Topo

Novas internações dobram no estado de SP, mas oferta de leito covid cai 18%

Espera por atendimento no pronto-socorro da Lapa, em São Paulo, às vésperas do Natal - Herculano Barreto/UOL
Espera por atendimento no pronto-socorro da Lapa, em São Paulo, às vésperas do Natal Imagem: Herculano Barreto/UOL

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

09/01/2022 04h00

As novas internações em leitos reservados para covid-19 mais do que dobraram no estado de São Paulo em um mês, embora o fechamento de leitos tenha sido de 18% no mesmo período, revela pesquisa encomendada pelo UOL à Info Tracker, plataforma de monitoramento da pandemia das universidades estaduais USP e Unesp.

As causas para as internações são o rápido avanço da variante ômicron do coronavírus e o surto de gripe pela cepa H3N2.

"A rede [hospitalar estadual] tem total capacidade de absorção de novos casos da doença", afirmou em nota a Secretaria Estadual de Saúde. "Há 4.010 pacientes internados entre confirmados para Covid e suspeitos por SRAG, sendo a maioria em enfermaria com 2.596 pessoas."

Inicialmente restrito à região metropolitana (que inclui a capital paulista), o crescimento nas internações é notado agora no interior e Baixada Santista. O ritmo de internações aumentou 101% no interior, 155% na Baixada, 125% na região metropolitana e 115% na média estadual entre 1º de dezembro e 6 de janeiro.

A ômicron já representa 92,6% dos testes positivos para covid no Brasil, segundo o ITpS (Instituto Todos pela Saúde).

"O crescimento de internações é compatível com as novas ondas da ômicron nos demais países do mundo", alerta Wallace Casaca, professor da Unesp e um dos coordenadores da Info Tracker. "Se nada for feito nos próximos dias, grande parte da população do estado vai ser acometida pela ômicron ou influenza, ou ambas."

Cai oferta de leitos

Apesar do aumento nas internações, a queda de leitos para covid teve redução média de 18% entre 1º de dezembro e 6 de janeiro, ainda segundo a Info Tracker, que contabilizou a oferta de leitos estaduais, municipais e privados.

Novas internações crescem no estado de São Paulo - EBC - EBC
Novas internações crescem no estado de São Paulo
Imagem: EBC

Segundo o governo estadual São Paulo tinha na sexta-feira (7) ocupação média dos leitos reservados para covid-19 de 30,3% em UTI. "No pico da segunda onda, houve mais que o triplo de hospitalizados por covid-19, que chegou a ultrapassar 31 mil pacientes", diz.

Se o levantamento considerar o mês de novembro, a redução chega a 35%. Na capital, o fechamento de leitos municipais é ainda maior: queda de 78% de 1º de dezembro a 6 de janeiro, percentual que sobe para 88% quando comparado com os leitos oferecidos em 1º de agosto. Eram 846 vagas em UTI (Unidade de Terapia Intensiva), agora são 98.

"Como a redução na taxa de ocupação dos leitos covid se mantém estável, a Secretaria Municipal de Saúde adotou a estratégia da transição dos leitos para atender os pacientes clínicos não covid-19", afirmou a secretaria em nota. "A estruturação ocorreu gradativamente e foi norteada pelos indicadores e acompanhamento das ocupações e surgimento de novos casos."

"37% [dos leitos] estão ocupados, além de 240 leitos de enfermaria, com 44% ocupados", diz a pasta ao negar redução de leitos, que "podem ser redirecionados" em caso de necessidade.

Diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Renato Kfouri reclama das baixas taxas de diagnósticos e sequenciamento do vírus no Brasil, além do "déficit de informação" depois do ataque hacker contra o sistema de dados do Ministério da Saúde.

Ele diz que o apagão de dados dificulta precisar se é a ômicron ou a H3N2 a principal responsável pelo aumento de internações no estado. Ele lembra, porém, que os surtos gripais duram de quatro a seis semanas no verão, "enquanto o coronavírus resiste bem mais —convivemos com ele há dois anos".

Sem dados, estamos no escuro. Infelizmente a gente testa pouco, notifica pouco e as informações sobem tarde no sistema. São dados importantíssimos para a condução da pandemia."
Renato Kfouri, diretor da SBIm

Casaca, da Info Tracker, concorda. "A estratégia adequada é monitorar e analisar continuamente os microdados, mas como não há políticas de testagem massiva por aqui, o número de infectados pode ser astronômico no país."

Ocupação de hospitais

À medida que a H3N2 e a ômicron avançam, hospitais registram aumento nas internações. Voltado ao tratamento de SRAGs não causadas por covid, o Hospital Municipal da Brasilândia, na zona norte, abrigava 121 pacientes em UTI na última terça-feira (4), uma taxa de ocupação de 64%.

Segundo a Info Tracker, as internações em UTI também crescem em outros hospitais:

Hospital General Jesus Teixeira da Costa Guaianases São Paulo
1/12:
42 internados
5/1: 56
Aumento: 33%

Hospital das Clínicas/Instituto do Coração Incor São Paulo
1/12: 25
5/1: 40
Aumento: 60%

Hospital Municipal de Diadema
1/12: 10
5/1: 40
Aumento: 300%