Técnica de enfermagem diz usar uma agulha para aplicar 10 doses da vacina
Um vídeo que circula nas redes sociais mostra uma técnica de enfermagem dizendo que utiliza a mesma agulha de seringa para aplicar dez doses da vacina contra a covid-19 em moradores de Altamira, no Pará. A prefeitura do município confirmou a veracidade do vídeo ao UOL, mas ponderou "que houve foi uma falha de comunicação, e não de procedimentos" pois a profissional da saúde teria ficado nervosa ao ser questionada sobre as aplicações do imunizante.
Agora, o idoso que aparece no vídeo sendo vacinado está fazendo tratamento profilático para reduzir o risco de ser infectado pelo HIV e outras infecções transmissíveis em razão do possível compartilhamento de agulha usada na imunização.
A gravação foi feita por um homem enquanto o idoso é vacinado, que questiona "por que doeu tanto assim?". Alguém no fundo do vídeo diz que a "agulha está ruim" e a técnica de enfermagem explica: "agora, colocaram nós na televisão [dizendo] que a gente não podia fazer do jeito que estávamos fazendo, então agora, essa agulha ela faz dez furos aqui ó, entendeu? É uma norma deles lá, então a gente não pode estar trocando a agulha".
A Secretaria Municipal de Saúde, por meio da Coordenação de Imunização, disse ao UOL que "todos os materiais utilizados nas aplicações das doses de vacina são descartados após o uso. Tanto as seringas como as agulhas descartáveis são utilizadas uma única vez", detalhando que isso ocorre com todas as pessoas imunizadas no município.
A nota da Secretaria explica que o Manual de Normas e Procedimentos para a Vacinação do Ministério da Saúde e também a SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) indicam que é "proibido deixar o frasco da vacina agulhado, para facilitar a aspiração no frasco de vacina".
É orientado, então, que a cada aspiração com as seringas descartáveis, o profissional perfure a borracha em locais diferentes evitando a parte central da tampa, e é assim que a Coordenação de imunização orienta os profissionais que estão aplicando as doses de vacina.
Secretaria Municipal de Saúde de Altamira
De acordo com a pasta, a técnica de enfermagem — que não teve a identidade revelada — teria ficado "acuada com os questionamentos" realizados pelo idoso e a pessoa que estava filmando e, equivocadamente, "passou uma informação que não procede e que coloca em questão o compromisso e a ética com que todos os profissionais de saúde estão atuando na linha de frente da covid-19".
A secretaria ainda destacou que um enfermeiro que estava no local disse que o idoso filmado usou a última dose do frasco que tinha no isopor, por isso a profissional coloca a agulha várias vezes no frasco e retira durante o vídeo. "Ao final do expediente, todos os frascos utilizados são devolvidos para o setor de imunização para serem conferidos e ser feito o descarte correto", finaliza a nota.
Idoso faz tratamento
Rafael Abucater, médico e filho do idoso, disse ao Jornal da Record que "após ver o vídeo [da imunização] pedi que o meu pai fosse até uma unidade de pronto-atendimento relatar o ocorrido aos profissionais da saúde do local para que fossem tomadas as devidas providências. [Ele fez] Um teste rápido para HIV, uma profilaxia contra sífilis e iniciou o tratamento profilático contra o HIV, esse tratamento vai durar 28 dias".
A secretaria informou à emissora que não é possível determinar quantas pessoas teriam sido vacinadas pela técnica de enfermagem pois não consegue individualizar as aplicações das doses pelos profissionais. Segundo a emissora, o vídeo da aplicação será periciado e a técnica de enfermagem foi afastada do cargo.
Osvaldo Damasceno, diretor de vacinação da Secretaria de Saúde do município, explicou em entrevista à TV que a técnica de enfermagem é uma das mais antigas e experientes da cidade.
A gente não considera que seja possível que ela tenha feito ou esteja fazendo a aplicação em mais pacientes com uma mesma agulha. A gente tem um problema de comunicação porque as pessoas são habilitadas para a fazer a parte técnica, mas, às vezes, não conseguiu explicar.
Osvaldo Damasceno
Ainda para a emissora, Jocilane Gomes, coordenadora de imunização da prefeitura, afirmou que não há indicação para o reúso da seringa. Ao simular o processo de aplicação de uma dose vacina com uma enfermeira para a reportagem, a profissional da saúde, aparentemente, coloca o imunizante na seringa, mas a descarta sem aplicar em alguém.
Jocilane negou que uma dose do imunizante tenha sido jogada fora ao exemplificar a imunização à reportagem. "Nessa prática utilizamos kit de agulha e seringa esterilizadas e também fizemos uso de um frasco vazio. Dentro desses frascos podem sobrar resíduos que nem podem ser aspirados", alegou.
O UOL questionou a Secretaria de Saúde sobre abertura de sindicância para apurar o caso e aguarda um novo retorno da pasta.
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