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Gripe não é 'doença leve' e 'ela pode matar', alerta virologista da Fiocruz

Marilda Siqueira, da FioCruz, é a única brasileira a participar do Comitê Científico sobre Evolução do Sars-CoV-2 da OMS  - Josué Damacena/IOC/Fiocruz
Marilda Siqueira, da FioCruz, é a única brasileira a participar do Comitê Científico sobre Evolução do Sars-CoV-2 da OMS Imagem: Josué Damacena/IOC/Fiocruz

Do UOL, em São Paulo

10/12/2021 08h19Atualizada em 10/12/2021 08h31

Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), declarou que o vírus influenza — causador da gripe — "voltou com tudo" este ano e alertou que "as pessoas precisam entender que a gripe não é uma doença leve" e pode levar à morte.

"A gripe pode apresentar intensidade diferente de um ano para outro. Porém, também precisamos analisar as séries históricas e ainda não há dados suficientes para uma comparação. As pessoas precisam entender que a gripe não é uma doença leve. Antes da pandemia da covid-19, era muito temida e deve continuar a ser. Ela pode matar", começou a virologista ao jornal O Globo.

E completou: "Não se vai trabalhar nem se sai de casa gripado. Agora, ela pegou uma população vulnerável e está se espalhando, como a gripe sempre fez ao longo da História. É um inimigo perigoso. Não existe gripezinha. Esta é o resfriado, causado por outros vírus".

Siqueira é a única brasileira a participar do Comitê Científico sobre Evolução do Sars-CoV-2 da OMS (Organização Mundial da Saúde), responsável por classificar e definir ações contra as novas cepas da covid-19. Para a cientista, o Brasil vive atualmente duas crises virais: a da covid-19 e da gripe.

Entre os municípios afetados pela influenza está o do Rio de Janeiro que registrou na última semana de novembro mais casos de infecção pelo influenza do que pelo novo coronavírus. A quantidade de casos de influenza quadruplicou de uma semana para outra na cidade.

"Os vírus influenza circularam muito pouco no Brasil e no mundo em 2020 e até agosto de 2021, mas, com o relaxamento das medidas não farmacológicas contra a covid-19, voltaram", declarou.

Ao jornal, a virologista explicou que a flexibilização de "medidas não farmacológicas" de combate ao coronavírus — como o uso de máscara, limpeza das mãos com álcool em gel e distanciamento social — ajudaram no aumento da circulação do vírus, incluindo a influenza, pelo território nacional. Ela ainda destacou que este ano "a taxa de vacinação contra a influenza caiu muito", o que ajuda na disseminação do vírus.

Vacinação contra a gripe

A virologista explicou que a situação atual da influenza no país mostra a "gripe sendo a gripe e pegando todos os vulneráveis" e que muitas pessoas estão sem proteção em razão da perda de anticorpos produzidos em infecções anteriores.

"Quando nos gripamos, produzimos anticorpos. Porém, assim como ocorre com a covid-19, eles não duram muito, cerca de seis meses. Se o vírus está em circulação, e a pessoa volta a entrar em contato com ele, nossas defesas são reativadas. Como os vírus influenza praticamente não circularam por muitos meses, perdemos essas defesas e todo mundo ficou vulnerável."

Siqueira destacou que o objetivo da vacinação contra a influenza é evitar o agravamento da doença e não fazer com que o vacinado nunca fique gripado. Ela ainda esclareceu que as pessoas que receberam a vacinação contra a gripe em abril deste ano, possivelmente, já não têm mais anticorpos contra este vírus.

"Os vírus influenza sofrem ainda mais mutações que o coronavírus e, por isso, as vacinas mudam todos os anos, para que tenham a eficácia renovada. No entanto, mesmo não sendo a mesma variante, elas continuam a oferecer proteção suficiente para impedir o agravamento da gripe. A pessoa pode até adoecer, mas terá muito reduzido o risco de doença severa e morte. A vacina de 2021 pode não ser a mais potente contra a variante em circulação, mas é muito melhor do que nada", finalizou.

Estado do Rio vive epidemia de gripe, diz secretaria de Saúde

A Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro confirmou ontem que o estado vive uma epidemia de influenza, vírus causador da gripe.

"A pergunta que não quer calar é: estamos enfrentando uma epidemia de influenza? Sim, e, desde então, a Secretaria de Estado de Saúde pôs em prática seu plano de contingência, abrindo tendas de atendimento à população junto a Unidades de Pronto Atendimento", disse o órgão em publicação nas redes sociais.

Segundo a secretaria, houve um aumento de 239% na média móvel de atendimentos a casos de gripe nas UPAs da rede estadual na comparação com duas semanas atrás.

Ainda de acordo com a secretaria, a maior parte dos casos confirmados são leves, do tipo influenza A, que não gera internações. Ainda assim, foram instaladas tendas nas UPAs Marechal Hermes, Tijuca e Botafogo. Há planos de montar estruturas semelhantes ainda nesta semana nas unidades da Penha e Jacarepaguá.