Mandetta diz que Bolsonaro queria tratamento genocida à pandemia
Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde de Jair Bolsonaro (sem partido), ironizou o fato de o presidente ter aparecido de máscara para anunciar um comitê de crise contra a covid-19 no último dia 24. Para o médico ortopedista, a forma com que foi e é tratada a pandemia do novo coronavírus pelo governo federal é genocida.
Em entrevista ao Valor Econômico, Mandetta disse que Bolsonaro está revendo sua estratégia pois "nem os robôs que eles têm lá têm coragem de defendê-lo. Tem robô se revoltando!". Mas o ex-ministro não exime o Congresso da culpa pelos mais de 300 mil mortos: "Ficou esse tempo todo assistindo e que tinha as ferramentas na mão. Temos uma Procuradoria-Geral da República que é cúmplice, que poderia ter freado e que ficou assistindo".
Mandetta acredita, ainda, que essa não será a única crise enfrentada pelo país e que dificilmente o presidente estaria preparado para as próximas que virão. "[Ele está preparado] para enfrentar o monstro da lagoa da educação, da cultura, do entretenimento, das empresas, do desemprego, da fome, da carestia, da falta de capacidade de investimento do Estado?", questionou na entrevista.
O ex-ministro afirmou que, para ele, o sinal de alerta se acendeu já em janeiro de 2020, quando recebeu uma solicitação para trocar quatro integrantes de seu grupo por nomes do Rio de Janeiro e sem experiência no SUS — ideia de Flavio Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro. Mas, com a pandemia, essa ideia se perdeu.
"Aí queriam um tratamento político genocida, terrível. Naquele momento, olhei e pensei: não é possível, esse cara não está entendendo... Se na primeira agressão dele eu falasse: olha, estou indo embora, bota outro aí, não ia dormir em paz com minha consciência sabendo da gravidade do que vinha pela frente", afirmou Mandetta ao Valor. As dificuldades de diálogo com o presidente foram ficando cada vez mais intensas, até a exoneração do então ministro.
Logo após sua saída, Mandetta lembra que vários membros da equipe foram trocados e que "foram fazendo aquelas bobajadas", se referindo à cloroquina, ao descaso e também à nomeação de Eduardo Pazuello, um militar, como ministro da Saúde.
Sobre a recente anulação das condenações de Lula (PT), Mandetta disse ao Valor Econômico que seu lema é "Nem Lula, Nem Bolsonaro". Para ele, o país é um "barril de pólvora" e os dois estariam "com um isqueiro na mão e querendo fumar". Ainda segundo o ex-ministro, teremos mais colapsos além deste da saúde. "Qual a capacidade de o país se reerguer? Temos três poderes frágeis. Um Executivo derretendo no meio da rua, um Legislativo que expressa que a liga social brasileira foi completamente rota e um Judiciário que acabou de dar um triplo salto para trás em termos de promoção de justiça", questionou.
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