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Ômicron: Casos crescem 1.400% na África do Sul, mas mortes não disparam

Profissional de saúde enche seringa com dose de vacina contra covid-19 enquanto as pessoas fazem fila em um assentamento na África do Sul - EMMANUEL CROSET / AFP
Profissional de saúde enche seringa com dose de vacina contra covid-19 enquanto as pessoas fazem fila em um assentamento na África do Sul Imagem: EMMANUEL CROSET / AFP

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

09/12/2021 19h36Atualizada em 09/12/2021 19h36

País que identificou a ômicron, a nova variante do coronavírus, a África do Sul viu suas taxas de transmissão, casos e internação dispararem em apenas algumas semanas. A boa notícia é que, até agora, as mortes por covid-19 não aumentaram na mesma proporção.

A informação é da Info Tracker, plataforma de dados das universidades estaduais paulistas USP e Unesp, que a pedido do UOL avaliou o avanço da covid-19 no país africano antes e depois da ômicron.

Antes do surgimento da nova cepa, na primeira quinzena de novembro, a Rt (taxa de transmissão) na África do Sul estava controlada, flutuando abaixo do limiar permitido (abaixo de 1.0), indicando que o país estava contendo as infecções.

Em meados de novembro, o cenário mudou radicalmente: a transmissão triplicou em menos de três semanas, saltando de 1.02, em 16 de novembro, para 3.14 em 6 de dezembro.

"Nem o aumento da transmissão da delta foi súbita desse jeito quando foi descoberta na Índia", afirma o professor da Unesp, Wallace Casaca, um dos coordenadores da Info Tracker.

A transmissão agressiva na África do Sul indica que a ômicron pode ser mais contagiosa do que a delta, que é a variante dominante hoje no mundo"
Wallace Casaca, da Info Tracker

Com a Rt em disparada, o número de casos também explodiu. Em 24 de novembro, quando a variante foi oficialmente reportada, a África do Sul contabilizou 774 novos casos de covid. Esse número saltou para 11.881 em 7 de dezembro, aumento superior a 1.400% em apenas 13 dias.

"Não me recordo de aumento tão íngreme de casos com a chegada da delta nem no Brasil, tampouco na Índia", diz o professor.

Internações disparam; óbitos, não

As internações no país africano seguiram a mesma dinâmica observada nos casos e na taxa de transmissão. As novas internações, que vinham em declínio sustentado, explodiram nas duas últimas semanas, saltando 490% entre meados de novembro (semana 45 no gráfico abaixo) e início de dezembro.

O alívio é que o aumento de óbitos por covid-19 não aumentou na mesma proporção. A média móvel — a média de mortes nos últimos sete dias — passou de 13 para 34 óbitos diários após o surgimento da variante, mas se estabilizou em 22 mortes.

Os dados podem significar que a nova cepa é menos letal que suas antecessoras. Não foram registrados óbitos pela ômicron a partir das amostras da variante sequenciadas até agora.

"É um alento para o mundo saber que até agora não houve óbitos causados pela ômicron", diz Casaca. "Embora possivelmente menos letal, o que nos traz muita esperança, ela parece ser mais transmissível do que a delta, o que poderá sobrecarregar os sistemas de saúde pelo mundo."

Professora de medicina, a infectologista Joana D'arc Gonçalves explica que o vírus ainda está em fase de adaptação e que a aparente queda na letalidade pela ômicron é uma boa notícia e até esperada.

"O ser humano passou a conviver com muitos vírus que se equilibraram ao longo do tempo, como o da herpes e o da influenza, causador da gripe", diz. "O nosso receio é o tempo que vai levar até que isso aconteça de fato com o coronavírus."

O problema, diz, é que ele pode continuar em mutação ao ponto de driblar a imunização estimulada pela vacina. O melhor, insiste, é a vacinação em massa.

"Eu prefiro não pagar para ver. Sem vacina muita gente vai morrer. O custo é muito elevado", afirma a médica.

Presente de Natal?

Paciente é vacinado contra covid-19 em Joanesburgo, África do Sul - EMMANUEL CROSET / AFP - EMMANUEL CROSET / AFP
Paciente é vacinado contra covid-19 em Joanesburgo, África do Sul
Imagem: EMMANUEL CROSET / AFP

Ao jornal britânico Evening Standard o epidemiologista e futuro ministro da Saúde da Alemanha, Karl Lauterbach, afirmou que a ômicron pode ser, na verdade, um "presente de Natal antecipado" capaz de pôr fim à pandemia mais cedo porque as 32 mutações da nova cepa podem ter tornado o vírus mais transmissível e menos letal também.

Contrariando Lauterbach, a OMS (Organização Mundial da Saúde) pediu aos países que se preparem porque, segundo a entidade, a ômicron é um lembrete de que "a covid-19 não terminou".

Seu diretor-geral, Tedros Adhanom, disse que o aparecimento da cepa "sublinha o quão perigosa e precária é a nossa situação" e que "ganhos conquistados com dificuldade podem desaparecer em um instante".

A OMS fez ainda um apelo para que doses de vacinas sejam distribuídas aos países mais pobres e que a ômicron é prova de que a pandemia apenas vai ser controlada quando ela for freada em todas as partes.