Com demora de 2ª dose, Brasil fica mais vulnerável à variante delta
A variante delta está se proliferando no Brasil. Por onde passou, a mutação — que tem como características alta taxa de transmissibilidade e sintomas principais diferentes das demais variantes da covid-19 até o momento — tornou-se predominante e aumentou número de casos.
A demora para a cobertura vacinal por aqui é o que preocupa especialistas com a transmissão comunitária da delta. No Brasil, pouco mais de 34,3 milhões de pessoas completaram o ciclo vacinal com duas doses ou dose única. Isso representa apenas 16,2% da população — cobertura considerada baixa por especialistas, especialmente se comparada à de outros países.
Dada alta contagiosidade e a ainda baixa cobertura vacinal plena no Brasil, considero que temos um risco potencial de nova sobrecarga ao sistema de saúde e todas as consequências decorrentes disso -- inclusive, mortes."
Evaldo Stanislau, infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo
Enquanto países com percentual de imunizados superior a 40% viram os números de casos aumentar, mas os de óbitos se manterem baixos, nações com índices semelhantes ou inferiores aos do Brasil tiveram novas explosões de mortes.
Para proteger da covid-19, as vacinas precisam do ciclo completo, mas essa variante Delta veio mostrar isso de forma mais clara. Ela tem um conjunto de mutações específicas e sua disseminação é muito mais rápida, em especial entre os não imunizados. Os estudos já apontam que, se só tiver uma dose, a pessoa está ainda mais suscetível a ela e aos seus efeitos mais graves."
Marcelo Paiva, biomédico e professor da UFPE
Quanto mais vacinas, menos mortes no Reino Unido
De uma maneira geral, a delta tem indicado um padrão de aumento de casos em todo o mundo. De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), o número de casos globais, em queda desde abril, voltou a subir a partir de junho à medida que ela foi se espalhando. É nos indicadores de óbitos que a vacinação indica fazer a diferença.
No Reino Unido, onde a mutação circula desde o primeiro semestre, já há indícios de uma possível terceira onda impulsionada pela variante, como indica o Imperial College.
Só no último domingo (18), foram quase 54 mil casos confirmados — número semelhante ao do mês em que é considerado ter ocorrido pico da pandemia naquele país, em janeiro.
Com mais de 50% da população totalmente imunizada desde o dia 3 de junho (hoje, está em 69%), esses casos não têm se revertido em mortes.
Embora tenha experimentado uma leve alta nos últimos dias, o auge de julho foi de 63 óbitos na última sexta (16), enquanto em janeiro chegou a ultrapassar 1.800.
Outros países da Europa com mais de 40% da população totalmente vacinada — como Espanha, Holanda e Portugal, onde a Delta também tornou-se dominante —, têm acompanhado situação semelhante.
Sem ampla cobertura vacinal, casos sobem na Rússia
Não é o que se vê na Rússia. O país de dimensões continentais e quase 150 milhões de habitantes havia imunizado apenas 14,23% da população até segunda (19) — pouco menos do que o Brasil — e, por lá, os números explodiram.
A Rússia voltou a registrar 25 mil novas contaminações confirmadas por dia, como em janeiro, só que os indicadores de óbitos são os piores da pandemia até então: na última sexta (16), foram 799 mortes por covid. O recorde, até então, era de 623, em dezembro, sempre segundo a OMS.
Da mesma forma, a delta também tem trazido uma espécie de primeira onda para países que tinham enfrentado indicadores menos preocupantes até então. Desde junho, a Tunísia enfrenta colapso no seu sistema de saúde.
No dia 8 de julho, foram confirmados quase 10 mil novos casos, mais do que o dobro do recorde anterior. No último sábado (17), 205 mortes pela doença foram notificadas — mais do que o triplo do recorde anterior, em abril, sem contar os dados represados de outubro. Por lá, apenas 6,8% da população foi imunizada.
Brasil está demorando para imunizar
A vacinação tem acelerado no país, mas o ciclo de imunização não caminha em ritmo desejável segundo especialistas ouvidos pela reportagem.
O ritmo de vacinação está lento. Vacinamos há meses e apenas 16% da população completamente vacinada? Todo esse esquema de intervalo de 90 dias [para AstraZeneca e Pfizer] é preocupante quando olhamos a Delta."
Marcelo Paiva, biomédico e professor da UFPE
Segundo ele, dada a iminência e o crescimento da variante no Brasil, esse ciclo deveria ser revisto. "É muito angustiante porque, embora cada vírus se comporte de forma diferente em cada população, é fato que as populações imunizadas não tiveram efeitos tão preocupantes em relação a óbitos. As vacinas funcionam, o que falta é aplicar", afirma o biomédico.
Aumentar o intervalo foi uma manobra para contornar a falta de vacinas. Porém, com a Delta, considero que isso é insustentável. As mortes causadas por ela são em não vacinados ou com vacina incompleta. Tem pessoas que advogam aumentar o percentual de cobertura da primeira, do que discordo."
Evaldo Stanislau, infectologista do HC
Ao UOL, o Ministério da Saúde afirmou que "monitora, em conjunto com as equipes de Vigilância Epidemiológica e CIEVS locais, todos os casos confirmados da variante no país" e que passa orientações aos estados e municípios. Disse ainda que "embora os entes federados tenham autonomia para seguir a estratégia local de vacinação, a recomendação do Ministério da Saúde é de que seja seguido o PNO (Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19)".
A recomendação do PNO é que o intervalo entre doses da AstraZeneca e da Pfizer, que indica um período de apenas 28 dias em sua bula, sejam de 90 dias. A pasta não respondeu se, com a delta, esta janela pode ser revista.
Sintomas diferentes
Outro alerta que os especialistas fazem em relação à delta é que, até então, ela tem mostrado sintomas predominantes diferentes dos apresentados em pacientes diagnosticados com a covid-19, como os infectados com a mutação gamma, mais frequente no Brasil.
Isso também tem sido observado por aqui. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, 95,6% dos infectados com a delta tiveram síndrome gripal.
Os principais sintomas associados à delta, segundo especialistas, são:
- Dor de cabeça
- Coriza
- Dor de garganta
Além disso, há ainda os sintomas da covid-19 considerados "clássicos":
- Febre
- Tosse constante
- Perda de olfato e/ou paladar
- Falta de ar
- Dores no corpo
- Diarreia
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