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Omar Aziz: Se Pazuello mentir de novo na CPI, sairá algemado

Ana Carla Bermúdez, Andréia Martins e Letícia Lázaro

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL

24/05/2021 11h18Atualizada em 24/05/2021 14h58

O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD), afirmou hoje, durante o UOL Entrevista, que se o ex-ministro da Saúde general Eduardo Pazuello mentir de novo à comissão "sairá algemado [da sessão]". O requerimento para a reconvocação de Pazuello será votado amanhã.

"Não posso afirmar que vou prendê-lo, mas pode ter certeza que, se ele mentir... Se ele tiver um habeas corpus, eu não poderei prendê-lo. Manda ele sem habeas corpus lá, ele não vai brincar mais com a CPI e a população brasileira", afirmou Aziz durante a entrevista, conduzida pela apresentadora Fabíola Cidral e pelos colunistas Josias de Souza e Thaís Oyama.

O desrespeito não foi a mim e aos senadores. Foi um desrespeito à sociedade brasileira e ao Exército brasileiro. Se ele mentir, sairá algemado de lá.

O senador disse que, durante o primeiro depoimento, Pazuello deu versões conflitantes sobre as negociações por vacina por parte do governo federal, por isso há o requerimento para ouvi-lo novamente.

"Quando eu digo 'no máximo o presidente mentiu, e mentira não leva ninguém à cadeia', é baseado no que o Pazuello falou. O presidente, um dia, diz que quem manda é ele e que não vai comprar vacina nenhuma. Aí o Pazuello chega, a gente faz essa pergunta e ele diz: 'não, eu nunca recebi essa ordem, por isso estava negociando a vacina'. Foi baseado nisso", explicou Aziz.

Aziz ainda falou que, diferentemente do que aconteceu no depoimento do ex-secretário de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten — que teve a prisão pedida pelo relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB), o que foi descartado por Aziz —, um pedido de prisão hoje não afetaria a credibilidade da comissão. Isso porque, na avaliação dele, a CPI já se encontra "consolidada".

"A atitude que eu tomei em relação ao Fabio Wajngarten... Os próximos depoentes não esperem que eu tenha a paciência. Se eu amanhã tomar a decisão de prender um depoente mentiroso, pode ter certeza que a CPI não acabará. Acabaria [no episódio de Wajngarten] porque estava no início. Hoje não. Hoje está consolidada".

Pazuello já falou à comissão nos dias 19 e 20 de maio. A participação dele foi dividida em dois dias devido à extensão do primeiro dia de depoimento —quando, além disso, o ex-ministro teve um mal-estar.

O pedido de um novo depoimento ganhou mais força após a participação de Pazuello, ontem, em um ato de apoio ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Rio de Janeiro. Houve aglomeração e tanto o ex-ministro como Bolsonaro participaram do evento sem o uso de máscara.

Hoje, Aziz declarou que as imagens da manifestação serão documentadas na CPI para auxiliar os trabalhos de investigação da comissão. "Lógico que isso vai ser analisado pela CPI, não tenha dúvida", disse o senador. Ele classificou os apoiadores de Bolsonaro que participaram do ato como "motoqueiros do apocalipse" e disse que "preencher o ego do presidente não vai salvar vidas".

Convocação de Carlos Bolsonaro

Segundo o senador, a comissão só deve avaliar a convocação do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, caso haja elementos mais "concretos" contra ele. "Até agora, não temos", afirmou Aziz.

Ele lembrou que o nome de Carlos Bolsonaro foi citado duas vezes na CPI: uma pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, que mencionou a presença do vereador em uma reunião; e outra por Carlos Murillo, gerente-geral da Pfizer na América Latina, que reproduziu o relato de duas funcionárias da farmacêutica, que mencionaram a passagem de Carlos também em uma reunião.

Essa cautela, de acordo com Aziz, é necessária para que não se deixe criar um "discurso de politização" por parte dos apoiadores do presidente.

O senador afirmou, no entanto, que uma investigação em andamento na comissão pode levar a informações que fundamentem a convocação de Carlos Bolsonaro.

"Poderemos ter [informações], mas eu me reservo a não falar aqui, nesse momento, porque estamos fazendo uma investigação. Na hora certa, vamos comunicar a imprensa", disse.

Financiamento de ações pró-cloroquina

Aziz declarou ainda que a comissão vai investigar se houve o financiamento de ações com dinheiro público para promover o suposto tratamento precoce e o uso da cloroquina contra covid-19, ambos métodos sem eficácia comprovada por autoridades de saúde contra a doença.

Segundo ele, serão solicitadas informações de empresas que trabalham para secretaria de Comunicação, tanto do governo federal quanto do Ministério da Saúde, "sejam da área de publicidade ou prestador de serviços", para saber se elas estão ligadas à rede de desinformação "que espalhou que a cloroquina salva".

"Alguém está financiando isso", disse. "Se tiver dinheiro público, pior ainda, porque você não pode fazer divulgação de um produto com recursos públicos sem ter nenhuma comprovação científica".

'Não tem uma prova contra mim'

Investigado por supostos desvios de recursos na área da Saúde no Amazonas, Aziz negou as acusações e afirmou que não há provas contra ele. O senador disse ainda que foi vítima de uma "maldade muito grande".

"Esse inquérito feito pela Polícia Federal, até hoje não fui denunciado porque não tem uma prova contra mim", declarou.

Aziz é suspeito de irregularidades pela época em que foi governador do Amazonas, entre 2010 e 2014. Ele foi alvo de uma operação do MPF (Ministério Público Federal) chamada de Maus Caminhos, deflagrada em 2016 com o objetivo de investigar o desvio de mais de R$ 250 milhões em verbas de contratos assinados pelo governo do Amazonas com uma empresa gestora de unidades de saúde.

Em 2019, um relatório da PF apontou que recursos da saúde do estado do Amazonas foram desviados para beneficiar Aziz e seus familiares. Em julho daquele ano, a mulher e três irmãos de Aziz chegaram a ser presos pela PF, mas foram soltos na sequência.

"Está muito claro que isso foi um movimento feito contra mim e minha família, [já] que depois de tantos anos nenhum de nós foi denunciado", disse o senador.

Próximos depoimentos

Aziz ainda confirmou hoje que, nesta semana, serão ouvidos na comissão a secretária de Gestão de Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como "capitã cloroquina", e o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas. Confira o cronograma com os próximos depoimentos:

  • 25 de maio: Mayra Pinheiro, secretária de Gestão de Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde
  • 27 de maio: Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan
  • 1º de junho: Nise Yamaguchi
  • 2 de junho: Clovis Arns da Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, e Zeliete Zambon, médica de família
  • 8 de junho: Elcio Franco, ex-secretário executivo do Ministério da Saúde (a confirmar)