificou o sofrimento das pessoas durante a pandemia como "frescura" e "mimimi". Citando um versículo da Bíblia, Mandetta sugeriu "não atirar pérolas aos porcos" e acusou Bolsonaro de não valorizar a vida das pessoas.
"'Não deem o que é sagrado aos cães, nem atirem suas pérolas aos porcos''. Mateus 7:6. E chega de mimimi. Ele não dá valor à vida. Se cuidem", escreveu o ex-ministro em uma rede social.
Pela manhã, durante agenda em São Simão (GO), Bolsonaro disse ser preciso "enfrentar o problema [coronavírus] de peito aberto" e parar de "frescura", voltando a apelar para que governadores e prefeitos não adotem medidas restritivas para conter a crise sanitária.
O presidente também disse que gostaria de ter o poder para definir a política de enfrentamento ao vírus — como já tem. Contrário a medidas restritivas, Bolsonaro voltou a elogiar o "homem do campo" por ter continuado a produzir durante a pandemia, sugerindo que os demais são "covardes".
"Vocês [produtores rurais] não ficaram em casa, não se acovardaram, nós temos que enfrentar os nossos problemas, chega de frescura e de mimimi. Vão ficar chorando até quando? Temos que enfrentar os problemas", disse o presidente em evento de inauguração de trecho da ferrovia Norte-Sul.
"Respeitar, obviamente, os idosos, aqueles que têm doenças, comodidades, mas onde vai parar o Brasil se nós pararmos? A própria bíblia diz, em 365 citações, ela diz: 'Não temas'", completou.
Ataques ao STF
Bolsonaro também repetiu o argumento de que foi "impedido" pelo STF (Supremo Tribunal Federal) de decidir sobre políticas de combate ao vírus no país, apesar de isso ser mentira. O que o STF decidiu em abril de 2020, contudo, é que a União, estados, municípios têm "competência concorrente" na área da saúde pública para realizar ações que reduzam o impacto da covid-19.
"Eu apelo aqui, já que foi me castrada a autoridade, para governadores e prefeitos: repensem a política de fechar tudo, o povo quer trabalhar", afirmou o presidente. "Vamos combater o vírus, mas não de forma ignorante, burra, suicida. Como eu gostaria de ter o poder, como deveria ser meu, para definir essa política. Para isso que muitos de vocês votaram em mim".
O Brasil vive sua pior semana desde o início da pandemia, tendo acumulado sucessivos recordes no número de novas mortes registradas diariamente. Ontem, segundo dados do consórcio de veículos de imprensa do qual o UOL faz parte, foram mais 1.840 óbitos causados pela covid-19 confirmados no Brasil.
(Com Estadão Conteúdo)
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