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Barra Torres: 'Seria melhor enfrentar pandemia com apoio de Bolsonaro'

11.mai.2021 - Diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, durante depoimento à CPI da Covid; presidente Jair Bolsonaro atacou agência após liberação da vacina contra covid-19 para crianças - Jefferson Rudy/Agência Senado
11.mai.2021 - Diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, durante depoimento à CPI da Covid; presidente Jair Bolsonaro atacou agência após liberação da vacina contra covid-19 para crianças Imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado

Do UOL, em São Paulo

12/01/2022 08h39

O diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, afirmou que seria "muito melhor" enfrentar a pandemia com o apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL), que se contrapõe às ações do próprio governo.

A declaração foi feita em entrevista à jornalista Andreia Sadi, da GloboNews.

"Quando a gente vê algum posicionamento do presidente que se contrapõe ao que o próprio governo dele está fazendo, porque é o que está fazendo, isso é fato simples e claro. Quem está vacinando é o ministério", afirmou. "Se houvesse também uma sinalização mais clara no sentido de que isso [a vacinação] é importante e que a gente consegue sair dessa crise assim, sem dúvida nenhuma seria muito melhor, seria muito bom".

Barra Torres também falou sobre as ameaças que os integrantes da Anvisa têm recebido após o presidente falar em divulgar os nomes dos servidores que aprovaram a vacinação contra covid-19 para crianças.

"O que ocorre é que esse número todo que você fala, que é um número significativo, ele vem depois da fala do presidente que gostaria de ter a lista de nomes para que as pessoas formassem o seu juízo. No dia seguinte, chegaram 120 ameaças aqui, aproximadamente", disse ele, acrescentando que a Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República já investigam essas tentativas de intimidação.

"Isso teve impacto muito negativo, gerou impacto na nossa coletividade muito ruim, que já tem muito trabalho a fazer e ainda ter que se preocupar com olhar sobre os outros?", disse. "Soma uma dificuldade imensa ao trabalho da instituição, ao trabalho da agência".

A vacina infantil contra covid-19 aprovada é a da Pfizer, cujo efeito foi avaliado em milhões de crianças e já é usada na faixa etária entre 5 e 11 anos em mais de 30 países.

Bolsonaro e Anvisa

Após a Anvisa aprovar a vacinação contra covid-19 de crianças entre 5 e 11 anos, o presidente Jair Bolsonaro minimizou as mortes nesta faixa etária e insinuou que algum interesse da agência teria baseado a decisão.

"Você vai vacinar o teu filho contra algo que o jovem, por si só, uma vez pegando o vírus a possibilidade dele morrer é quase zero? O que que está por trás disso? Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí? Qual o interesse daquelas pessoas taradas por vacina?", questionou o presidente em entrevista.

Dados do Sivep-Gripe, base de dados do SUS (Sistema Único de Saúde), porém, mostram que ao menos 301 crianças e adolescentes de 5 a 11 anos morreram no país em razão da doença desde março de 2020. No total, foram 6.163 casos confirmados.

Dias depois, Barra Torres respondeu as acusações em uma carta pública, em que diz ao presidente que determine a investigação da Anvisa caso saiba de alguma corrupção —ou peça desculpas pelas declarações.

Na segunda-feira (10), Bolsonaro negou ter acusado o chefe da agência de corrupção e disse que a carta era "agressiva". Na mesma entrevista, porém, disse que "não há a menor dúvida de que tem alguma coisa acontecendo" na Anvisa.

Leia, na íntegra, a nota divulgada por Antonio Barra Torres:

Em relação ao recente questionamento do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, quanto à vacinação de crianças de 5 a 11 anos, no qual pergunta "Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí?", o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, responde:

Senhor presidente, como oficial-general da Marinha do Brasil, servi ao meu país por 32 anos. Pautei minha vida pessoal em austeridade e honra. Honra à minha família que, com dificuldades de todo o tipo, permitiram que eu tivesse acesso à melhor educação possível, para o único filho de uma auxiliar de enfermagem e um ferroviário.

Como médico, senhor presidente, procurei manter a razão à frente do sentimento. Mas sofri a cada perda, lamentei cada fracasso, e fiz questão de ser eu mesmo, o portador das piores notícias, quando a morte tomou de mim um paciente.

Como cristão, senhor presidente, busquei cumprir os mandamentos, mesmo tendo eu abraçado a carreira das armas. Nunca levantei falso testemunho.

Vou morrer sem conhecer riqueza, senhor presidente. Mas vou morrer digno. Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo fazer isso, à frente da Anvisa. Prezo muito os valores morais que meus pais praticaram e que pelo exemplo deles eu pude somar ao meu caráter.

Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, senhor presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa, aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar.

Agora, se o senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate.

Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente.

Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Muito pelo contrário.

Antonio Barra Torres
Diretor Presidente - Anvisa
Contra-Almirante RM1 Médico
Marinha do Brasil