Jovem dá à luz gêmeas, contrai covid-19 e morre sem conhecer as filhas
Após dar à luz prematuramente duas meninas gêmeas, uma jovem de 27 anos morreu nesta sexta-feira (16), no HGA (Hospital Guilherme Álvaro), em Santos. Ela passou um mês internada por conta da gravidez, de alto risco. Nathanny Ribeiro da Silva era hipertensa, tinha problemas sérios no coração e na tireoide e, pouco antes da cesariana de emergência, contraiu covid-19.
A enfermeira Ana Paula Maria Ramos é gerente da Usafa (Unidade de Saúde da Família) do bairro Sítio Conceiçãozinha, no Guarujá, onde a mãe morava. A profissional de saúde acompanhou de perto a evolução da gravidez de Nathanny Ribeiro da Silva desde as primeiras semanas. Ela disse que a jovem, que deixou outros dois filhos pequenos, já havia sido aconselhada pelos profissionais da unidade a não engravidar novamente.
"A primeira gestação dela já foi muito difícil. Ela foi orientada a utilizar métodos contraceptivos, mas ela era muito teimosa", conta, lembrando que no bairro, uma pequena comunidade carente na cidade do Guarujá, todos se conhecem. "Ela vinha muito à unidade. Mas não seguiu as recomendações e acabou engravidando do segundo filho".
Quando Nathanny ficou grávida das gêmeas, Ana Paula sabia que o risco seria dobrado. E garante que tanto ela quanto a equipe da unidade de saúde fizeram de tudo para garantir que a jovem fosse assistida de perto.
"Ela parecia não entender a gravidade da situação, estava sempre muito alegre e sorridente. E às vezes não aparecia nas consultas do pré-natal. Eu ou alguém da equipe íamos até a casa dela para saber se estava tudo bem."
O último atendimento que a enfermeira prestou a Nathanny foi no dia 5 de março. A pressão estava normal e a saúde da jovem parecia estável. "Depois desse dia, ela sumiu. Soube que havia procurado o HGA, que é especializado em gravidez de risco. Ela queria muito ter as bebês."
Fuga do hospital
A Secretaria Estadual da Saúde informou que Nathanny deu entrada no dia 15 de março no Hospital Guilherme Álvaro já com quadro grave, com gestação de risco e histórico de comorbidades. Devido à gravidade clínica, foi internada na UTI e estava assistida por equipe multidisciplinar, retornando à enfermaria no dia 19.
No dia 21 de março, a jovem fugiu do hospital, onde estava internada antes mesmo da conclusão dos cuidados necessários e da alta médica. Um boletim de ocorrência ao qual o UOL teve acesso foi registrado pela Polícia Civil no dia 22 de março, às 11h17.
Na madrugada do dia 23, a jovem começou a passar mal em casa. Com falta de ar, foi levada de volta ao HGA que, segundo a Secretaria da Saúde, já havia contatado a família, solicitando o seu retorno.
Ao realizarem uma tomografia, os médicos descobriram uma mancha nos pulmões e ela foi mantida no isolamento da maternidade, com suspeita de covid-19. Os exames deram positivo. No dia 25, a equipe realizou uma cesária de emergência e ela deu à luz gêmeas, que nasceram prematuras, com sete meses.
Nathanny sequer pôde segurar as crianças. Logo após o parto teve que ser sedada, intubada e assim permaneceu, numa UTI específica para casos da doença, até a última quinta-feira (15), quando —já não respondendo mais aos tratamentos— acabou falecendo.
O corpo da jovem foi sepultado nesta sexta-feira (16), no Cemitério Jardim da Paz, em Guarujá.
Thaís Ribeiro, 21 é irmã de Nathanny. Ela informou ao UOL que, quando ela procurou o HGA, já não se sentia bem. Ela sentia uma pressão no peito e na barriga e já não conseguia respirar normalmente. "Quando minha mãe foi ao HGA receber a notícia do falecimento dela, disseram que a causa da morte tinha sido um problema no coração, não a covid-19. Mas quando ela voltou, após ter fugido, colocaram ela numa sala com um paciente que já estava intubado por conta da doença. E ela começou a ficar com muito medo de ter a covid. Acreditamos que ela acabou pegando lá."
"Foram seguidos todos os protocolos, tanto para a gestação de alto risco quanto para casos de coronavírus, sendo incorreto afirmar que ela teria se infectado na unidade, uma vez que deixou o serviço contra indicação médica. Durante a internação, o hospital prestou atendimento dentro dos protocolos, forneceu informações aos familiares e segue à disposição dos mesmos", afirmou a secretaria, em nota.
Avó precisa de ajuda
Nathanny morava com o namorado e não trabalhava. Agora os quatro filhos da jovem estão sob os cuidados da avó materna, que não quis dar entrevistas por conta do luto. A família, de origem muito humilde, precisa de doações para as gêmeas, que nasceram saudáveis, livres da covid-19 e já estão sob o atendimento direto da enfermeira Ana Paula.
Fraldas, produtos de higiene, leite em pó podem ser encaminhados à Usafa do Sítio Conceiçãozinha, que fica na R. Nova Esperança, 11, em Vicente de Carvalho.
"Queremos ajudar, conhecemos a família e tínhamos um carinho grande pela Nathanny. Além de ser gerente da Usafa, estou sempre tentando fazer mais, por ser uma comunidade muito carente. Quem puder ajudar, é só me procurar lá na Usafa", concluiu Ana Paula.
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