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Estudo liga caso de covid em jovem em Sergipe a síndrome que paralisa corpo

Imagens do estudo que permitiram associar a infecção pelo novo coronavírus à Síndrome de Guillain-Barré - Divulgação
Imagens do estudo que permitiram associar a infecção pelo novo coronavírus à Síndrome de Guillain-Barré Imagem: Divulgação

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

18/05/2021 04h00

Pesquisadores de Sergipe publicaram neste sábado (15) um artigo científico em que descrevem um caso inédito no mundo: uma adolescente de 17 anos com covid-19 que teve comprovada a associação entre a infecção pelo novo coronavírus e a Síndrome de Guillain-Barré, problema que causa fraqueza muscular e chega a paralisar o corpo.

A descoberta foi possível após ser colhido material do líquido cefalorraquidiano, o líquor, que apontou um "envolvimento" do SARS-Cov-2 na inflamação dos nervos periféricos da paciente.

"Casos de Guillain-Barré têm sido diagnosticados em pessoas com covid-19, mas o entendimento até o momento é que a patogênese desta condição neurológica, quando associada à infecção pelo novo coronavírus, é apenas imunomediada [mediada por células que regulam o processo inflamatório]. Esta foi a primeira vez em que o material genético do SARS-CoV-2 foi detectado no líquor, indicando um mecanismo de invasão viral direta ao sistema nervoso", explica o pesquisador Paulo Ricardo Martins-Filho, líder do Laboratório de Patologia Investigativa da UFS (Universidade Federal de Sergipe).

Ao todo, sete pesquisadores assinam o estudo, publicado no "The Pediatric Infectious Disease Journal", um dos mais conceituados periódicos da área. Além da UFS, também participaram da pesquisa cientistas ligados à Universidade Tiradentes e ao Lacen (Laboratório Central) de Sergipe.

"Esse estudo traz informações bastante importantes para que a gente possa compreender a capacidade de neuroinvasividade do SARS-CoV-2 e melhorarmos a forma como os pacientes são tratados", afirma Martins-Filho.

Segundo ele, casos de Guillain-Barré estão associados a algumas infecções virais. O problema ficou mais conhecido no país após casos relacionados ao vírus da zika e chikungunya.

"Existem evidências hoje de associação entre infecção pelo SARS-CoV-2 e alterações neurológicas e há relatos de Guillain-Barré em pessoas com covid-19", explica.

O caso da jovem

A adolescente que desenvolveu a síndrome teve oito dias de sintomas típicos da covid-19 antes de desenvolver a síndrome, em fevereiro. Por conta da Guillain-Barré, ela ficou 15 dias internada em um hospital de Aracaju.

A médica neurologista e também autora do estudo, Lis Campos, explica que a paciente começou a apresentar dor na região lombar e fraqueza muscular oito dias depois de um quadro de diarreia intensa e febre. "Quando chegou ao hospital, 48 horas depois do início desses sintomas, já estava sem andar", conta.

Por conta da pandemia, foi realizado teste para covid-19, com o resultado positivo. "Depois de avaliação neurológica e de exames complementares, foi também confirmado o diagnóstico de Síndrome de Guillain-Barré", completa.

Diante do quadro, ela conta que a equipe optou por realizar uma pesquisa do material genético do vírus também no líquor (líquido que circunda o sistema nervoso central).

"Com o resultado positivo, indica que o problema neurológico foi resultado direto da invasão do vírus no sistema nervoso", afirma.

Depois do tratamento bem-sucedido, a paciente melhorou da fraqueza e hoje, diz a médica, já consegue andar sem ajuda. "Ela continua em acompanhamento neurológico e fazendo fisioterapia."