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Lava Jato: PT não deve pedir CPI para apurar atuação de Moro em consultoria

Weudson Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Brasília

25/01/2022 10h03

O PT não deve pedir a instauração de CPI para apurar possível caso de corrupção nos serviços prestados pelo ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro à consultoria norte-americana Alvarez & Marsal, sinalizou hoje a presidente nacional da sigla, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR).

"Não vejo necessidade de CPI para a gente chegar a essas informações", destacou a congressista em entrevista ao UOL News.

Em 8 anos, a receita no setor de falências da companhia foi de mais de R$ 83 milhões. Desse valor, segundo apurou o UOL, 78% vieram de empresas que quebraram por causa da mesma operação que catapultou Moro à vida pública enquanto ele era juiz em Curitiba. O TCU (Tribunal de Contas da União) investiga o caso.

A deputada afirma que a bancada da sigla na Câmara dos Deputados deve deliberar sobre o assunto nos próximos dias.

"Estamos fazendo estudos jurídicos. Como esses processos envolvem falências de empresas, precisamos saber se juridicamente a gente poderia instalar CPI sobre isso", disse Gleisi. "Esperamos que o TCU compartilhe conosco os documentos sobre o caso."

A declaração da petista vem um dia depois de o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) afirmar que recolherá assinaturas para que a Câmara dos Deputados instale uma CPI com o objetivo de investigar suposto "conflito de interesses" na atuação de Moro junto à empresa.

A administradora judicial não revela quanto pagou a Moro pelos serviços, devido a compromisso de confidencialidade firmado entre as partes. Para Gleisi, o sigilo é sintomático de uma "relação nebulosa" que, na avaliação dela, o ex-juiz construiu com a empresa.

"Fico espantada que ele não venha a público dizer quanto ganhou. Ele sempre pregou transparência. Quebrou o sigilo do ex-presidente Lula e de tanta gente para supostamente dar transparência... É engraçado que ele não queira falar sobre isso", disse a deputada.

Moro prestou serviços à área de "disputas e investigações" da empresa, onde trabalhou por cerca de um ano até outubro de 2021. O ex-juiz deixou a empresa para se tornar pré-candidato à Presidência da República pelo Podemos.

Ao UOL, a Alvarez & Marsal afirmou que Sergio Moro foi contratado para compor uma unidade da empresa que não teve resultado incrementado por conta de projetos de reestruturação.

"A Alvarez & Marsal prestou todos os esclarecimentos solicitados pelo TCU de forma tempestiva e colaborativa, sendo que o parecer técnico do TCU demonstrou não haver nenhum tipo de conflito", afirmou a companhia.

Na prestação de contas, a consultoria norte-americana lista 23 empresas em processo de recuperação judicial ou falência. Dessas, ao menos 6 estiveram envolvidas na Lava Jato:

  • Odebrecht/Atvos: R$ 33,2 milhões;
  • Banco BVA: R$ 22,5 milhões;
  • Grupo OAS: R$ 5,8 milhões;
  • Queiroz Galvão: R$ 3,3 milhões;
  • Enseada: R$ 172,5 mil,
  • Agroserra: R$ 120,0 mil.

Chapa Lula-Alckmin

Gleisi desconversou sobre a possibilidade de o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin formar chapa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições deste ano.

"Aliança com Alckmin ainda não é realidade. A prioridade agora é fechar federação partidária. Estamos conversando com PSB, PCdoB e PV. A discussão sobre o vice vai ser decorrência desse processo. O que queremos agora é fechar essa federação."

Ela nega que as conversas de Lula signifiquem uma guinada de Lula ao campo político permeado pelo centro e pela direita.

"Fomos adversários do PSDB por anos. Ocorre que tivermos um problema no meio do caminho: Jair Bolsonaro (PL), que ataca as instituições democráticas. O ex-presidente Lula buscou conversar com todas as lideranças políticas", disse.

Segundo Gleisi, o PT tenta costurar alianças políticas —e não eleitorais.

"A primeira conversa foi com FHC e depois com Tasso Jereissati, Aloysio Nunes e Alckmin, mas também com lideranças de outros partidos, como os do Centrão. Queremos resgatar a política como instrumento da democracia", afirmou a presidente do PT.

Sem perspectiva de 1º turno

"Não trabalhamos com essa perspectiva", disse Gleisi, questionada se vislumbra uma vitória de Lula em primeiro turno nas eleições deste ano. Segundo ela, ainda é cedo para avaliar o cenário.

"O PT tem disputado todas as eleições de 1989 até aqui —e nunca tivemos uma eleição de primeiro turno, apesar de estarmos sempre bem nas pesquisas. Temos que derrotar o bolsonarismo e apresentar outra proposta de desenvolvimento para o Brasil", afirmou a congressista.