Doria volta a criticar Bolsonaro e chama apoiadores de "malucos como ele"
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), voltou a criticar os posicionamentos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) contra as medidas de isolamento social. Em coletiva nesta quarta-feira (14), ele chamou o presidente, a quem apoiou nas eleições de 2018, de negacionista e disse que seus apoiadores são "malucos como ele".
Nesta tarde, Bolsonaro criticou mais uma vez medidas de restrição de circulação. Doria criticou a declaração, que vai de encontro às medidas implementadas pelo Plano SP, e cobrou kits intubação do Ministério da Saúde.
"O presidente Jair Bolsonaro acaba de fazer um pronunciamento e afirmou a apoiadores dele —ou seja, malucos como ele— na sede do Palácio do Alvorada, que espera uma sinalização do povo para tomar providências como o lockdown", disse Doria, em coletiva no Palácio dos Bandeirantes.
Aos apoiadores, o presidente afirmou que o Brasil "está no limite" e que vai fazer "o que o povo quiser que eu faça". "Pessoal fala que eu devo tomar providências. Estou aguardando o povo dar uma sinalização", declarou Bolsonaro.
Quero dizer ao presidente Jair Bolsonaro que o que o senhor devia esperar do povo é aquilo o que o senhor não oferece ao povo --compaixão e proteção ao povo do seu país. Com seu negacionismo, o senhor é responsável por uma parcela considerável das quase 380 mil vidas que se perderam no Brasil. Se o senhor tivesse compaixão e liderança teria oferecido vacina e não cloroquina para os brasileiros.
João Doria, governador de São Paulo
Bolsonaro e Doria estão em guerra de declarações públicas desde o início da pandemia. O presidente é publicamente contra as medidas restritivas impostas pelo governo paulista, enquanto o tucano cobra semanalmente o que chama de omissão da União no combate à pandemia.
Reclamação sobre kits intubação
A cobrança mais recente por parte do governo estadual é o requerimento de aquisição dos kits intubação feito pelo governo federal no dim de março. Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, o Ministério da Saúde não está distribuindo os medicamentos proporcionalmente e os municípios enfrentam desabastecimento.
"Há 40 dias estamos fazendo ofícios em série mostrando a importância e o risco que todo o país corre, mas principalmente o estado de São Paulo, no não-suprimento adequado de medicamentos que são importantes na intubação dos nossos pacientes", afirmou o secretário Jean Gorinchteyn.
De acordo com a secretaria, como houve a requisição emergencial do ministério, não é possível fazer a compra com os distribuidores nacionais e os medicamentos já comprados serão repassados ao ministério. "São medicações anestésicas, sedativas e também o que chamamos de bloqueadores neuromusculares", disse Gorinchteyn.
A Fehosp (Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo) já havia alertado ontem para a situação de desabastecimento gravíssimo enfrentado pelas unidades de saúde paulistas. Segundo a entidade, mais da metade dos cerca de 300 hospitais associados tinham estoque de medicamentos do "kit intubação" para apenas três ou no máximo cinco dias.
Além dos anestésicos, sedativos e relaxantes musculares, também há risco de antibióticos faltarem. Hospitais de Matão, Guarujá, Votuporanga, Presidente Epitácio, Fernandópolis e Rio Preto são exemplos de unidades onde o estoque tem previsão para durar de dois a três dias.
Ontem (14), o governo paulista enviou um ofício ao Ministério da Saúde relatando a "situação gravíssima" e pedindo ajuda para receber os medicamentos com estoque crítico em até 24 horas. Na capital, a Secretaria Municipal de Saúde diz que a situação está sob controle. Ao UOL, o secretário Edson Aparecido afirmou que o fornecimento dos medicamentos segue normal e não há desabastecimento na rede municipal.
"Precisamos que o governo não só responda a esses ofícios, mas responda de forma ativa", cobrou Gorinchteyn.
Internações em queda
Nos dados apresentados hoje pela gestão de Doria, ainda é possível observar um aumento crescente no número de novos casos e mortes por causa da covid-19. No entanto, o secretário Jean Gorinchteyn destacou a queda nas internações como um sinal de que as medidas restritivas vêm surtindo efeito.
Segundo dados do governo paulista, as internações por covid-19 caíram 17,4% no estado até agora, na semana epidemiológica que começou no domingo e vai até o próximo sábado (17). A queda é em comparação com a semana anterior, de 4 a 10 de abril.
Apesar de os dados ainda serem parciais, Gorinchteyn vê os números com otimismo se comparados com o cenário que o estado tinha há pouco mais de duas semanas.
É importante lembrar que no dia 1º de abril tínhamos taxa de ocupação de 92,6% [de UTIs covid no estado], com uma ocupação de 13.120 pacientes ali internados. Então dessa maneira mostramos o quanto a redução no número de pacientes internados, a taxa de ocupação de pacientes, reflete exatamente um controle da pandemia ainda maior.
Jean Gorinchteyn, secretário estadual da Saúde
Atualmente, o estado tem ocupação de 86,4% das vagas de UTI para a covid-19. Na capital, o índice é de 84,9%. O número de internados em terapia intensiva, que já foi de mais de 13 mil pacientes, agora é de 11.798 pessoas. Já em enfermarias do estado, são 13.462 internados.
Nas últimas 24 horas, foram registradas 1.095 mortes no estado, mantendo um patamar alto de óbitos —ontem, foram 1.282. Desde o início da pandemia, 85.475 pessoas já morreram em São Paulo por causa da covid-19, e o estado registrou 2.686.031 casos da doença.
*(Colaborou Leonardo Martins)
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