Moto e celular: Cidades do PA investem em sorteios para estimular vacinação
Cidades do Pará têm investido em grandes eventos e sorteios de smartphones e até motos para quem se vacinar contra a covid-19.
As medidas têm apoio dos Conasems (Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde) nacional e regional para tentar compensar a falta de campanha nacional. Segundo o braço do órgão no Pará, a estratégia tem funcionado. O Ministério da Saúde, por sua vez, alega que realizou mais de 30 campanhas desde o início da pandemia de coronavírus (leia mais abaixo).
Em Tucuruí, que fica a 460 km de Belém e tem 116 mil habitantes, a ideia é atrair os adolescentes. Em setembro, quando iniciou a aplicação da vacina em menores de 18 anos, a prefeitura anunciou o sorteio de 20 smartphones para os jovens que aderissem à campanha.
"A equipe de vacinação vai nas escolas, os alunos se vacinam e, em seguida, a gente sorteia os smartphones para os que aderiram. Como não há regra que obrigue a vacinação, achamos que este era um jeito de estimular os jovens", conta Charles Tocantins, secretário de Saúde de Tucuruí e presidente do Conasems/PA.
Deu certo. Segundo Tocantins, a grande maioria das escolas registrou adesão total por parte dos estudantes. Outros sorteios também são feitos fora das unidades de ensino, para o mesmo público, mediante a apresentação de comprovação da imunização. Inicialmente, a prefeitura comprou 20 smartphones a serem entregues até dezembro. Mas o plano é comprar mais 20.
"São estratégias novas que a gente está tentando fazer para garantir a vacina. Está funcionando", afirma o secretário. Atualmente, a cidade tem 41% da população com vacinação completa (duas doses ou dose única) e 65% com pelo menos uma dose.
Em todo o país, quase 60% dos brasileiros completaram a vacinação. O estado de São Paulo anunciou na quarta (10) que atingiu a marca de 90% dos adultos com a imunização completa.
O Pará é o terceiro estado com a menor cobertura vacinal, de acordo com os dados do consórcio de veículos de imprensa do qual o UOL faz parte. O estado está com 68% da população com pelo menos uma dose e apenas 46% com o ciclo completo. O Norte é a região com a mais baixa cobertura vacinal no país.
Para contornar o problema, a Prefeitura de Belém também criou uma maneira de chamar a atenção e o público: nos finais de semana, realiza mutirões de vacinação com chamada para a segunda dose.
É importante que os municípios inovem nas estratégias para alcançar os mais jovens, faixa etária com maior número de pessoas com a segunda dose da vacina contra covid-19 atrasada. Ver experiências exitosas e criativas que estão dando certo é mais uma comprovação do compromisso dos profissionais do SUS."
Wilames Freire, presidente nacional do Conasems
Uma moto pela segunda dose
A preocupação com os fujões da segunda dose —aqueles que aderiram à primeira dose, mas, por algum motivo, não completaram o ciclo— é uma preocupação comum entre secretarias de saúde de todo o país. No Pará, outras cidades investiram em soluções diferentes para tentar resolver o problema.
As prefeituras de Novo Repartimento, que fica a 520 km de Belém e tem 78 mil habitantes, e Breu Branco, a 440 km da capital paraense e com 68 mil habitantes, decidiram sortear motocicletas 0 km para estimular os cidadãos a completarem a imunização contra o coronavírus.
Segundo Tocantins, estes incentivos têm ajudado a "ativar a memória dos esquecidos". Ambas conseguiram aumentar o índice para mais de 40% da população totalmente vacinada após os anúncios dos prêmios.
Os motivos [para não tomar a segunda dose] são muitos. Mas, em especial, é a sensação de que, com a redução dos indicadores [casos, mortes e internações], o risco já passou --o que não é verdade. Aliado a uma grande campanha de fake news [sobre os imunizantes], acaba tendo uma grande abstinência da segunda dose."
Charles Tocantins, presidente do Cosems/PA
Além do sorteio, as cidades têm exigido também o ciclo vacinal completo para a participação em grandes eventos públicos. "Em Canaã dos Carajás [780 km de Belém, 39 mil habitantes], por exemplo, eles decidiram promover um grande show gratuito. Mas tinha uma exigência: só entrava quem estivesse vacinado", afirma Tocantins.
Atualmente, o estado vive o melhor momento da pandemia desde março do ano passado. Foram apenas quatro óbitos em decorrência da doença em sete dias, contando até quarta (19).
Suprir uma falha federal
Para Tocantins, o principal ponto destas campanhas é suprir um "falha na comunicação federal", que não criou uma campanha nacional de estímulo à vacinação contra a covid.
"Uma crítica que a gente faz é que está faltando uma campanha nacional forte. Com as melhoras [nos indicadores], estamos vendo que as pessoas não estão procurando a vacina no ritmo anterior e, somado a isso, não tem —como nunca tivemos— uma campanha de estímulo", critica o médico.
"Foi justamente quando a gente iniciou com essas campanhas, fazendo busca ativa, que o problema diminuiu", conclui o secretário.
Ao UOL, o Ministério da Saúde respondeu que, desde o início da pandemia, em março de 2020, realizou 32 campanhas "com os mais diversos temas, como orientações sobre sintomas da doença, transmissão, recomendações para os grupos mais vulneráveis, medidas preventivas e reforço da importância da campanha de vacinação contra a doença".
Segundo a pasta, houve um investimento de mais de R$ 345 milhões com mais de 21,1 mil inserções em TVs, 326 mil inserções em rádios, 965 milhões de impressões na internet e mais de 837 milhões de inserções em mídia exterior.
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