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Políticos também são suspeitos de furar fila da vacina em Assis (SP)

Imagem ilustrativa de vacinação - SOPA Images/Getty Images
Imagem ilustrativa de vacinação Imagem: SOPA Images/Getty Images

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

16/04/2021 12h12

O 32º batalhão da PM (Polícia Militar) de Assis, no interior de São Paulo, que é suspeito de ter abrigado um esquema de fura fila na aplicação de vacinas contra a covid-19, seria apenas um dos pontos de uma série de irregularidades que ocorreram na campanha de imunização da cidade.

Políticos, comerciantes e até um piloto de avião, que estariam de fora da lista de prioridades de vacinação, teriam furado a fila na cidade e já se vacinado.

O caso está na boca do povo dos pouco mais de 100 mil habitantes da cidade que fica a 430 km da capital paulista, movimentou a Câmara local e a Prefeitura se viu obrigada a publicar dados de transparência. Os dados geraram surpresa ao revelarem que nomes conhecidos do município, que não poderiam ser vacinados normalmente, já haviam sido imunizados.

Ao todo, já estão sob a mira do MP (Ministério Público) de Assis 62 nomes de pessoas que teriam sido vacinadas irregularmente e/ou participado da fraude. Atualmente, tramitam pelo menos cinco procedimentos investigatórios na Promotoria sobre o assunto.

A prefeitura do município se viu obrigada a divulgar a lista de todas as pessoas vacinadas em Assis por meio de uma lei municipal, de autoria do vereador Vinicius Simili (PDT), presidente da Câmara, e sancionada pelo prefeito José Fernandes (PDT). A lei havia sido proposta após as suspeitas de irregularidade terem corrido aos quatro ventos pelo município.

Apesar de a lista já ter sido publicada, o MP afirmou que, até o momento, "não há documentos que comprovem a fura de fila por qualquer pessoa".

De acordo com vereadores entrevistados pelo UOL, está sob suspeita uma colaboração de um médico conhecido da cidade, que teria conseguido ajudar amigos ao torná-los pessoas que estariam de alguma maneira colaborando com a saúde pública.

Desta maneira, as pessoas da cidade que não trabalham em serviços essenciais e que não prestariam serviço à saúde pública teriam conseguido se vacinar sob o argumento de serem trabalhadores ligados à saúde. O médico que teria feito o esquema, de acordo com as informações pautadas na Câmara, tem um sobrenome conhecido em Assis e é familiar de um político influente da cidade.

De acordo com a Promotoria de Justiça local, todos os procedimentos investigatórios "estão em fase de diligências, com informações sendo buscadas junto aos envolvidos".

Dois oficiais da PM afastados

Sob suspeita de terem participado de um esquema que vacinou pelo menos 20 familiares de policiais militares na cidade, dois oficiais do batalhão local foram afastados do serviço operacional na noite de ontem, de acordo com a SSP (Secretaria da Segurança Pública).

O afastamento ocorreu depois de o UOL publicar reportagem sobre a suspeita da fraude na vacinação ter ocorrido no batalhão no último dia 7 de abril. Por meio de nota, a SSP afirmou ter recebido "com perplexidade a informação" e que o afastamento dos oficiais ocorreu porque "a instituição não compactua com desvios de comportamento e o caso está sendo rigorosamente apurado".

Anteriormente, por meio de nota, a PM havia afirmado que seguiu todas as recomendações do PNI (Programa Nacional de Imunizações) e do PEI (Plano Estadual de Imunização) para vacinação contra a covid e que os protocolos técnicos de ambas as instâncias "preveem o aproveitamento de doses remanescentes em frascos abertos ao fim do expediente de imunização, se houver".

No entanto, de acordo com a nota de serviço interna da PM sobre as diretrizes da campanha de vacinação para profissionais da segurança pública, assinada pelo subcomandante da corporação, o coronel Marcus Vinicius Valério, foi estabelecido que familiares nem sequer poderiam entrar nos batalhões durante o processo de imunização.

Após a publicação da reportagem pelo UOL, a Promotoria disse que "caso comprovadas as ilegalidades, medidas serão adotadas com vistas à responsabilização dos agentes públicos e particulares envolvidos".