Pediatra relata abalo com morte e superação com curas contra covid infantil
Em dez meses, a médica Maria Célia Santos contou 400 crianças internadas pelo novo coronavírus na UTI pediátrica contra a covid do Hospital da Mulher, em Maceió.
"Hoje [anteontem], está com oito internos, temos duas vagas. Mas muitas vezes a UTI [Unidade de Terapia Intensiva] esteve lotada", conta a profissional de 40 anos.
O hospital é referência para atendimentos a crianças que têm a forma grave da covid-19 em Alagoas. A pediatra dá três plantões por semana, o que faz com que ela conheça cada um de seus pacientes.
Crianças costumam ser mais resistentes à doença. Por isso, a mortalidade na UTI pediátrica alagoana é de 0,5%, contra 35% da média das UTIs covid para adultos, segundo dados do projeto UTIs Brasileiras.
Embora poucas, as perdas existem e machucam. Desde março do ano passado, quando o hospital foi aberto, foram oito óbitos infantis. "A gente nunca espera. Sempre que a gente perde uma criança é desastroso! É muito triste para toda a equipe", diz.
Em depoimento ao UOL, a pediatra conta como é o dia a dia dentro da unidade.
"Não é uma tarefa fácil cuidar de crianças em uma UTI Covid. Ao contrário, é um desafio e tanto tratá-las. É um vírus novo e tem alguns pontos dele que a gente não entende ainda.
Mas acho que a gente tem se superado nessa luta, e tem sido um aprendizado muito gratificante, porque salvamos vidas.
Estamos com muitos casos graves para tratar. Como sabemos, e graças a Deus, é uma minoria que se transforma em casos infantis mais graves.
A criança, quando pega e vem parar com a gente, em regra se sai bem. Eles precisam de um suporte de oxigênio. São casos estáveis. Só que há uma porcentagem que fica bem grave, principalmente se têm algum tipo de comorbidade. Por exemplo: se uma criança tem câncer, neuropatias ou cardiopatias, o vírus se torna mais agressivo. Mesmo assim, a maioria delas ainda se sai muito bem.
O que a gente tem notado é que, no ano passado, muitas crianças que se internavam aqui tinham testes negativos, eram casos só suspeitos. Neste ano, a coisa mudou: quase 100% das crianças que chegam com suspeita para covid tem o exame positivo.
Elas ainda têm uma sobrevida alta, respondem muito bem ao tratamento --e isso, de certo modo, nos deixa mais tranquilos e felizes.
Mas esse vírus causa um estrago no organismo. Quando contamina a criança, o dano é bem menor [em comparação a adultos]. A gente ainda não sabe bem o porquê, estamos estudando isso, mas não é tão danoso para as crianças —e só se torna, na verdade, quando se tem alguma comorbidade.
Só que, quando se tem uma comorbidade, elas vão do estado grave para gravíssimo muito rápido. Já tivemos algumas perdas. É como se o vírus agredisse vários órgãos de uma vez.
Outra coisa que acontece é a síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica pós-covid. Ela atinge vários órgãos: coração, pulmão, rins; ela sai acometendo vários sistemas do corpo.
A sensação de perda para a gente, na área da pediatria, é sempre muito complicada porque trabalhamos com crianças. E criança não é para morrer! É diferente, por exemplo, quando você trabalha com idoso.
A gente nunca espera, nem quer, perder as crianças. Sempre que a gente perde é desastroso! É muito triste para toda a equipe. Graças a Deus, nossas perdas foram bem poucas, não há óbitos como, por exemplo, em uma UTI adulto. Isso nos deixa mais tranquilos para seguir o nosso trabalho de salvar vidas."
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