Ana Escobar: Burocratizar os autotestes coloca em xeque controle da covid
A médica pediatra Ana Escobar disse hoje que o governo precisa otimizar o processo de autotestagem a fim de manter o controle sobre o número de casos da covid-19 no país. Isso porque, em caso de diagnóstico positivo, o paciente precisa buscar um posto de saúde para que a notificação seja oficializada.
"Esse processo não pode ser burocrático, senão a gente cai numa situação em que as pessoas com sintomas da doença precisam ficar horas esperando na fila de um posto de saúde para obter um resultado. é preciso informatizar esse processo. Temos a tecnologia a nosso favor. Há de se ter gestão, organização e inteligência no processo de notificação", afirmou ao UOL News.
A distribuição dos autotestes deve ser concentrada nas farmácias, que deverão orientar os consumidores sobre os procedimentos para realização do exame.
"A gente só consegue ter controle de uma situação descontrolada quando a gente tem certeza de quem esta ou não contaminado. Se uma pessoa com sintomas consegue fazer um teste, a gente saber se ela está infectada ou não. Se tiver, ela se isola. Os autotestes são essenciais para gente tentar evitar essa onda de contaminação que agente está tendo agora", disse Ana.
Os autotestes são diferentes dos exames de antígeno oferecidos atualmente nas farmácias e têm um grau de acerto mais baixo. Ainda assim, são vistos como uma ferramenta auxiliar importante de controle da pandemia.
"São ferramentas tão importantes quanto os outros testes porque dão tranquilidade às pessoas de se testarem sem precisar esperar horas numa fila de pronto de socorro. Pessoas com sintomas leves não vão ficar tanto tempo em filas e isso compromete o controle da pandemia no país", destaca a médica.
O Ministério da Saúde deve entregar hoje à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informações solicitadas pelo órgão acerca da regulamentação do meio de testagem. A expectativa é que a reguladora possa marcar nova reunião de diretoria para deliberar sobre o tema.
Na semana passada, a Anvisa rejeitou, por maioria, a aprovação imediata do autoteste. Em reunião na última sexta-feira (21), o órgão pediu detalhes sobre o funcionamento do autoteste e destacou a importância de uma política pública específica.
Como é o procedimento
Indo mais fundo ou não, depois de introduzir o swab, você precisa girar — e girar umas cinco vezes, no mínimo! —para que a fibra existente em sua ponta esfregue bem a mucosa, arrancando algumas células dali. "Não adianta dar umas leves cutucadinhas e tirar esse cotonete comprido depressa. Não à toa, o nome correto da técnica é raspado nasal", conta Carolina Lázari.
No kit de qualquer autoteste de covid-19, vem ainda uma solução, geralmente em um tubinho no qual você irá, na sequência, mergulhar o cotonete. "Nesse instante, o fundamental é dar uma boa sacudida, como se fosse fazer um shake", descreve a médica. "Você deve agitar bem para que as células, que ficaram presas na extremidade do swab, se desgrudem e caiam no líquido."
Esse diluente, por sua vez, é capaz de separar as proteínas do vírus, se por azar as células da amostra estiverem infectadas. E só assim elas poderão ser deduradas.
Depois de um tempo, informado na bula, quando se presume que as proteínas virais já foram separadas, você só vai pingar algumas gotas do líquido no dispositivo que faz o teste propriamente dito. A resposta, então, chegará em dez a vinte minutos.
Na hora da verdade
Na maioria das vezes, o dispositivo do autoteste é uma placa — lembrando um "sabonetinho", pelo olhar da doutora Carolina —, com área pronta para receber as gotas da amostra diluída. Dentro dela, há uma fita. Como ela feita é de papel filtro, o líquido cheio de células vai sendo absorvido.
No meio do caminho, porém, ele topa com reagentes que simplesmente acusarão algo como "opa, existem proteínas de células aqui". Sinal de que você raspou direito — não colheu só meleca e coriza — e que o teste está funcionando. É quando surge um traço ao lado de onde se vê a letra "C", de "controle".
"Se, passado um tempinho, esse primeiro traço não aparece, não adianta seguir. Você precisa recomeçar do zero, colhendo de novo a amostra e usando outro kit", orienta a infectologista.
Seguindo e encharcando cada vez mais o papel-filtro, a amostra diluída alcança então um pedaço da fita que está impregnado de anticorpos específicos para o Sars-CoV 2. "Eles foram desenhados pela pescar proteínas do vírus da covid-19 que estiverem ali, naquele líquido", explica a médica.
Ligados a esses anticorpos, há reagentes capazes de gerar cor. Daí o nome do processo: imunocromatografia: quando os pedacinhos do vírus se grudam nos anticorpos, aparece um traço visível ao lado da letra P, de positivo.
Segundo Carolina Lázari, a diferença dos kits de autoteste para os testes de antígenos realizados por profissionais de saúde é que, além de trazerem orientações claras sobre o passo-a-passo, cada instrumento foi criado para facilitar o manuseio e a leitura do resultado. Sem contar que precisam ser mais estáveis — por exemplo, a mudanças de temperatura.
Acertar em cheio na data
A gente já conhece a dinâmica da covid-19: o vírus vai se replicando e se espalhando um ou dos dias antes dos sintomas e, após o aparecimento destes, alcança o seu pico lá pelo segundo ou terceiro dia. A partir daí vai diminuindo sem parar, podendo cair para menos da metade após o quinto dia.
O autoteste, nesse ponto, não é diferente dos outros: não pode ser feito logo depois da a pessoa passar um único dia tossindo ou com dor de garganta. O resultado precoce costuma ser errado. Por outro lado, não dá para esperar demais.
Mais sensível, o teste da PCR flagra o Sars-CoV2 até o sétimo dia após o início dos sintomas. "Mas o resultado de um autoteste, assim como o de qualquer outro teste de antígeno, já fica comprometido depois do quinto dia, quando quantidade de vírus será insuficiente para ele", afirma a doutora Carolina. " Há o risco, então, de a pessoa seguir com rotina, acreditando em um resultado negativo totalmente falso."
Aliás, por isso mesmo, em princípio o autoteste não foi criado para pessoas assintomáticas. Não que elas não possam ter cargas virais altíssimas, sendo importantes na cadeia de transmissão da covid-19. "É que, sem sintomas, a gente acaba perdendo o referencial para calcular qual seria aquele dia em que a quantidade de Sars-CoV 2 estaria nas alturas", explica a infectologista. Lembre-se: esse seria o terceiro dia após os sintomas.
"Daí que o autoteste não é para você ter em casa a fim fazê-lo antes de visitar uma avó idosa, por exemplo", diz a doutora Carolina. "Para ele dar a resposta certa, você teria de acertar naquele período próximo do pico da replicação viral", reforça.
Claro, no caso de assintomáticos, o teste pode ser feito se você sabe a data exata em que se encontrou pela última vez com alguém que acabou sendo diagnosticado com a covid-19. Aí, seria preciso considerar cinco ou seis dias de incubação — embora, tudo indica, ômicron só fique incubada uns três ou quatro dias, para confundir — e somá-los àqueles três dias. Moral: deixe para fazer o autoteste entre cinco e sete dias depois.
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