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Anvisa pede ao governo federal quarentena a viajantes e barreira em portos

Barreiras sanitárias são instaladas no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo - Renato Cerqueira/Estadão Conteúdo
Barreiras sanitárias são instaladas no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo Imagem: Renato Cerqueira/Estadão Conteúdo

Leonardo Martins

Do UOL, em São Paulo

28/05/2021 17h25Atualizada em 28/05/2021 18h20

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) quer barrar o desembarque de marinheiros em portos do país e promover quarentena a todos os passageiros de avião que tenham vindo da Índia ou de outros países com novas variantes da covid-19.

O pedido de adição das medidas foi enviado hoje ao governo federal. A decisão de aceitar ou não as sugestões da agência cabe ao grupo interministerial composto pelos ministérios da Casa Civil, Justiça e Segurança Pública e Saúde.

A preocupação com a entrada de viajantes no país aumentou depois da chegada da variante da Índia no país. Ela foi localizada em São Paulo, Minas Gerais e Maranhão.

Atualmente, marinheiros e funcionários que trabalham em aviões podem entrar e sair do Brasil caso estejam sem sintomas de covid-19 e apresentem um teste PCR negativo — é esse grupo que a Anvisa quer impedir de entrar no país.

A medida é justificada porque a tripulação de um navio é composta por dezenas de pessoas de nacionalidades diferentes, explicou à reportagem o médico e pesquisador da covid-19 Carlos Magno Fortaleza.

Os marinheiros brasileiros, por outro lado, chegariam ao Brasil e teriam de ficar quarentenados por 14 dias na cidade de desembarque, segundo a Anvisa.

Já nos casos de viagens de avião, os protocolos adotados e suas atualizações são alvos de frequente debate todos os dias entre Anvisa, governo federal, estados e municípios.

A agência quer que todo brasileiro que chegue ao Brasil vindo da Índia de avião faça uma quarentena de 14 dias em um ambiente preparado para isso, como hotéis.

A mesma quarentena deve ser cumprida, conforme pede a agência, por pessoas com suspeitas de contaminação.

A sugestão, no entanto, é complexa e passa por um alinhamento com estados e municípios, que debatem com a Anvisa a viabilidade de disponibilizar os espaços para o isolamento.

Hoje em dia, viajantes estrangeiros que tenham passado ou saído do Reino Unido, África do Sul e Índia nos 14 dias anteriores ao embarque estão proibidos de entrar no Brasil.

A exceção é para brasileiros ou cônjuges de brasileiros que, nesses casos, são orientados a ficar de quarentena por 14 dias ao chegar no Brasil.

A Anvisa ressalta em seus posicionamentos: "o controle de quarentena no território nacional não está sob o âmbito de competência da Anvisa, que tem atuação restrita aos ambientes de aeroportos, portos e recintos de fronteiras do país".

Pessoas que venham ao Brasil de outros países seguem a regras de apresentar um teste PCR negativo realizado nas últimas 72 horas, além da notificação em caso de sintomas da doença ao preencher a DSV (Declaração de Saúde do Viajante).

A Anvisa afirma monitorar todas as escalas de voos para o Brasil junto à Polícia Federal e a Receita Federal.

Tarde demais

Na visão do médico e pesquisador do vírus da covid-19 Carlos Magno Fortaleza, da Unesp, as ações sugeridas pela agência são ineficientes e, se forem adotadas, ainda serão implementadas com atraso.

"É tarde e é pouco. O que precisamos é mais simples e radical. É preciso fazer quarentena de 14 dias para todos os passageiros vindos do exterior ao Brasil com exceção das viagens diplomáticas", afirma o médico, que realiza pesquisas epidemiológicas do comportamento das variantes da Sars-Cov-2.

Fortaleza ressalta que cobrar apenas um teste PCR negativo de estrangeiros ou viajantes não é suficiente.

Estamos falando isso há um século. A maior bobagem é acreditar num teste negativo. O RT PCR ou antígeno atinge boa acurácia quando tem 3 a 7 dias de sintomas. Quando a pessoa não tem sintomas, ele erra muito dando falsos negativos. Não basta confiar num teste feito na hora que a pessoa chega, tampouco no termômetro, aquilo é uma perfumaria".
Carlos Magno Fortaleza, da Unesp