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Covid: prefeitura de cidade de SP atribui 2 mortes à falta de kit intubação

Anderson Prado de Lima, prefeito de Lençóis Paulista (SP) - Reprodução/Facebook
Anderson Prado de Lima, prefeito de Lençóis Paulista (SP) Imagem: Reprodução/Facebook

Naian Lopes

Colaboração para o UOL, em Pereira Barreto (SP)

29/03/2021 21h40Atualizada em 30/03/2021 20h37

A Prefeitura de Lençóis Paulista (SP) confirmou ontem que dois pacientes morreram em decorrência da covid-19 porque faltaram medicamentos e insumos para a intubação no último final de semana. As vítimas foram uma mulher de 46 anos e um homem de 41 anos, que não tiveram as identidades reveladas.

De acordo com as autoridades, a situação mostra que o sistema de saúde de Lençóis Paulista (SP) está muito perto de entrar em colapso, mesmo com a ampliação de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

A situação levou a um desabafo do médico Norberto Pompermayer, presidente do Comitê de Enfrentamento à Covid-19 do município, que acabou viralizando, sendo compartilhada em grupos de WhatsApp. Nele, Norberto informa que pacientes morreram por falta de bloqueador neuromuscular.

As pessoas estão morrendo no respirador. E as que precisam intubar, não vamos intubar. Acabou
Norberto Pompermayer

"Lençóis Paulista está no caos e estamos tentando administrar o caos. A equipe está desmotivada, tem fisioterapeuta que sai chorando e vai embora pra casa. Estamos vendo as pessoas agonizando", completou.

A prefeitura confirmou que o áudio é do médico e afirmou se tratar de um desabafo particular de alguém exausto no enfrentamento da doença e que não vê empenho de quem deveria combater a pandemia.

Nos últimos dias, a capacidade de internações está no limite, e a secretaria municipal de Saúde pediu ao DRS (Departamento Regional de Saúde) de Bauru que o kit intubação fosse reposto, porque o estoque estava acabando. Ontem, chegaram em Lençóis Paulista 40 ampolas de midazolam, mas a demanda diária chega a 320 ampolas.

Procurada, a DRS de Bauru alegou que enviou 740 ampolas de medicamentos para intubação ao hospital Nossa Senhora da Piedade, um dos principais de Lençóis Paulista, no último final de semana. O órgão informou também que o Ministério da Saúde só enviou 25% do prometido ao governo de São Paulo, e pediu uma centralização para a distribuição do medicamento.

Em live feita no Facebook, o prefeito Anderson Prado de Lima (DEM) fez um apelo para que a população não se aglomere e tome todos os cuidados para não ser contaminado pela doença. Ele revelou que entrou em contato com a DRS e pediu a transferência de pacientes que estão no PAC-19 (Pronto Atendimento à Covid-19) para hospitais referências de atendimento de covid na região.

Criamos o PAC-19, criamos enfermarias e leitos de UTI pra proteger a nossa gente e ajudar a região quando era possível. Agora é a nossa vez de pedir ajuda, pedir socorro. Estamos sendo ajudados, mas falta uma coordenação nacional do Ministério da Saúde. Nós não conseguimos comprar medicamentos das farmacêuticas, não há para vender. (...) A situação é séria e depende você que está aí deste lado, fazendo sua parte e cobrar seus amigos e familiares. É muito fácil a gente se colocar como intelectual de rede social e médico de Wikipédia e não fazer a nossa parte
Anderson Prado de Lima, prefeito de Lençóis Paulista

Mesmo o prefeito tendo afirmado que não havia medicamento para comprar, por meio de nota, a prefeitura informou hoje que conseguiu adquirir mais ampolas, mas que somente irão durar por mais 48 horas, valendo a partir da noite de ontem.

Decisão judicial

Hoje, a juíza Marina Freire determinou que, após a intimação, o governo de São Paulo abasteça Lençóis Paulista com os medicamentos necessários para regularizar a situação do município dos pacientes intubados. Ela fixou multa de R$ 3 milhões se a ordem não for cumprida.

Essa decisão ocorreu porque a prefeitura entrou na Justiça para receber os medicamentos por força judicial. Ainda não há informação se o governo do estado já foi notificado.

Cidade tem 103 mortes por covid

Lençóis Paulista faz parte do Departamento Regional de Saúde de Bauru, que atualmente está com 98,5% de ocupação em UTI, enquanto as enfermarias estão ocupadas em 78,6%. A média móvel de internações na região está entre 90 e 124 casos. Ontem a média móvel de mortes foi de 2,57, o maior número desde o início da pandemia.

De acordo com dados da prefeitura, a cidade tem 103 mortes e 8.223 casos de covid-19.