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Moto e celular: Cidades do PA investem em sorteios para estimular vacinação

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

16/11/2021 04h00

Cidades do Pará têm investido em grandes eventos e sorteios de smartphones e até motos para quem se vacinar contra a covid-19.

As medidas têm apoio dos Conasems (Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde) nacional e regional para tentar compensar a falta de campanha nacional. Segundo o braço do órgão no Pará, a estratégia tem funcionado. O Ministério da Saúde, por sua vez, alega que realizou mais de 30 campanhas desde o início da pandemia de coronavírus (leia mais abaixo).

Em Tucuruí, que fica a 460 km de Belém e tem 116 mil habitantes, a ideia é atrair os adolescentes. Em setembro, quando iniciou a aplicação da vacina em menores de 18 anos, a prefeitura anunciou o sorteio de 20 smartphones para os jovens que aderissem à campanha.

"A equipe de vacinação vai nas escolas, os alunos se vacinam e, em seguida, a gente sorteia os smartphones para os que aderiram. Como não há regra que obrigue a vacinação, achamos que este era um jeito de estimular os jovens", conta Charles Tocantins, secretário de Saúde de Tucuruí e presidente do Conasems/PA.

Deu certo. Segundo Tocantins, a grande maioria das escolas registrou adesão total por parte dos estudantes. Outros sorteios também são feitos fora das unidades de ensino, para o mesmo público, mediante a apresentação de comprovação da imunização. Inicialmente, a prefeitura comprou 20 smartphones a serem entregues até dezembro. Mas o plano é comprar mais 20.

"São estratégias novas que a gente está tentando fazer para garantir a vacina. Está funcionando", afirma o secretário. Atualmente, a cidade tem 41% da população com vacinação completa (duas doses ou dose única) e 65% com pelo menos uma dose.

Em todo o país, quase 60% dos brasileiros completaram a vacinação. O estado de São Paulo anunciou na quarta (10) que atingiu a marca de 90% dos adultos com a imunização completa.

O Pará é o terceiro estado com a menor cobertura vacinal, de acordo com os dados do consórcio de veículos de imprensa do qual o UOL faz parte. O estado está com 68% da população com pelo menos uma dose e apenas 46% com o ciclo completo. O Norte é a região com a mais baixa cobertura vacinal no país.

Mapa vacinação Brasil - uso Pará - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Para contornar o problema, a Prefeitura de Belém também criou uma maneira de chamar a atenção e o público: nos finais de semana, realiza mutirões de vacinação com chamada para a segunda dose.

É importante que os municípios inovem nas estratégias para alcançar os mais jovens, faixa etária com maior número de pessoas com a segunda dose da vacina contra covid-19 atrasada. Ver experiências exitosas e criativas que estão dando certo é mais uma comprovação do compromisso dos profissionais do SUS."
Wilames Freire, presidente nacional do Conasems

Uma moto pela segunda dose

A preocupação com os fujões da segunda dose —aqueles que aderiram à primeira dose, mas, por algum motivo, não completaram o ciclo— é uma preocupação comum entre secretarias de saúde de todo o país. No Pará, outras cidades investiram em soluções diferentes para tentar resolver o problema.

As prefeituras de Novo Repartimento, que fica a 520 km de Belém e tem 78 mil habitantes, e Breu Branco, a 440 km da capital paraense e com 68 mil habitantes, decidiram sortear motocicletas 0 km para estimular os cidadãos a completarem a imunização contra o coronavírus.

Segundo Tocantins, estes incentivos têm ajudado a "ativar a memória dos esquecidos". Ambas conseguiram aumentar o índice para mais de 40% da população totalmente vacinada após os anúncios dos prêmios.

Os motivos [para não tomar a segunda dose] são muitos. Mas, em especial, é a sensação de que, com a redução dos indicadores [casos, mortes e internações], o risco já passou --o que não é verdade. Aliado a uma grande campanha de fake news [sobre os imunizantes], acaba tendo uma grande abstinência da segunda dose."
Charles Tocantins, presidente do Cosems/PA

Além do sorteio, as cidades têm exigido também o ciclo vacinal completo para a participação em grandes eventos públicos. "Em Canaã dos Carajás [780 km de Belém, 39 mil habitantes], por exemplo, eles decidiram promover um grande show gratuito. Mas tinha uma exigência: só entrava quem estivesse vacinado", afirma Tocantins.

Atualmente, o estado vive o melhor momento da pandemia desde março do ano passado. Foram apenas quatro óbitos em decorrência da doença em sete dias, contando até quarta (19).

Mutirão de vacinação realizado em Belém no feriado prolongado de 2 de novembro - Marcos Barbosa/Comus (Prefeitura de Belém) - Marcos Barbosa/Comus (Prefeitura de Belém)
Mutirão de vacinação realizado em Belém no feriado prolongado de 2 de novembro
Imagem: Marcos Barbosa/Comus (Prefeitura de Belém)

Suprir uma falha federal

Para Tocantins, o principal ponto destas campanhas é suprir um "falha na comunicação federal", que não criou uma campanha nacional de estímulo à vacinação contra a covid.

"Uma crítica que a gente faz é que está faltando uma campanha nacional forte. Com as melhoras [nos indicadores], estamos vendo que as pessoas não estão procurando a vacina no ritmo anterior e, somado a isso, não tem —como nunca tivemos— uma campanha de estímulo", critica o médico.

"Foi justamente quando a gente iniciou com essas campanhas, fazendo busca ativa, que o problema diminuiu", conclui o secretário.

Ao UOL, o Ministério da Saúde respondeu que, desde o início da pandemia, em março de 2020, realizou 32 campanhas "com os mais diversos temas, como orientações sobre sintomas da doença, transmissão, recomendações para os grupos mais vulneráveis, medidas preventivas e reforço da importância da campanha de vacinação contra a doença".

Segundo a pasta, houve um investimento de mais de R$ 345 milhões com mais de 21,1 mil inserções em TVs, 326 mil inserções em rádios, 965 milhões de impressões na internet e mais de 837 milhões de inserções em mídia exterior.