Levantamento indica possível subnotificação de mortes por covid-19 em bebês
Um levantamento realizado pela organização de saúde pública Vital Strategies, e comandado pela epidemiologista da UFMG Fátima Marinho, indicou a possibilidade de subnotificação em mortes de bebês provocadas por infecção de covid-19 no Brasil.
O levantamento, ao qual o UOL teve acesso após ser publicado pelo jornal O Globo, mostra que o número total de óbitos em bebês de até um ano pode chegar a 1647, embora o número oficial seja de 617.
Não é possível apontar com exatidão se toda essa diferença foi causada por casos de covid-19, uma vez que a correção foi feita levando em conta o excesso de mortes por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) sem causa definida, em comparação a 2019.
Porém, segundo a médica epidemiologista e assessora técnica sênior da Vital Strategies, Ana Luiza Bierrenbach, o aumento seguiu a tendência de altas e baixas da pandemia no Brasil, indicando essa subnotificação. Os dados foram retirados do sistema Sivep-Gripe.
"Notamos um grande aumento de casos de óbitos não certificados, ou seja, que não tinham um agente associado a esse caso. Esses não especificados e sem informação aumentaram concomitantemente à covid e basicamente seguem as altas e baixas da covid", explicou.
O mesmo padrão ocorreu em outras faixas de idade. Se considerada a idade de 0 a 4 anos, o número pode chegar a 2.345, sendo que 873 mortes foram confirmadas por covid-19. Os dados foram atualizados pela última vez no dia 13 de maio.
Segundo a epidemiologista, apesar da falta de ferramentas para comprovar que toda essa diferença no excesso de mortes por SRAG tenha sido por covid-19, os indicativos são muito fortes de subnotificação.
"É claro que a gente tem que considerar a possibilidade desses casos serem de outros agentes comuns. Mas não achamos que tem uma outra explicação para esses casos. Alguém responsável pela notificação verificou que ele cabia na nossa definição de SRAG. O que ficou faltando foi uma definição de covid", disse.
Ela acredita, inclusive, que o número pode ser maior em bebês, uma vez que a covid-19 pode provocar sintomas diversos que não se encaixam na SRAG.
"Embora esse banco de dados reúna todos os dados de síndrome respiratória, evidentemente existem casos e óbitos que não entram no banco por vários motivos. A pessoa que morreu também pode não apresentar um quadro de SRAG típica", disse.
Uma das causas desta possível subnotificação está na falta de testagem adequada, principalmente no começo da epidemia. Por isso, segundo ela, a correção foi menor na segunda onda da doença. "O teste não tem uma sensibilidade plena, não é em todo mundo infectado pela covid-19 que o teste dá positivo", complementa.
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