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4 profissionais da saúde e 2 estudantes tomaram 3ª dose da vacina em SP

23.jun.2021 - Na UBS Santa Cecília, região central da capital paulista, pessoas aguardam vacina na fila - Anahi Martinho/Colaboração para o UOL
23.jun.2021 - Na UBS Santa Cecília, região central da capital paulista, pessoas aguardam vacina na fila Imagem: Anahi Martinho/Colaboração para o UOL

Anahi Martinho

Colaboração para o UOL, em São Paulo

03/07/2021 04h00

Pelo menos quatro profissionais de saúde e dois estudantes de medicina burlaram a fila da vacina contra covid-19 para tomar a terceira dose no estado de São Paulo. O UOL apurou que dois médicos e dois internos da capital paulista, uma veterinária de Guarulhos, na Grande São Paulo, e um funcionário do Samu de Araçatuba, no interior, estão sendo investigados.

Em Araçatuba, um funcionário do Samu vacinado com as duas doses da CoronaVac em 21 e janeiro e 12 de fevereiro se vacinou novamente com uma dose da AstraZeneca no município vizinho de Birigui, no oeste paulista. A Vigilância Epidemiológica de Birigui afirmou ao UOL que recebeu a denúncia e registrou boletim de ocorrência contra o funcionário. A prefeitura abriu procedimento para apurar o caso.

Em Guarulhos, a veterinária Jussara Sonner publicou em suas próprias redes sociais que tomou as duas doses da CoronaVac e também a dose única da Janssen. A reportagem tentou contato, mas ela não respondeu. A Promotoria de Justiça Criminal de Guarulhos requisitou ao 4º DP de Guarulhos a instauração de inquérito policial.

O prefeito de Guarulhos, Guti (PSD), classificou o ato como "comportamento inaceitável, criminoso e de má-fé com a sociedade, pois tira a vez de alguém se vacinar". Ele disse que a administração municipal iria acionar o Ministério Público.

A Prefeitura de São Paulo afirma que denunciou dois médicos ao Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado). Ambos tomaram a dose da Pfizer após já terem completado a imunização com a CoronaVac.

Estudantes teriam furado fila

Na Faculdade de Medicina da Universidade Nove de Julho (Uninove), em São Paulo, dois alunos estariam sendo investigados internamente. O UOL teve acesso a uma troca de mensagens de Whatsapp entre membros da coordenação do curso e representantes de classe, em que a coordenação afirma que vai investigar os casos dos dois estudantes.

Troca de mensagens entre coordenação e representantes de classe na Uninove - Reprodução/Whatsapp - Reprodução/Whatsapp
Troca de mensagens entre coordenação e representantes de classe na Uninove
Imagem: Reprodução/Whatsapp

Segundo a denúncia, eles teriam furado a fila e se vacinado extraoficialmente com as duas doses da CoronaVac no início do ano, e entraram novamente na fila em maio, desta vez em condição oficial, para tomar a primeira dose da Pfizer.

Estudantes do último ano de medicina entraram no calendário de vacinação da capital paulista apenas no dia 28 de maio.

A Uninove afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que "a instituição não responde pela conduta de terceiros e a vacinação é responsabilidade da esfera pública".

Prefeitura denunciou médicos ao Cremesp

Os dois médicos que tomaram a terceira dose em unidades "drive-thru" da capital paulista estão sendo investigados pela Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa). Um deles tomou a terceira dose ainda em março, e outro em maio.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo afirmou, por meio da Secretaria da Saúde (SMS), que a Covisa notificou os dois casos, por meio de ofício, ao Cremesp. Segundo a administração municipal, os nomes dos envolvidos são mantidos em sigilo para as devidas averiguações pelos conselhos competentes.

"A Covisa monitora regularmente a vacinação no município e os sistemas de informação, e segue o preconizado pelo Programa Nacional de Imunizações e Programa Estadual de Imunizações", diz o texto enviado à reportagem.

Lei prevê multa

A Secretaria Estadual da Justiça e Cidadania, por meio da Comissão Especial Integrada, órgão responsável pela apuração de denúncias e aplicação de penalidades a quem furar a fila da vacinação da covid-19, afirmou em nota ao UOL que está atuando para "investigar eventuais casos que envolvam recebimento de uma terceira dose da vacina".

O órgão afirma que vai aplicar as sanções previstas na Lei estadual nº 17.320/2021, em vigor desde 12 de fevereiro, que prevê multa de até 1.700 Ufesps (Unidades Fiscais do Estado de São Paulo) para quem furar a fila da vacina e o dobro do valor se a pessoa for funcionária da saúde. Hoje, cada Ufesp equivale e R$ 29,09, portanto, a multa pode chegar a R$ 50 mil.

"Todos os municípios recebem as doses de vacinas contra covid-19 com as devidas orientações quanto à aplicação dos imunizantes, bem como a conferência e cadastro dos dados de cada pessoa vacinada na plataforma estadual VaciVida. Compete também aos municípios monitorar e tomar as providências diante de eventuais situações de aplicação inadequada", diz a nota.

A pasta ainda incentiva a população a denunciar pessoas que furem a fila ou que tomem a terceira dose.

A Ouvidoria da Secretaria da Justiça e Cidadania disponibiliza o telefone (11) 3291-2624 e o e-mail ouvidoria@justica.sp.gov.br para denúncias de pessoas que desrespeitarem o calendário de vacinação. O Ministério Público de São Paulo também disponibiliza o portal Fura-fila da vacinação, que já conta com 33 denúncias no estado.

Terceira dose em prazo curto não traz benefícios

O médico Alexandre Naime Barbosa, chefe do Departamento de Infectologia da Unesp, disse que não existe efeito benéfico da revacinação dentro de um período de tempo tão curto.

"No momento em que ainda não vacinamos nem 40% da população com a primeira dose, uma pessoa fazer esse tipo de falcatrua é o cúmulo do egoísmo e da falta de empatia. Ela está tirando dose de gente que precisa e não está se beneficiando, não está mais protegida", afirmou.

Errata: este conteúdo foi atualizado
O valor da multa é de 1.700 Ufesps (Unidades Fiscais do Estado de São Paulo), e não R$ 1.700, conforme escrito anteriormente. A informação foi corrigida.