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Em São Paulo, Saúde "não recomenda, mas não proíbe cloroquina" em hospital

Médicos têm autonomia para decidirem sobre uso da cloroquina, diz Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo -
Médicos têm autonomia para decidirem sobre uso da cloroquina, diz Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo

Anahi Martinho

Colaboração para o UOL, em São Paulo

06/03/2021 04h00

Mesmo após diversos estudos apontarem a ineficácia da cloroquina no tratamento de covid-19, o medicamento continua sendo receitado em hospitais da rede pública.

Procurada pelo UOL, a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo informou que "não recomenda, mas também não proíbe" o uso da cloroquina para tratar pacientes com covid-19.

Segundo comunicado da secretaria, a decisão de receitar ou não o remédio é dos próprios médicos.

O órgão afirmou ainda que há estoques do medicamento nos hospitais municipais desde o dia 9 de abril de 2020, com base em recomendações do Ministério da Saúde.

"A Secretaria Municipal da Saúde informa que não recomenda a prescrição da cloroquina e hidroxicloroquina para tratamento da covid-19, mas não a proíbe. O órgão destaca que a conduta clínica é sempre definida pelo médico, seguindo a orientação do Conselho Federal de Medicina que pontua a autonomia dos médicos na prescrição", diz o comunicado.

O CFM (Conselho Federal de Medicina) confirma que deixa a cargo dos médicos e dos próprios pacientes a escolha sobre usar ou não o medicamento.

"É decisão do médico realizar o tratamento que julgar adequado, desde que com a concordância do paciente, esclarecendo que não existe benefício comprovado no tratamento farmacológico dessa doença e obtendo o consentimento livre e esclarecido", disse a assessoria de imprensa do CFM ao UOL.

O órgão afirma ainda que "respeita a autonomia do médico e do paciente para que ambos, em comum acordo, estabeleçam qual tratamento será realizado" e afirma respaldar a decisão na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

"A autonomia do médico e do paciente são garantias constitucionais, invioláveis, que não podem ser desrespeitadas no caso de doença sem tratamento farmacológico reconhecido, como é o caso da covid-19", diz o CFM.

Na última segunda-feira (1º), a Organização Mundial da Saúde publicou uma diretriz na qual pede fortemente que a hidroxicloroquina não seja usada como tratamento preventivo da covid-19. O documento foi divulgado na revista científica "The BMJ".

A "forte recomendação" da OMS contra o uso da hidroxicloroquina se baseia em testes clínicos que contaram com a participação de 6.059 pessoas. As evidências mostraram com um "alto grau de certeza" que a hidroxicloroquina não tem efeito significativo em prevenir mortes ou internações de pessoas infectadas pelo vírus.

Em janeiro, médicos da rede pública de saúde do Amazonas afirmaram sofrer pressões e ameaças de pacientes para que receitassem hidroxicloroquina. Em Santa Catarina, uma paciente de 72 anos foi medicada com cloroquina e ivermectina. Ela teve piora no quadro de saúde e precisou ser internada dez dias depois.

Drogas como azitromicina e ivermectina, que integram o chamado "tratamento precoce" da covid-19, que não tem comprovação científica de eficácia contra a doença, mas é estimulado pelo Ministério da Saúde e pelo presidente Jair Bolsonaro, podem causar arritmia cardíaca, sangramentos e inflamação no fígado, segundo especialistas.