Rio: Testes positivos de covid quase triplicam e acendem alerta após festas
A cidade do Rio de Janeiro apresentou um aumento expressivo nos testes positivos para covid-19 nas últimas semanas de 2021. Na semana anterior ao Natal, a capital registrou 132 testes positivos de covid —o número quase triplicou nos últimos sete dias do ano, saltando para 386 exames positivos (maioria de testes rápidos).
Esses resultados representam 6% do total 6.430 testes feitos no município entre 24 e 31 de dezembro —o percentual de positivos cresceu ao longo do mês passado, segundo mostra o Painel Covid-19, da prefeitura. O aumento acende um alerta em meio à chegada da variante ômicron ao país e do apagão de dados oficiais sobre covid-19 verificado nas últimas semanas.
Os números também refletem um aumento da busca por diagnóstico. Na semana entre o Natal e o Réveillon, festas particulares tiveram de ser canceladas ou adaptadas após testes positivos. O aumento não se reflete em casos graves — a capital tem 25 pessoas internadas atualmente com covid-19.
No Rio, pessoas que testaram positivo nas últimas semanas relataram ao UOL que atendentes de farmácia e de postos da rede municipal já falam, informalmente, que "a ômicron chegou". Profissionais que atuam no atendimento primário em São Paulo também veem um aumento dos casos.
"A moça da farmácia me disse que o normal agora é o teste dar positivo mesmo", contou uma profissional de marketing do Rio, que preferiu não ser identificada.
Reportagem da Folha de S.Paulo mostrou ontem que cresceu o número de positivos nos testes rápidos de covid em farmácias, segundo levantamento da Abrafarma (associação que reúne grandes redes farmacêuticas) que abrange 3.000 farmácias no país. O total de positivos saltou de 524 em 1º de dezembro, quando 10 mil exames foram feitos, para 5.334, do total de 31.332 exames realizados em 29 de dezembro.
O prefeito Eduardo Paes (PSD) disse que tem "tomado conhecimento de muitas pessoas próximas que têm testado positivo" para a doença. "Pedimos que quem ainda não se vacinou, o faça o mais rápido possível. Quem for se reunir, opte por lugares abertos, se comparecer a reuniões ou encontros em locais fechados, façam o teste antes e usem máscara", recomendou.
Atualmente, não há confirmação de transmissão comunitária da ômicron na capital fluminense, onde 177 casos estão sob investigação. Casos em outros locais —como Distrito Federal e Minas Gerais— levam contudo profissionais da saúde a não descartar o impacto da variante nos diagnósticos do Rio.
A reportagem buscou a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, mas a assessoria de imprensa informou que a área técnica só estaria disponível em dias úteis para informar a quantidade de testes positivos.
Ainda é cedo para calcular impacto, diz médico
Evaldo Stanislau, infectologista do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo), avalia que a alta de casos é evidente para quem atua nas unidades de saúde.
Nós não temos feito diagnóstico suficiente para identificar a variante, estamos sem informação para corroborar. Porém tem havido um fenômeno generalizado de aumento de casos após o Natal, pelo que converso com colegas e vejo no cotidiano
Evaldo Stanislau, infectologista do Hospital das Clínicas
Para ele, a aparente "falta de gravidade" da variante ômicron deve ser observada com cautela, principalmente porque o Brasil vive um apagão de dados, que não permite acompanhar o cenário correto da doença no momento atual, e também porque ainda é cedo para fazer tal afirmação.
"A ômicron tem uma atenuação do impacto com vacinação robusta, mas ainda tem muita gente no Brasil somente com duas doses, ou que sequer tomou a segunda dose. Nesse espaço de vacinação incompleta, se a ômicron se espalhar com rapidez, pode ter impacto em internação e mortes."
Stanislau aponta impactos relevantes que a variante pode causar no Brasil. "Se o número de infectados pela ômicron for muito grande, mesmo uma baixa porcentagem de casos graves pode sobrecarregar o sistema de saúde." Outro fator de preocupação é um pico de casos no verão, época em que crescem infecções de dengue e chikungunya.
Para conter o avanço da covid, Stanislau avalia que as medidas devem ser: vacinação global simultânea, testagem em massa —inclusive em domicílio— e maior compreensão de empregadores, para que funcionários não trabalhem com sintomas gripais e a transmissão possa ser barrada.
Festas canceladas e adaptadas após teste positivo
Rodrigo, engenheiro de 34 anos, organizou por dez edições uma grande festa de Réveillon na sua casa, no bairro do Leme, na zona sul do Rio. O roteiro era um jantar com bebidas na casa, uma breve ida à praia para os tradicionais fogos da Praia de Copacabana e um retorno para continuar a confraternização.
No auge da pandemia, a festa foi cancelada, mas diante do avanço da vacinação, ele retomou os preparativos para este ano. Os planos, porém, foram interrompidos por uma dor no corpo que começou no dia 28. No dia seguinte, procurou uma farmácia para um teste rápido de covid. Diante do resultado positivo, cancelou a festa.
"Eu fiz uma obra em casa, que começou em agosto, para ficar pronta a tempo do Réveillon. No final, tivemos que cancelar tudo, devolver todo o dinheiro", disse ele, que preferiu não ter a identidade revelada.
Após comunicar o cancelamento aos 35 convidados e devolver a quantia arrecadada para decoração, comida e bebida, Rodrigo enfrentou mais um dia de sintoma. Hoje está bem, mas continua em isolamento.
A poucos metros da casa dele, outra festa também teve de ser adaptada. Na avenida Atlântica, uma festa particular foi planejada para 12 pessoas. Mas a dois dias do evento, uma testagem em massa para garantir a segurança dos convidados identificou metade dos convidados contaminados pela covid-19.
Como toda a bebida já estava comprada, a solução encontrada pelo grupo foi fazer outras festas, após o período de isolamento. Na noite de Réveillon, os seis "negativados" estiveram presentes. Durante o mês de janeiro, outra reunião está prevista —uma espécie de Réveillon fora de época.
"É um 'enterro dos ossos' ainda no início do ano. Está valendo", disse o dono da casa, que preferiu não ser identificado.
Na semana entre 11 e 17 de dezembro, a capital fluminense registrou 2.246 testes feitos, com taxa de 2% de positivos —ou seja, aproximadamente 45 casos. Na última semana do ano, entre os dias 25 e 31, o número de testes feitos quase triplicou: chegou a 6.430, com taxa de positividade de 6% — ou 386 casos.
Os testes positivos não são sinônimos da quantidade de casos positivos, pois há uma diferença entre a data do registro de casos e a data de diagnóstico da doença.
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